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(Foto: Carla Carvalho)
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(Foto: Carla Carvalho)

(Foto: Carla Carvalho)

É noite, as ruas estão vazias, não há ninguém e, quando há, a presença incomoda. Passos apressados, pupila dilatada, acelera mais o andar, olha para trás, acelera mais um pouco, olha para os lados, apressa mais o passo, olha mais uma vez, não para, pensa em tragédia, acha que será a vítima da vez. Chega ao destino e respira. Ufa, hoje foi mais um dia!

O relato é eufórico e a realidade é cruel. Ao contrário do que muitos almejam, o medo e a insegurança não ficam apenas em histórias fictícias. O diálogo interno das sensações ruins faz parte da rotina de milhares de brasileiros. Muitos são os trabalhadores que saem de seus lares não sabendo como retornarão. Vive-se em um mundo onde o medo está presente em cada metro andado, em cada esquina virada, em cada ponto ou tubo de ônibus frequentado.

As pessoas andam pelas ruas ouvindo que o cuidado deve ser redobrado. Ouvem que não podem andar com o celular ou com uma roupa que chame muita atenção. Elas são aconselhadas a não usarem objetos de alto valor. Os cidadãos têm medo de pegar ônibus e ao comprar um carro se obrigam a pagar seguro. Neste último caso, o serviço não serve só para roubo, mas é o principal objetivo dos consumidores ao adquirir o serviço.

Vivemos em um país onde se paga para ter segurança. É alarme em carro, vigias contratados, sistema de segurança em casas e apartamentos, seguros contra furtos para diversos tipos de produtos. Usamos até animais para proteger a residência – e ainda daqueles que são treinados para tal utilidade. O “ufa” só é solto com alívio quando está do portão para dentro, antes disso é o medo de ser feito refém na própria casa.

Andamos por ruas e lugares com olhares desconfiados. Se alguém senta ao seu lado e te faz perguntas simples, a primeira ideia é negativa. Sequestro, roubo, perseguição. Somos aconselhados a não falar com estranhos desde crianças, crescemos evitando as pessoas. O incômodo se exalta quando alguém encosta em você ou faz muita questão de saber detalhes pessoais. Várias vezes nada acontece, mas o medo já é o suficiente para ser algo ruim.

Quando não há contato, seja verbal ou tato, o medo é mútuo. O mesmo olhar tenso que você oferece para pessoa, ela te retribui.  Notamos isso facilmente quando estamos andando. O olhar preocupado para trás recebe um de volta em mesma proporção. O significado é o mesmo. Quando estamos nos ônibus, a situação não é diferente. Transporte vazio, clima de tensão. Se há um conhecido indo para o mesmo destino, o consolo se reflete com um sorriso ou um semblante de calma.

Até alguns anos atrás, essa realidade era mais mascarada e em proporções menores. Tinham horários e lugares de risco. Hoje, as pessoas têm medo de ir para o trabalho ou para a escola sejam aonde for e o horário que for. De tirar o carro da garagem ou de fazer uma caminhada no parque. De comer um cachorro quente na rua ou de ir a um restaurante. Somos a geração da insegurança. Vemos relatos e mais relatos de crueldades sendo cometidas à luz do dia e nada sendo feito. Os cidadãos suplicam por paz.

Sentimo-nos cada vez mais sem liberdade. A autonomia é acometida pelos exemplos diários de barbaridades expostos na mídia. Estamos a cada dia mais presos nos nossos próprios medos. E, se engana quem pensa que somos reféns apenas dos marginais à solta. Somos povos que pagam pela irresponsabilidade dos governantes. Colhemos o fruto da má administração das cidades, estados e país. Percebemos o quão preso estamos quando ficamos com trauma de ir a lugares essenciais como restaurantes e mercados.

Vamos ao estabelecimento com a impressão de que um tiroteio ou um arrastão podem acontecer a qualquer momento. A revolta piora quando não temos mais o direito do lazer respeitado. Podemos presenciar uma briga de gangues ao frequentar um shopping, por exemplo. Reféns de todo esse medo, quase perdemos a esperança quando vamos exigir melhoria às autoridades e nada é feito. Os registros, em sua maioria, ficam no papel e os boletins de ocorrência são arquivados. Será mesmo que devemos perder a esperança e deixar toda uma história de luta por liberdade ir por água abaixo? Somos livres e esse é o nosso direito. Nós só queremos segurança!

*Artigo escrito por Carla Carvalho, estudante de Comunicação Institucional na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e colaboradora do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM). Carla contribui voluntariamente no blog Giro Sustentável.

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