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Papo reto com Frejat
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No próximo sábado, dia 24 de setembro Frejat chega a Curitiba para única apresentação  no Teatro Positivo com seu novo show “Frejat ao Vivo”. O repertório inclui lançamentos recentes como “O Amor É Quente” e a versão de “Só Você” que Frejat gravou para fazer parte da trilha sonora da novela “Totalmente Demais” , além de grandes sucessos de sua carreira como “Amor Pra Recomeçar”, “Segredos” e os grandes hits do Barão.

Na semana em que desembarca na cidade, e ainda abalado pela triste notícia da perda de seu grande amigo e companheiro de Barão Peninha, Frejat bateu um longo papo com o blog, onde fala sem rodeios sobre o cenário da música atual entre muitos outros assuntos. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre Frejat.

Música Urbana: Frejat, hoje olhando para trás a  sua carreira, você considera que a máxima “tem males que vem para o bem” se enquadra um pouco em sua trajetória? Pois o que parecia ser um desastre para a banda com a saída do Cazuza, afinal fez surgir um ótimo cantor e deu início a uma fase muito produtiva.

Frejat: Bem, nesse caso, acho que eu não conseguiria classificar entre males e bem mas eu hoje tenho um grande prazer em cantar, isso é realmente uma coisa que tem ficado claro para as pessoas que acompanham a evolução do meu trabalho como cantor. E o meu prazer em cantar é realmente cada vez maior. Eu que sempre fui um cara que amei tocar guitarra, e que poderia parecer que uma coisa concorreria com a outra, mas com os anos eu consegui desenvolver esse prazer, com as duas funções evoluindo junto. Mas eu entendo o que você quer dizer com essa pergunta. Sem dúvida foi uma situação muito triste para a banda naquele momento e criou um espaço que precisava ser ocupado. No fim deu tudo certo, mas na época não foi nada fácil não.

Música Urbana: Se você pudesse voltar no tempo. Tem alguma coisa que você se arrepende e gostaria de fazer diferente na trajetória da banda?

Frejat: Não, não me arrependo de nada. Aliás, pensando melhor me arrependo sim. Quando lançamos o disco “Rock’N Geral’, que veio na sequência de um disco que não deixava dúvidas que se tratava do álbum de uma banda de rock, que era o “Declare Guerra”. Mas no “Rock’N Geral” ele vai por uns caminhos que você fala, é tem rock, mas tem uma coisa ali, tem mais uma coisa ali, e isso naquele momento não foi legal. Nós tínhamos que ter sido mais explícitos, indiscutivelmente rock!   

Música Urbana: E quando você percebeu isso?

Frejat: Mais pra frente porque aí a gente percebeu que o disco não tinha funcionado porque as pessoas não estavam conseguindo ver naquele disco aquele rock em que o Barão Vermelho era considerado “A banda de Rock”. Mesmo depois da saída do Cazuza, Declare Guerra ainda mantinha muito essa sensação para as pessoas e de repente ali a gente foi tão diverso. A gente foi tão específico em alguns momentos para algumas coisas, algumas sonoridades que eu acho que aquilo ali, essa ficha cai pra gente como o próprio Carnaval, depois é um pouco do que a gente percebe do resultado do rock ideal e a gente fala “Não, a gente tem que fazer um disco pra ninguém ficar na dúvida de que na hora em que a gente sobe no palco o cacete come e a gente é aquela banda de Rock que pro Declare Guerra já tava prometendo”, entendeu? Já estava apresentando e aí a gente faz o Carnaval que é um disco indiscutivelmente Rock que vem com Pense e Dance e a partir dali a gente tem todo um retorno à cena roqueira.

Capa do álbum

Capa do álbum “Declare Guerra”

Eu acho que é assim, dentro das nossas estratégias como carreira eu acho que tenha sido talvez o único erro. No meu trabalho solo eu considero que tem um outro que seria no momento em que eu lancei meu segundo disco em vez de sair com a música Sobre nós dois e o resto do mundo a gente saiu com Eu preciso te tirar do sério. É uma música que eu gosto muito, mas eu acho que Sobre nós dois e o resto do mundo explicava melhor o disco do que Eu preciso te tirar do sério. Então as pessoas estavam ouvindo uma música como a primeira música do disco que não representava o disco como um todo. Sobre nós dois e o resto do mundo além de ser o título ele tinha mais do que o disco sugeria. Então eu acho que também foi um outro erro de estratégia. Mas acontece, né? A gente não acerta toda hora.

Frejat: É porque eu acho que Amor pra recomeçar foi muito certeiro, a música representava o disco, você ouvia a música e falava “Porra que legal! Se o disco for assim”, o disco era assim com todo a diversidade dele aquilo era um passo dava que já apresentava muito bem Eu preciso te tirar do sério mas ele não apresentava o Sobre nós dois.

Música Urbana: O que você escuta hoje em dia?

Frejat: Cara eu escuto muita coisa. Eu agora por exemplo já estou com ingressos comprados para ver Wilko, que é uma banda que eu adoro. Agora mesmo eu comprei, tenho ouvido muito o disco do Michael Kiwanuka, que é um cara inglês filho de nigeriano, que é um disco muito bonito.

Frejat: Esse disco agora do Kiwanuka chama Love and Hate que é produzindo pelo Danger Mouse. Como é o nome daquela banda que fez um grande sucesso que é um duo também, americano? Black…?

Música Urbana: Black Keys, não?

Frejat: Black Keys, exatamente! O Danger Mouse produziu os últimos discos do Black Kiss e agora produziu esse disco o último do Michael Kiwanuka.

Frejat: Apesar de eu não ser pianista eu também adoro piano, é uma onda que me agrada muito. E tenho escutado algumas coisas brasileiras que tem me agradado, eu gosto muito do Terno, um rock bem bacana.

Frejat: Tem uma molecada aqui começando a fazer um rock de uma maneira bacana, Um dia eu vi uma outra também eu acho que é Maglore, uma banda que é de um pessoal da Bahia que eu acho interessante também e comecei a ver umas coisas pingadas por aí bem legais, sabe? Uma garotada que tá fazendo Rock e que tá fazendo legal.

Frejat: E acabo incluindo a banda do meu filho que é muito legal, e não tô puxando saco pro lado deles, não, eles são ótimos.

Música Urbana: Como que chama?

Banda Amarelo Manga

Frejat: Chama-se Amarelo Manga

Música Urbana: Inclusive uma das coisas que eu ia te perguntar era isso… se você tinha incentivado seu filho a tocar…

Frejat: Não, de jeito nenhum. Ele sempre foi um cara que gostou e sempre quis estar perto e cada vez mais se interessando por aquilo uma hora eu percebi esse aí não tem jeito, tá contaminado pelo vírus paixão, pela coisa que a gente tem pela música o dia inteiro, e quer ouvir os discos, quer conhecer os discos, quer saber mais aí quando começou a vir aqui por estúdio deu uma tocada, daqui a pouco tá tocando um bocado de instrumento, daqui a pouco tá mexendo no estúdio.

Eles mesmos que mixaram e gravaram o disco deles, né, uma coisa assim que é bacana porque a garotada hoje com um computador ele metem a mão mesmo.

Frejat: Fazem tudo na banda. Eles tocam vários instrumentos, ninguém toca um só.

Música Urbana: Eles já lançaram disco?

Frejat: Lançaram agora, tá nas plataformas digitais desde o dia primeiro de agosto.

Frejat: Procura “Banda Amarelo Manga”, pois tem grupo de MPB chamado Amarelo Manga. A banda dos garotos é muito legal e eu não mexi nada, eu só ouvi quando estava pronto. E eu acho um disco muito bacana, eu acho essa geração de uma molecada que tá fazendo música muito bem.

Frejat: Gosto muito da cantora Céu também.

Cantora Céu

Cantora Céu

Frejat: A gente tem uma renovação, eu acho que a música hoje ela tem mais dificuldade de penetração nos meios de comunicação, assim as redes de TV aberta não dão tanto espaço pra um Pop Rock quanto elas dão hoje para coisas mais populares.

Então a renovação do nosso segmento está um pouco mais distante do movimento de massa. A massificação fica mais complicada, a gente acaba trabalhando vários, vamos dizer assim, canais de comunicação um pouco mais segmentados. Então você tem lá teu vídeo no Youtube, mas vídeo no Youtube todo mundo tem. Então como você vai fazer a pessoas chegar lá? E aí as rádios hoje, cada uma toca um tipo de música, antigamente todas as rádios mais ou menos tocavam, tirando uma rádio que fosse só de sertanejo ou uma rádio só de samba, todas as rádios tocavam tudo.

Então você fazia sucesso no segmento de MPB POP todas as rádios tocavam uma única sua estava fazendo sucesso naquele momento, o que hoje é impossível, não existe nenhum artista que esteja tocando em todas as rádios.

Frejat: E aí fica muito mais difícil para um artista novo se impor, além de tudo a quantidade de dinheiro que gira em torno da música hoje caiu muito também. E aí as pessoas vem falar “Pô mas tá se falando em música, vem falar de dinheiro”, Não, não é isso. A questão é que você tem que falar de dinheiro quando você vive de música. Se você vice de música e paga tuas contas trabalhando com música tem algum momento que o dinheiro entra nessa equação, não no sentido de te mover para isso, mas como é que você vai fazer aquilo te dar retorno financeiro par que você consiga se dedicar única e exclusivamente àquilo. Isso já foi um pouco mais fácil, hoje tá mais difícil pra todos e pra quem começa mais ainda.

Música Urbana: E dando continuidade a pergunta… o que você anda ouvindo hoje em dia? Eu também gostaria de saber o que você não escuta de jeito nenhum?

Frejat: Cara, eu não verdade não sou uma pessoa que seja extremamente preconceituoso com nada não, pra te falar, o único tipo de música que eu não escuto é, lamento ter dificuldade para escutar é ópera, que é uma coisa que eu não consigo, canto lírico não me bate.

Música Urbana: Resposta politicamente correta?

Frejat: Não! Porque se eu estiver, por exemplo numa coisa de funk, que é um tipo de música assim que não bate diretamente pra mim, mas eu tô sempre procurando assim olhar e ver se tem alguma coisa. Por exemplo, outro dia estava tendo apresentação da Paraolimpíada, aí entrou o pessoal do Passinho, cara eu acho tão bonito aquilo, sabe? Aí de repente tem aquele funk proibidão e tem aquelas coisas mais grosseiras ou tem algumas coisas que, sei lá, falam de um dia-a-dia, de uma rotina que não é minha eu entendo aquilo como uma linguagem de um determinado segmento da sociedade que não é o meu. Eu tenho que respeitar porque ele é coerente com aquela realidade, mas não quer dizer que eu tenha que abraça-lo, entendeu?

Porque eu não vivo aquele tipo de vida, não é minha rotina diária. Mas eu tenho que entender isso, que aquela música é fruto de uma coisa que é verdadeira. Agora já no caso, por exemplo, do que muitas pessoas chamam de sertanejo universitário eu já acho diferente por que aí é um nome dado para uma coisa que não faz sentido com o que aquela música efetivamente é.

Eu acho que a música sertaneja é um negócio legal pra caramba. Aqui no Rio de Janeiro a gente tem uma rádio que, inclusive é estatal, que é a Raquete Pinto que tem um programa de música sertaneja aqui, que eu acho que é terça-feira ou quarta-feira de noite, cara é sensacional, altas músicas. Inclusive nomes novos, gente nova fazendo música sertaneja, às vezes misturando com rock, às vezes misturando com , às vezes não e o programa é extremamente cativante e interessante. Agora essas coisas mais novas de sertanejo universitário não me batem, agora eu vou te dizer, “ah eu desligo!”, não sei, não me interessa.

 Música Urbana: Você certamente deve estar sabendo que serão ser lançadas em breve letras novas do Cazuza, não é?

Frejat: Sim.

Música Urbana: Você chegou a ver essas letras novas?

Frejat: Não, não cheguei a ver não. Eu até agora não, por acaso eu vi esse final de semana estava em casa e no Fantástico o Frausino com o Sideral cantando uma música mas eu não tive acesso a essas letras não.

Música Urbana: O que me chamou a atenção é que vi, em algumas reportagens, as pessoas que vão interpretar estas músicas… e não vi seu nome… Você foi convidado?

 Frejat: Para mim é muito delicado falar disso porque eu tenho uma certa dificuldade de lidar com essa coisa de fazer músicas com letras dele depois dele não estar mais aqui. Já aconteceu de eu fazer, que foi o caso do poema, que era uma carta na verdade um poema-carta que ele tinha feito para a avó dele e que a Lucinha me deu e pediu para que musicasse para o Ney. Então tinha ali um objetivo muito direto. E teve uma outra música que era o início de uma coisa assim que a Lucinha quis, que era um disco do Ney que seria todo com coisas do Cazuza e ela me pediu pra fazer uma música junto com o George Israel, a gente até fez a música mas ela nunca foi lançada.

E eu, particularmente, tenho uma certa dificuldade porque eu comecei a pensar muito que o fato dele não estar aqui pra poder avaliar essas coisas, me deixa numa situação muito difícil. Eu agora acabei de fazer uma participação no disco do Rodrigo Pita, onde ele fez uma música usando trechos de uma letra inédita, de um poema porque eu nem sei se era letra, né, talvez fosse aí realmente não é da minha competência mas era um trecho de uma coisa que o Cazuza tinha escrito e que a Lucinha deu pra ele e ele fez uma outra parte e me chamou pra cantar a música, que era uma coisa de pai e filho e ele achava que talvez meu filho pudesse participar da faixa, o que acabou não acontecendo. E aí acabei fazendo uma participação, mas eu não tinha metido a mão na música, entendeu? Eu não participei da música, da letra, eu me senti mais à vontade pra estar ali fazendo.

Mas hoje eu te digo que se você chegar pra mim “Ó tenho uma letra aqui”, se eu olhar ela e não disser que essa letra tá pronta, eu posso fazer uma música, eu não faria tendo que acrescentar. Eu acho que seria, assim, talvez uma pretensão da minha parte achar que eu poderia começar a fazer outras partes de letra pra complementar. O Rodrigo fez isso e fez com personalidade, mas eu não me sinto à vontade para fazer isso, entendeu?

Frejat: Eu respeito quem acha que pode fazer, mas eu não sei, pra mim, como eu tive a experiência de estar com ele, de fazer e de dizer “Pô muda isso aqui! – Não isso aqui não, fazer assim. Pô tá lindo. – Não, vou mudar. Tá bom, você que escreveu não vou falar nada”.

Frejat, isso é respeito.

Frejat: Ás vezes ele falava “Vou cortar isso aqui”, e eu ”não corta isso aqui não! Isso é a melhor coisa que tem na letra e você vai tirar?!” “Ah você acha mesmo? – Acho, cara”. Então tem esse tipo de coisa, essa relação que eu tive com ele, e eu preciso deixar nesse nível de troca, né, a parceria foi desse nível, eu não quero. Eu não quero agora misturar outro nível, que agora vire um nível padrão, entendeu? Então vai ter as letras que a gente fez junto e as letras que a gente fez juntos mas que ele não estava aqui, eu não acho legal isso virar um pedaço grande do nosso repertório. Eu acho que vai ficar manco, sabe?

 Música Urbana: O seu relacionamento com a Sra Lucinha Araújo, mãe do Cazuza ?

Lucinha Araújo, mãe de Cazuza

Lucinha Araújo, mãe de Cazuza

Frejat: É bom, inclusive ela me pede muito ajuda nas questões de contratos, às vezes, propostas que fazem. De algumas coisas eu não participo, por exemplo, aquela coisa da Olografia, eu tive fora, não me perguntaram nada quando eu soube aquilo já existia. Mas quando ela vem a mim e pergunta algumas questões eu tô sempre ali disposto, a gente sempre troca bastante, sempre que posso ajudar a Sociedade Viva Cazuza eu. Surgiu a pouco uma oportunidade de fazer.

Então eu estou sempre à disposição para ajudar. Eu e a Lucinha, a gente tem uma relação muito carinhosa mesmo, mas não tem esse dia-a-dia de ficar convivendo par ficar decidindo essas coisas. Tem coisas que ela faz por conta própria e têm coisas que ela vem a mim e pergunta e aí eu acho que cabe à ela decidir quando ela quer fazer uma coisa ou outra, entendeu?

Música Urbana: E sobre seu lado produtor… Tem algum projeto?

Frejat: Eu fiz uma coisa de produtor que talvez não tenha passado, assim, forte dentro da mídia mas que me deu um prazer muito grande que há tempo eu não fazia. Eu co-produzi cinco faixas do Benegão com o Autoramas.

Frejat: Eles fizeram até um vinil, um disco com uma capa meio “old” muito legal. E que foi uma coisa que me deu um prazer muito grande porque eu adoro produzir, mas não é sempre que eu tenho tempo pra fazer, né? Mas como eram cinco músicas foi muito legal. Eu agora nesse momento, eu tô produzindo o disco do Serginho Trombone.

Música Urbana: Que bacana!

Frejat: É um cara que trabalhou com a gente durante anos, é um trombonista fundamental dentro da coisa da música pop, da MPB brasileira, pop, né. Trabalhou anos com o Lincoln fazendo arranjos, fez coisas aí com muita gente, com Gil, Jorge Bem e com Don Salvador. Tinha a banda Abolição com o Dom Salvador, então é um cara muito importante, tocou muito tempo comigo e eu achava que ele tinha que ter o trabalho dele apresentado. E ele ficava meio receoso de colocar e eu brigando com ele durante anos até que finalmente eu consegui convencê-lo a botar pra fora. Agora a gene tá gravando o disco dele e eu tô produzindo o disco e isso tá me dando um prazer muito grande. Fora isso agora eu tenho feito as minhas coisas mesmo.

Não tive tempo para parar depois e produzir uma coisa porque produzir também exige que você tenha muita, pelo menos na minha maneira de produzir, eu gosto de estar junto, gosto de estar acompanhando o processo todo então eu não consigo ficar delegando muita coisa, tipo ter um assistente que “vai lá faz isso aqui, depois me mostra”, eu não consigo funcionar muito assim.

Música Urbana: E como funciona seu processo de criação como compositor? 

Frejat: O meu processo de compositor funciona muito solitariamente. Eu normalmente tenho uma letra de algum parceiro que me dá e aí eu trabalho em cima daquilo em algum momento que eu me sinto à vontade e sabe, realmente inspirado para aquilo. Eu não entro todo dia e faço. Deveria até fazer, que eu acho que seria muito bom ter uma rotina mas eu não tenho. Mas quando eu vou, eu vou e eu sei que vai acontecer alguma coisa. Então acontece muito assim. Ás vezes, uma vez ou outra, eu tenho um parceiro comigo, e aí a gente vai batendo essa bola, eu mostro o que eu fiz, a outra pessoa diz “ah eu acho que podia mudar essa frase da letra” ou a gente vai acertando os detalhes, podemos fazer mais uma parte e tal. E a gente vai embora nesse processo.

Ás vezes quando eu faço a música eu ouço uma ideia de sonoridade. Então às vezes eu brinco assim, faço uma coisa muito rascunhada, muito básica só pra não perder aquela vibração daquele primeiro momento mas isso não necessariamente vira o produto final. Ela fica ali só como registro inicial mesmo. Quando eu vou pro processo do disco mesmo aí normalmente eu prefiro ter um produtor porque eu ser o produtor do meu próprio trabalho tipo querer bater o pênalti e bater o gol de cabeça, não dá. Você faz uma coisa, ou faz outra. Porque você ser o artista, ser o próprio produtor você fica sem uma perspectiva, vamos dizer assim, distinta do trabalho.

O produtor pode chegar e dizer “isso tá uma merda” e você vai ter que ouvir e dizer “pô tem alguém dizendo pra mim que tá uma merda”. Quando você mesmo diz pra você que tá uma merda é diferente. Isso já te ajuda muito ou ter certeza que você gosta e ele que não gosta ou você sabe, “não, isso tá certo, vamos sair daqui, tô num buraco, tô enfiado na lama deixa eu sair daqui e vou procurar um outro caminho”. Então pra mim ter a figura de alguém produzindo é bacana. Muitas vezes essa pessoa nem é uma só, muitas vezes aquele grupo de pessoas que tá ali trabalhando já funcionam assim. Todo mundo que tá participando tá dando seu pitaco.

Essa última música que eu gravei Mais do que tudo, ela não tem um produtor. Eu gravei, o técnico de gravação deu opinião o Maurício Barros, o cara que fez o órgão deu opinião, o baterista deu opinião, o baixista deu opinião. Todo mundo deu opinião. Então de uma certa maneira ali foi um processo coletivo. Mas seu eu disser que todo mundo produziu a música também não é correto. Então não tem produtor. Agora já nas outras coisas o Maurício Barros  foi o produtor responsável por muitas coisas.

Eu agora mesmo, uma das versões que eu inclusive ainda nem botei na plataforma digital, teve uma versão produzida pelo Memê, a gente fez uma outra versão diferente pra uma outra situação, nesse caso tem o Memê aí como produtor, então tem coisas assim. Agora quando eu tô produzindo eu gosto de estar ali desde o começo acompanhando tudo, desde o som das coisas até detalhes de arranjo, a escolha dos músicos, a escolha do repertório, tudo. Nem tudo eu preciso decidir, aliás eu prefiro até não ter que decidir nada. Prefiro só dizer “Tá legal, não tá legal”. Quando eu digo que não está legal em princípio tenho que apresentar alguma alternativa.

Não adianta ficar, ter um cara só pra ficar dizendo que não tá legal é chato. Aí é fácil, tudo tem defeito. Então eu acho também muito importante você ter esse senso crítico e dizer “Bom, tem alguns defeitos com os quais eu posso conviver que são os meus.” Outros você diz “não, esses eu não acho que e quero conviver porque não é o caso de estar com esses defeitos aqui já que eu sei que eles existem e quero consertá-los”. Então isso faz parte do processo de produção.

Música Urbana: Como você encara o tal do “endeusamento do artista”?

Frejat: Na verdade, além de eu ser uma pessoa que tive uma educação muito, nesse sentido por parte dos meus pais, encarei logo de frente Ezequiel Neves. Ezequiel Neves é uma escola de vida porque no primeiro dia que eu cheguei pra ele falei “Ezequiel é você mesmo, jornalista que eu conheço, tal?”, ele falou “é, sou eu mesmo garotinho mas ninguém pode provar nada”. E eu entendi tudo, ninguém pode provar nada. A verdade o que eu fiz, e daí? Seguinte, vamos pra frente. O que tá feito, tá feito. Não tenho que ficar aqui cagando goma, tirando onda de que eu fiz e sei porque ninguém sabe nada, cara. Sabe, pra mim eu tô atento, eu tô ouvindo agora a minha opinião é para mim a mais importante, quer dizer, a minha decisão é a mais importante.

Música Urbana: Até porque você vai sofrer as consequências…

 Frejat: Exatamente. Eu sou muito aberto a ouvir, e o seguinte, é lógico que sempre é difícil você ouvir uma crítica e às vezes ela não sabe nem ser apresentada, mas eu aprendi a dar este desconto. Então eu posso ouvir um comentário negativo crítico e tira o negativo e deixar só o crítico. “Ele falou errado, mas ele está certo”, entendeu? O ponto em que ele chegou, que ele aborda tem sentido. A maneira como ele falou tá errada, mas eu entendi.

Uma coisa que também foi um exercício de poder entender muitas vezes alguns comentários do Ezequiel no estúdio dele, porque ele era uma pessoa completamente intuitiva. Ele jamais iria dizer pra você que o bumbo está alto demais, essa guitarra tá totalmente equivocada porque está com som destorcido, ele nunca iria te falar isso. Mas ele dizia coisas e eu “caramba bicho, ele falou um negócio que faz sentido agora eu tenho que descobrir exatamente o que é isso aqui no real das coisas”. E esse aprendizado, esse exercício de ouvir uma crítica foi muito importante com ele e pela minha própria formação em casa que construiu essa maneira de trabalhar que é saber ouvir críticas, saber que às vezes a pessoa tá criticando uma coisa que eu considero uma qualidade.

Música Urbana: E não deixar se deslumbrar

Frejat: Essa coisa de não se deslumbrar acho que é muito da minha educação mesmo. Eu fui criado por pessoas, meu pai e minha mãe sempre tiveram essa coisa de pé no chão, de “olha bicho, não viaja, sem delírio”.

 Música Urbana: Você é um dos artistas que melhor se adaptou às novas formas de comercialização da música. Eu vi uma entrevista sua na qual falou que não pretende mais gravar disco como se gravava anteriormente, e sim lançar músicas individuais.  

Frejat: Eu vou te falar que isso foi a custo de muito tempo de limbo, sabe? Eu fiquei durante muitos anos, assim, pelo menos uns três anos numa angústia muito grande porque eu queria entender pra onde a gente estava indo. E essa transição que a gente fez e no caso do Brasil ela foi um pouco mais acentuada porque a gente teve uma presença da pirataria que ela destruiu o formato físico muito antes de outros lugares do mundo. O formato físico no Brasil desapareceu como a maneira de você se relacionar com o público.

De uma hora para a outra você fazia um disco que não tinha um retorno financeiro e profissional no sentido de você sobreviver daquilo e ao mesmo tempo aquilo foi se enfraquecendo porque toda aquela estrutura que girava em torno de várias coisas que aconteciam em volta começou a se enfraquecer com a falta de financiamento daquilo que existia. Uma estrutura que acontecia há décadas e que de uma hora para a outra desmoronou.

E nunca dentro da história indústria fonográfica ou da história da música como um produto de consumo, que é o que acontece com a música no início do século XX em diante você teve uma transição tão longa. A gente demorou muito tempo para chegar nesse formato que a gente têm hoje, que tá acontecendo na verdade de uma maneira bastante forte de 2014, 2015 pra cá porque você começa a ter uma banda larga mais presente, você começa a ter esses sites de streaming que vem com essa proposta que eu acho que entende em princípio todas as que o consumidor e que o produtor de música precisam, que é acesso e a possibilidade de você colocar ali tudo o que você tem e as pessoas que têm interesse por você iriam ali.

A única coisa que eu acho que eu tenho repetido muito, que é uma frase: “esse modelo de negócios que se chegou, o modelo de consumo tá certo e o modelo de negócio está errado”. Porque para o consumidor e para a oferta do produtor de música que eu sou pro meu público tá certíssimo, ele têm acesso, ele vai poder ouvir aquilo no celular, ele vai ouvir aquilo no ônibus, ele vai poder ouvir aquilo no computador de casa. Ele entra num Spotify, num Youtube, uma coisa assim, ele ouve em qualquer lugar que ele esteja que tenha acesso à internet. Lindo. Agora, o que se paga por esse acesso que está sendo oferecido ao consumidor é ridículo para o produtor, mas é ridículo num nível constrangedor.

Música Urbana: Você está sentido isto na pele?

Frejat: Eu dei um exemplo, outro dia teve uma música minha que teve 32 mil acessos. Imagina que você tinha um compacto antigamente, tinha uma música que não era o objetivo naquele momento, era uma outra música que se oferecia ao público porque na verdade um compacto vendia por causa de uma música só. E se esse compacto vendesse 32 mil cópias, eu como artista, não estou nem falando do autor, esse artista iria ganhar pelo menos umas cinco pratas ali, cinco mil reais por aí. Sabe quanto eu recebi como autor?

Música Urbana: Quanto?

Treze centavos.

 Música Urbana: Realmente, não é possível!

Frejat: Aí um outro amigo meu que é dono de uma gravadora me ligou outro dia e falou “olha Frejat eu vi sua entrevista, tá errado. Eu teria recebido por 32 mil acessos mais ou menos uns 200 reais” então se você tem um contrato de mais uns 10% com uma gravadora, mais ou menos o contrato padrão da época, você teria direito a 20 reais. Então você fala, até o que é explicável é ruim. Então é o que eu digo, o modelo de consumo é correto, é justo, o modelo de negócio não. E é isso que a gente tem que consertar agora. Fora que tem mais problema específico que o músico que toca nas músicas, hoje ele tem uma forma de recebimento. Tem uma das classificações lá de arrecadação que premia o músico executante. E dentro do modelo de consumo digital essa categoria desaparece.

Frejat: O artista vai continuar a receber porque ele é o intérprete, a gravadora ou o próprio artista sendo seu produtor fonográfico vai continuar recebendo, o autor vai continuar recebendo, a plataforma que está vendendo lógico que tem que receber também, todos eles justíssimos, e o músico executante que tocou nunca mais vai receber. E essa é uma briga que a gente tem feito hoje para tudo o que é feito de música no caso do Youtube e no caso de todos esses sites de Streaming sejam considerados execução pública. Se eles não forem considerados execução pública, o que eles são considerados em outros países, o Google já aceita e as plataformas também, o músico executante está retirado da equação. Então essa é uma briga que a gente tem. A maioria dos músicos não sabem. A gente fica brigando e aí parece que a gente tá lá “cri-cri” mas na verdade a gente tá brigando por eles.

Música Urbana: Como você se preparou paa isso? 

Frejat: A gente tem que usar a internet, ela tem um poder maravilhoso e a gente tem que saber explorar. Eu estava falando agora com a menina de um outro jornal aí de Curitiba, que uma coisa que eu tenho feito por exemplo nessa música que eu acabei de lançar, eu fiz os Lyric vídeos com a ficha técnica e a letra da música, por que? Porque não tinha o encarte do disco. Porque a pessoa não vai levar o encarte do disco. Por exemplo, no Spotify, no Deezer ela só vai ouvir a música, mas se ela pegar no Google ela vai ter a letra, ela vai saber quem tocou na música, vai saber quem gravou, quem masterizou, tá tudo lá. É a minha maneira de fazer uma capa de disco, entendeu?

Barão Vermelho

Frejat: Então a gente tem que começar a usar as ferramentas. Eu posso fazer um clipe também, e eu posso fazer um clipe onde tenha tudo isso também. Dentro do clipe chega uma hora de crédito que você põe tudo, quem quer ver, vê.

Música Urbana: Não é difícil perceber que você se aprimorou no uso dessas ferramentas.

Frejat: Porque é fundamental, a gente tem que saber buscar as ferramentas. O que eu tô te falando no sentido assim, eu não me considero um grande entendido de internet, por exemplo meus filhos, eu ainda uso e-mail, eles “pai, e-mail?”. Mas aquela coisa, quando você o veículo você fala, “qual o proveito que eu posso tirar disso daqui?”, o que eu tenho para oferecer, como eu posso usar isso daqui para oferecer o que eu gostaria de oferecer. E parindo do que isso aqui me permite oferecer o que eu também tenho que fazer que eu não fazia antes? Eu acho que tem que ter esses dois ângulos para você ver.

Coisas que você tem que utilizar, que nem todo mundo pensou, lógico, tem lá o Youtube, porque eu não ponho minha capa, a minha pseudo capa lá? Eu pensei e tô fazendo em tudo o que eu tô colocando. Mas, de repente, a própria ferramenta as vezes te diz, no caso disso é mais uma questão de quem percebeu que isso poderia ser feito ou não. Mas tem outras coisas que a própria ferramenta diz, olha você pode fazer isso aqui e aí você fala, gostaria de usar. Tem coisa que não, que eu digo “ah isso não, é mais pra molecada que gosta de se divertir com isso e tal, vou fazer isso de outro jeito”.

Então todo esse tipo de coisa a gente tem estar muito atento porque senão a gente acaba ficando ultrapassado depois de um certo tempo. Não é querer ser um eterno jovem, é patético, mas eu acho importante você querer acompanhar a tecnologia porque o mundo tá andando e você não pode ficar pra trás porque simplesmente falou “ah eu não quero entender disso aí não, eu sou um analfabeto digital”. Ser um analfabeto digital é a mesma coisa que ser um analfabeto. Tira o digital, o analfabeto ainda está na frase.

Música Urbana: Algum projeto novo? 

Frejat: Na verdade tô com um show muito gostoso, pra cima, um show divertido, que tem um lado autoral, de intérprete forte e ele é bastante abrangente em termos de música, tem baladas, tem soul, tem coisas mais rock. E tem essa coisas que eu tô fazendo do disco do Serginho que eu tô fazendo e que em breve deve estar sendo apresentado.

E a minha ideia agora é ficar lançando regularmente músicas novas, de preferência, em princípio autorais, a não ser que eu receba alguma música que eu ache realmente muito bacana, ou que seja convidado para gravar alguma música de outra pessoa que eu acho bacana fazer, como aconteceu com “Só você” que eu fiz a pouco tempo com pra participar da trilha de uma novela.

Uma música que que achei bacana e que eu já tinha tocado ao vivo, gostava e falei beleza, vou fazer a minha versão, tá bacana. Mas principalmente tem um lado autoral me que eu tô carente de mostrar, tem coisas que eu tenho que botar pra fora aí e quero fazer isso regularmente. Então agora as pessoas podem ficar atentas que de tempos em tempos vai pintar uma música nova aí.

Música Urbana: Eu vi a coletânea que você lançou recentemente…

Frejat: É, eles chamam de coletânea porque é um grupo de música de uma vez só. Eu poderia ter lançado uma coletânea em cd dizendo “Frejat diversos/’, mas era tão diverso que não tinha a menor condição disso virar um disco só. Mas de repente num site de streaming e quem ouvir pode ouvir o que gosta, “essa não gostei, vou pra outra” e pronto. Eles chamam isso de coletânea.

Música Urbana: E o Barão, alguma novidade?

Peninha, percursionista do Barão que faleceu esta semana

Peninha, percursionista do Barão que faleceu esta semana

Frejat: O Barão, na verdade a única novidade é muito triste, a perda do Peninha, (percursionista do Barão) essa semana. Uma dor muito grande, hoje foi o enterro dele. Um amigo muito grande, uma pessoa fundamental na nossa vida, e um companheiro que ensinou muito.

Nós todos ali do Barão somos muito amigos então assim, a perda de qualquer um de nós, pros outros é uma coisa muito dolorosa, sabe?  E infelizmente aconteceu com ele, a gente estava o tempo todo ali com ele dando um suporte mas ele estava realmente, na verdade, quando ele foi pro hospital a gente nem sabia o que estava acontecendo. A dor ainda está muito recente.

Música Urbana: Nem ia tocar neste assunto, imaginei ser difícil pra você falar nisso hoje…

Frejat: Não, eu acho importante falar dele, um músico que cativava tanto o público com aquela alegria musical além da excelência musical que eu acho que é um aso bacana, que tem que falar dele mesmo, não tem problema não, tem que botar pra cima mesmo, porque é uma pessoa maravilhosa. Ele teve muito reconhecimento em vida, aliás uma pessoa que vivia intensamente.

Música Urbana:Quero te agradecer pela entrevista!

Frejat: Eu que te agradeço, é tão difícil fazer uma entrevista tão boa assim, que leva a gente pra um lugar de reflexão de discussão, eu que agradeço.

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