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Quantos são e onde estão os deficientes de Curitiba?
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Como pontapé inicial da discussão sobre inclusão, pensei em levantar alguns números sobre a deficiência em Curitiba e achei que eu venceria o assunto em uma postagem só. Ingenuidade minha. Tentar descobrir quantos deficientes a capital paranaense tem e depois separá-los em categorias é tão difícil que eu decidi transformar esse levantamento em uma minissaga. Sorte que eu não estou sozinho nessa problemática.

O dado mais preciso que temos circulando é do Censo populacional de 2000. (Estamos a 79 dias para o início das pesquisas do próximo levantamento). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou que, no Brasil, 24,5 milhões de pessoas (14,5% da população) têm algum tipo de deficiência, desde alguma dificuldade para andar, ouvir e enxergar, até as graves lesões incapacitantes. Foram detectados, nesse total de 24,5 milhões, 48% de pessoas com deficiência visual, 23% com deficiência motora, 17% com deficiência auditiva, 8% com deficiência intelectual e 4% com deficiência física. A metodologia adotada incluiu, na contagem, muitos idosos que apresentavam dificuldades para se locomover, ver ou ouvir. Ao considerar apenas as pessoas com limitações mais severas (autopercepção de incapacidade), o percentual encontrado foi de 2,5% do total da população, ou seja, 4,3 milhões de pessoas.

Em um gráfico, a coisa ficaria mais ou menos assim:


A Secretaria de Educação Especial, do Governo Federal, divulgou em 2006 o relatório Números da Educação Especial no Brasil. Lá, podemos observar dados relacionados ao número de matrículas de alunos com algum tipo de deficiência, na rede pública ou particular, na escola especial ou comum. A Região Sul apresentou em 2005 mais de 133 mil alunos com deficiência matriculados, sendo que a maioria, cerca de 93 mil, matriculou-se em escolas especiais. Do número total de matrículas de 2005 (640.317), 60% foram em instituições públicas.

Um dos gráficos publicados pela Secretaria é esse:


Agora, quando tentamos trazer o número mais para perto de casa, a busca fica mais complicada. Curitiba conta com ONGs, associações, escolas especiais e institutos que oferecem diversos tipos de serviços à pessoa com deficiência e o ponto comum entre alguns desses órgãos é que cada um lida com as estatísticas que estão ligadas ao universo de atendimento de cada um.

É o caso da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Curitiba. Secretarias e ministérios oferecem números nacionais sobre educação especial, ou sobre a deficiência mental, mas, ao lidar no dia a dia com o atendimento, as estatísticas mudam. “Nós realizamos uma média de 669 atendimentos diários, mas não buscamos o número geral da cidade. Estamos abertos à população e o nosso contato com o público-alvo é por meio da procura deles”. Comenta Waldinei Wzorek, supervisor administrativo da APAE Curitiba.

Mônica Alves, diretora do Centro de Atendimento de Educação do Instituto Paranaense de Cegos (IPC), traz outra contribuição: “Ao controlarmos o nosso atendimento, realizamos uma triagem, tendo uma ficha cadastral de quem nos procura. Ali conseguimos levantar quem é a pessoa e onde ela mora”. Achei essa metodologia interessante, porque pode ser o início da construção de um mapa da deficiência visual em Curitiba.

A deficiência física também não escapa da variação numérica. A Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) encontra divergências quando tenta buscar dados fora da associação. “Já tentamos buscar até em hospitais, mas eles também não têm um levantamento. Os grupos que trabalham com deficientes sempre terão os seus próprios números, sem ter relação direta com os números curitibanos”, comenta Mauro Nardini, presidente da ADFP. Ele ainda sugere: “Seria interessante termos uma ficha cadastral municipal”.

“Toda a criança com deficiente precisa estar na escola, independente do quadro”. A afirmação é da doutora Angelina Matiskei, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Angelina também comenta as diferenças entre números federais e municipais. “Precisamos ter em mente as diferenças de metodologia de contagem, as diferenças de contextos sociais e particularidades de cada política”, disse.

A conversa com a doutora Angelina aconteceu no Colégio Estadual para Surdos Acindo Fanaya Júnior – EIFM e me fez pensar em outro ponto. Ali há muitos alunos surdos e é possível ter uma ideia de quantos surdos há em Curitiba, mas haveria uma lacuna. E os que não estão matriculados? E os que nunca ouviram falar no colégio?

Isso acontece em todos os ambientes. Enquanto as entidades e escolas trabalham, focam-se naquele mundo e isso é natural. Cada um no seu quadrado. Mas onde estão as crianças, jovens e adultos que não estão em quadrado nenhum? As pessoas com quem eu conversei me disseram que elas têm controle de quem as procura. Por que é difícil encontrar o número total de cada deficiência?

As famílias não conhecem as entidades?
Os deficientes não as procuram?
Existe uma timidez velada?
Podemos falar na invisibilidade do deficiente?

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