O trabalho voluntário é um dever de consciência social e um nobre exercício de cidadania. É uma via de mão dupla. Leva dignidade, autoestima e bens materiais à comunidade atendida, dando como retorno a transformação interior, o prazer de ser útil e a incorporação de uma experiência valorizada por todos, inclusive pelo mercado de trabalho. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana” – se faz oportuno Franz Kafka.
Muito se ensina às crianças e jovens sobre valores nas escolas, famílias, igrejas e templos. Via de regra, o jovem é generoso, mas lhe falta iniciativa e uma maior responsabilidade social. Numa pesquisa que realizamos com 1900 alunos de três escolas de Curitiba, constatamos que apenas 8% dos jovens participam de ações comunitárias. No entanto, 71% gostariam de participar, mas não sabem como. Assim, estamos muito aquém dos países da Europa, EUA e Canadá, onde a inserção dos jovens em projetos comunitários é robusta: de 40% a 62%.
A solidariedade se incorpora com a prática, pois pequena é a eficácia quando fica restrita apenas aos ensinamentos dos pais e professores. No Brasil, são centenas de milhares de jovens bem instruídos, bem nutridos, com tempo disponível, enclausurados em suas torres de marfim – condomínios, colégios, clubes, shoppings e smartphones –, no entanto alheios aos problemas sociais e desconhecedores da realidade da periferia de sua cidade.
Ter sido um ator social é relevante em um currículo. As empresas entendem que esse candidato é colaborativo, mantém bons relacionamentos, sabe se doar, desenvolve mais celeremente a liderança e não se apequena diante das vicissitudes.
Confirmam as pesquisas científicas que a ação generosa reduz a ansiedade, a depressão e revigora os praticantes em bem estar, saúde, pois libera a endorfina. Ensina a sabedoria popular que não há melhor exercício para o coração do que se inclinar e levantar pessoas.
Fazer o bem é uma excelente terapia. É a benfazeja prática da ‘voluntarioterapia’. “Meu psiquiatra deve ter detestado as ações comunitárias que faço, pois deixei de tomar remédios e o dispensei” – confessa emocionada, em tom de blague, a Prof.ª Marli, pois assim que se aposentou passou por um período de apatia e profunda tristeza. Foi então que se engajou em um projeto que desenvolvemos em parceria com algumas construtoras de Curitiba, preparando os funcionários para os exames da EJA. Com a participação de adolescentes e por iniciativa nossa, muitos foram os trabalhos voluntários praticados em escolas públicas de periferia, creches, asilos. Dessa rica experiência, colhemos depoimentos comoventes, como o de Susan: “Saí da zona de conforto e arregacei as mangas. Estou cansada, mas feliz. Aprendi a ser mais humana e mais humilde.”
A premissa básica do voluntariado é “servir o outro”. Motivações para isso são abundantes. Cidadania? O prazer de ser útil? Uma experiência reconhecida? ‘Voluntarioterapia’? Religião? – afinal você só leva aquilo que dá. Finalizo com as palavras da Madre Tereza de Calcutá: “as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam.”
*Jacir J. Venturi é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR) e foi mentor e coordenador do Projeto Amo Curitiba – Ações Voluntárias, que desenvolveu 780 projetos comunitários em creches, asilos e escolas públicas de periferia, por meio de um grupo de escolas privadas e o Sinepe/PR. O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.
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