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Quais as diferenças entre a direita e a esquerda?
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Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver

(Cazuza/Frejat)

 

 

Em tempos de prosperidade econômica a política (e suas ideologias) se torna assunto de segunda importância. Ao final do governo FHC e início do mandato de Lula dizia-se que não existia diferenças entre os projetos políticos de ambos. Na verdade, existiam sim. Porém, como os tempos eram de crescimento da economia, as questões ideológicas se diluíram em meio aos números do PIB e da renda per capita.

Nada como uma crise para se retomar discussões temporariamente adormecidas, como a velha distinção entre direita e esquerda. Como estamos despertando para este assunto, muitos ainda estão sonolentos e propagam uma caracterização degenerada destes opostos.

Muitos dos que se dizem de direita apresentam a esquerda como o comunismo, que levaria necessariamente à corrupção; a república dos pelegos. É a “esquerda caviar” (caso dos mais favorecidos na estrutura do poder) ou a turma do pão com mortadela (os militantes). Os que se dizem de esquerda apresentam a direita como o neoliberalismo, que se encaminharia para a opressão dos pobres, para o fortalecimento das elites (o que também seria uma forma de corrupção do bem-comum), para o conservadorismo. São os “coxinhas”.

No entanto, esta estratégia (crítica, no sentido pejorativo) negligencia alguns pontos importantes: a) qual é o conceito e o propósito mais sincero de cada vertente ideológica?; b) considerando este propósito, qual delas se aproxima à concepção de vida decente que cada pessoa tem?; c) dos políticos que se dizem isso ou aquilo, quais deles são realmente fiéis a estes ideais?; d) porque uma ideologia tende a ser mais justa ou mais adequada que outra?

Pois bem, algumas noções podem ajudar a aprofundar a reflexão.

Toda discussão sobre a justiça e o bem-comum trabalha com dois valores: a liberdade e a igualdade. Numa democracia moderna, diz-se que as pessoas devem ser consideradas livres e iguais (ou iguais e livres). No entanto, a ordem dos fatores altera o resultado da organização das instituições do Estado e do Mercado. Ou seja, há uma séria discussão sobre quais destes valores é prioritário: a igualdade ou a liberdade?

Os que respondem pela prioridade da liberdade (que é um valor individual) acreditam que ela não pode ser mitigada por qualquer tipo de intervenção, pois é do gênio, do talento (equipamentos inatos da pessoa = talentos naturais) e do esforço do indivíduo que advém o progresso social. Esta é a direita, que atribui ao Estado (mínimo) o papel de realizar (somente) a defesa dos direitos individuais. É desta matriz ideológica que advém as propostas de privatizações, redução dos gastos públicos e da carga tributária, fim dos programas assistenciais, etc.

Os que respondem pela prioridade da igualdade (que é uma relação/ comparação entre indivíduos) creem que ela se sobrepõe aos interesses individuais, pois mesmo aqueles que não causam um dano direto a alguém, ao valerem-se do seu poder econômico (sem qualquer restrição) tendem a piorar a condição das pessoas mais vulneráveis. Esta é a esquerda, que confere ao Estado (interventor) o papel de corrigir as desigualdades arbitrárias decorrentes das condições de nascimento, dos azares (involuntários) da vida, etc. Tal matriz ideológica propõem a estatização de serviços de educação, de saúde a fim de assegurar tais direitos sociais a todas as pessoas, o que gera o aumento de gastos públicos, da carga tributária, etc.

Nas próximas semanas, se o mundo da política não trouxer “novidades inesperadas”, será retomada a discussão sobre estas e outras ideologias.

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