Amigos & Cerveja

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Por Francis Bacon

Eu adoro carneiro. É, sem sombra de dúvida, minha carne favorita. Carneiro. Meu nome completo, poucos sabem, é Francis Carneiro Bacon (o que me torna praticamente um canibal). Quando ia a churrascarias, antes mesmo de pedir a bebida já perguntava ao garçom se estava saindo um carneirinho. Ia só pra isso às vezes. Deixava passar os mignons, alcatras e cupins e aguardava ansiosamente a vinda de algum corte deste animal bíblico, a toda hora apontando o dedo pra cima e perguntando se já estava pronto. Carneiro. Adoro.

Isso no tempo em que eu frequentava churrascarias por causa do bicho. Os amigos da BG provavelmente sabem que trata-se de uma carne difícil de preparar, requer tempo e calor exatos pra não virar borracha e um bom tempero pra não ficar muito adocicada. E a maioria dos rodízios que conheci eram como uma loteria: por melhor que fosse o padrão do local havia uma grande chance do carneiro sair errado, cinza e intragável, o que pra mim era profundamente decepcionante. Mas há alguns anos fui apresentado a um restaurante no Portão que resolveu esse problema na minha vida, o Amigos & Cerveja, do gaúcho Paulo Cansi.

Antes de entrar em detalhes do cardápio, um pouco da história do ‘Amigos’. Paulo era contador em Passo Fundo (RS), e veio a Curitiba nos anos 80 para exercer essa função em uma empresa terceirizada dentro da refinaria da Petrobrás, em Araucária. Mas havia um problema, a firma não tinha convênio com o refeitório, o que obrigava os cerca de setenta funcionários a levar diariamente a “quentinha” de casa. Os solteiros, coitados, comiam pão com mortadela e guaraná quente. Foi aí que Paulo e sua esposa Cristiane tiveram a idéia de vender marmitas pra essa turma como forma de complementar o orçamento de casa. E deu tão certo que até uma parte do pessoal que ia ao refeitório passou a encomendar a comida deles. Em pouco tempo, Paulo largou a carreira na contabilidade para se dedicar somente à cozinha. Começou a aprender mais e mais, adquiriu prática na churrasqueira como assador em eventos que ajudavam a financiar o extinto Colorado Esporte Clube e, em 1987, juntou as economias pra abrir o restaurante Garrafão, mais tarde rebatizado com o nome que ostenta até hoje.

O esquema do lugar é simples, como deve ser toda BG. Paulo cuida do fogo, Cristiane chefia a cozinha e suas filhas, Pâmela e Paola, atendem a clientela e o caixa. Funciona de quarta a sexta das 18h à 00h, aos sábados para o almoço e aos domingos somente para encomendas. As carnes são vendidas por peso, e o restante do cardápio em porções. Tudo é muito bem preparado, risoto de frango, saladas diversas, aipim e polenta crocantes, feijão cavalo e maionese. Do carvão sai alcatra, picanha, chorizo, uma calabresa apimentada especialíssima, assada aberta (ou “espalmada”, conforme descreveu o gaúcho) e uma costela de porco à pururuca simplesmente espetacular. Às quintas feiras Cristiane prepara “pratos de inverno”, dependendo do dia pode ser uma rabada, uma galinhada caipira ou ambos. Às sextas é noite de costela, aos sábados e domingos tem de tudo e às quartas… o carneiro.

Ah, o carneiro. A especialidade da casa. A verdadeira vocação do Paulo, na minha opinião. Sempre no ponto exato. Sempre primorosamente temperado. Sempre excelente. Paleta, filé de pernil, carré, costela e um french rack superior ao de qualquer chef de TV a cabo. Se preparar carneiro é uma arte, Paulo é um Cézanne, um Mendelssohn, um Drummond da churrasqueira e sua obra, como a destes imortais, é ao mesmo tempo simples e complexa. Pergunto a ele o segredo e a resposta é imediata: fornecedor. Paulo trabalha exclusivamente com peças de cordeiro novo, vindos diretamente de um ovinocultor especializado do Rio Grande do Sul. Mas eu sei que não é só isso. É uma espécie de dom, sei lá.

(Já mencionei o quanto eu gosto de carneiro?)

Querem uma dica? Vão ao Amigos & Cerveja em bando. Peçam um pouco de cada prato, e experimentem tudo. Depois voltem em outros dias e dediquem-se a cada um separadamente. Se há alguma coisa no mundo que este humilde empirista pode garantir, é que de lá nenhum entusiasta da BG sai arrependido. Carregado talvez, arrependido nunca.

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Serviço:

Amigos & Cerveja

Rua Capiberibe, 1911 – Portão (veja no Mapa da Baixa Gastronomia)

(41) 3018-7154

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