Pedreira coberta para Angra

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A Pedreira Paulo Leminski vai inaugurar no sábado (27/08) um novo formato de apresentações para receber a banda paulista Angra. A área que normalmente é apenas palco vai ser também o lugar onde o público – de aproximadamente 1800 pessoas – vai ficar para assistir ao show, e o espaço normalmente destinado a receber o público será um grande estacionamento.

O show que o Angra trás a Curitiba neste Sábado (27/08) faz parte da turnê “Holy Land”, em comemoração aos vinte anos de lançamento do disco que leva o mesmo nome da turnê. O disco em questão foi um dos mais marcantes na carreira da banda, onde usaram nas composições influências que vão desde música erudita e heavy metal até ritmos afro-brasileiros, tendo sido fundamental para o reconhecimento da banda no mercado internacional.

A formação atual do Angra que vem a Curitiba é composta por: Rafael Bittencourt (guitarra e vocal), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo e violão), Bruno Valverde (bateria) e Fabio Lione como vocal, além de vários músicos convidados como Junior Carelli, André Reis além de Luis Mariutti e Ricardo Confessori ambos da formação original. (Confira alguns vídeos do Angra no final do post.)

O show de abertura da noite vai ficar por conta da banda curitibana Motorocker, que deve apresentar músicas de seus três discos, com destaque para o álbum “Rock Brasil”.

Recentemente o Angra foi assunto mundial, quando teve seu guitarrista Kiko Loureiro convidado para ingressar na banda de trash metal Megadeth. Apesar de Kiko ter aceitado o convite, ele afirma que vai tentar conciliar a permanência nas duas bandas. (Confira aqui a entrevista que Kiko Loureiro concedeu recentemente ao Blog Música Urbana: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/musica-urbana/papo-reto-com-kiko-loureiro/ )

Na semana em que o Angra se prepara para o show em Curitiba, Rafael Bittencourt, guitarrista

Rafael Bittencourt

e único integrante da formação original, conversou comigo. Contando sobre as novidades da banda, a grande expectativa de tocar na Pedreira, entre muitos outros assuntos. Confira o papo a seguir:

Blog Música Urbana: Como a banda absorveu todas as mudanças de integrantes nesses 25 anos de existência e principalmente as mais recentes com a saída “temporária” do Kiko e a entrada do novo vocalista Fábio Lione? Como essas mudanças influenciaram o som da banda?

Rafael Bittencourt: Acho que depois de tantas mudanças nesses anos todos, penso que não só nós que fazemos parte da banda, mas os fãs também entenderam que existe um conceito do que é o Angra, e isto está de certa forma intacto e tem que ser preservado.

Eu particularmente que estou desde o início e sou o único da formação original, aprendi a posicionar o meu modo criativo em função de um permanente renascimento, digamos assim. O importante é que o esqueleto da banda esteja integro, vivo, independente de quem sejam os “músculos, os órgãos ou o rosto da banda”.

Uma coisa que conta muito a nosso favor é a experiência que temos hoje para lidar com essas situações. Essa experiência também ajuda muito no momento de construir novos projetos sem desperdiçar tanta energia, seja para montar uma turnê, gravar um disco ou um DVD e o fato de ter uma equipe já formada também é de muita importância nesse contexto.

Sendo assim, independente de qualquer coisa estou vivendo um dos melhores momentos com Angra. O Angra flui, o astral da banda é legal, a gente consegue trazer ex-participantes para tocar com a gente, sem ressentimento ou mágoa, e resulta em uma sensação muito boa seja profissional ou pessoal. Resumindo estamos em um grande momento como grupo.

Blog Música Urbana: O afastamento do Kiko Loureiro, que confirmou recentemente ao Blog em entrevista exclusiva, não ter nenhuma intenção de sair do Angra, para se juntar a banda Megadeth, por mais que tenha trazido alguns contratempos, imagino que também tenha propiciado boas oportunidades ao Angra. Vocês já estão colhendo esses frutos?

Rafael Bittencourt: Sim eu concordo, afinal levou o Angra aos noticiários mundiais e para nós é um orgulho ter o Kiko tocando no Megadeth. Hoje em dia quando se fala em Megadeth já

Kiko Loureiro

remete ao Angra, sendo assim, isso já é um bônus pra gente.

Mas claro que o prejuízo também existiu, o que seria principalmente o luto que a banda sente quando um membro sai. Mas ao mesmo tempo estamos muito felizes em receber o Marcelo Barbosa (Guitarrista que está substituindo Kiko Loureiro) que é um grande guitarrista também, ou seja ganha-se por um lado perde-se por outro, e você percebe que é uma nova situação.

Apesar do Kiko não estar no dia a dia com a gente, ele continua ajudando a tomar as decisões ou seja ele ainda esta na sociedade, inclusive estávamos juntos agora em Brasília, quando fizemos um show junto com o Megadeth. Kiko subiu ao palco com a gente, o que acabou inclusive causando uma situação um pouco desconfortável com David Mustaine (líder e praticamente dono do Megadeth) que não gostou muito de ver Kiko tocando no palco com a gente antes do Megadeth. Definitivamente David Mustaine não é uma pessoa fácil de tratar.

A única coisa que eu infelizmente não posso dizer com certeza é que o Kiko está fora apenas temporariamente, por que ele de repente pode sair do Megadeth e ir para o Whitesnake, sabe lá.

Blog Música Urbana: O que levou a banda a escolher o italiano Fábio Lione para ser o novo vocalista do Angra? Foi uma estratégia para facilitar uma maior aceitação no mercado europeu?

Rafael Bittencourt: Indiretamente sim. Inicialmente eu queria um vocalista brasileiro, eu

Fabio Lione, vocalista do Angra

acho que tem muitos grandes talentos no Brasil. Mas conversando na época com as gravadoras e principalmente com a nossa gravadora do Japão, que é um mercado muito importante para banda, eles sugeriram alguém que já fosse conhecido nesses mercados, que já tivesse uma reputação. Porque quando saíram alguns integrantes da primeira formação o mais difícil foi convencer o público desses lugares da capacidade dos novos integrantes.

Tem que realmente investir na imagem daqueles músicos. E se você pega uma pessoa que já tem aceitação desse público é uma manobra um pouco menos arriscada. É mais ou menos como aconteceu com o Axl Rose no AC/DC, ele já tem uma aceitação do público, e por mais que tenha um prejuízo por não ter o cara original ali você já tem uma pessoa conhecida por este público. Além disso, conhecia o Fábio, eu já era seu amigo, e fã de seu trabalho a muito tempo e ele gostava do Angra. Além da banda dele (vocalista da banda Rhapsody of Fire desde 1995) estar passando por um momento de incertezas, ou seja tudo veio a calhar.

Blog Música Urbana: Os discos do Angra muitas vezes usam as músicas para contar histórias, e principalmente no disco mais recente “Secret Garden”, isso fica ainda mais forte. Vocês já

Capa do CD “Secret Garden” do Angra

pensaram em adaptar esse trabalho e encenar uma “Ópera Rock” seja nos palcos ou no cinema?

Rafael Bittencourt: Pensamos sim. Só seguramos um pouco esse plano. Um pouco pela saída do Kiko e também pela turnê atual, mas a minha ideia é criar alguns musicais sim. Uma Ópera Rock é o que estava exatamente nos meus planos, mas isso demanda muito tempo para planejar e no momento não estou podendo, mas gostaria que em breve isso se tornasse realidade. Mas para isso vamos precisar de parceiros de todas as áreas e algum patrocínio.

Blog Música Urbana: Você também é professor de guitarra, participa de workshops. Quanto é importante para você essa sua função de ensinar outras pessoas?

Rafael Bittencourt: O ato de ensinar é a minha maneira de ter um contato direto com o público, com aquele cara que está em formação, com aquele cara que tem a opinião do ponto de vista da plateia, isso para mim é uma relação muito importante, pois ao mesmo tempo que estou ensinando eu estou aprendendo, estou colhendo informações.

Blog Música Urbana: Como você imagina o Angra daqui a 10 anos?

Rafael Bittencourt: O conceito ideal, que seria uma banda com o cerne fincado aqui no Brasil, com músicos de excelente qualidade mas aumentando a família. Eu imagino um festival anual, onde o Angra agregue todas as bandas e músicos que tenha alguma coisa relacionada com o a história do Angra. E sempre com a porta aberta para fazer uma grande festa onde cada um teria espaço para mostrar seu talento. Uma banda para servir de exemplo no sentido de ser um ícone do metal brasileiro dentro e fora do Brasil e também como exemplo de comportamento e liderança.

Blog Música Urbana: Rafael, conta um pouco sobre o show que vocês vão apresentar na Pedreira Paulo Leminski, e qual é sua expectativa?

Rafael Bittencourt: Nesse show nós tocamos o disco “Holy Land” na íntegra por se tratar da comemoração de 20 anos desse que foi um disco divisor de águas para banda. Mas também

Capa do icônico CD “Holy Land” do Angra

tocamos muito mais coisas de várias fases, fazendo um show que deve durar em torno de duas horas e meia.

O “Holy Land” foi muito importante para nós pois foi com ele que conseguimos consolidar um estilo próprio, miscigenado com a cultura indígena e afro-brasileira e até justificando nosso som através dessa origem, isso ajudou muito a firmar nossa carreira no exterior. Ajudou também a situar a gente em uma cena metal comandada principalmente por europeus que até então pensavam que o Brasil era uma grande selva Amazônica e lá no meio existia um lugar chamado Rio de Janeiro com bundas e futebol. Aos poucos essa ideia de Brasil começou a mudar, mostrando que temos muitos profissionais, nas mais diversas áreas que representam o potencial existente no país.

Quanto a tocar na Pedreira eu estou bastante ansioso, por se tratar de um show que o público vai estar no palco também, vai ser de certa forma ao ar livre, apesar de estar coberto. Já vi muitos shows na Pedreira, inclusive Iron Maiden. Para mim vai ser uma honra e uma grande realização pessoal. Ou seja minha expectativa é enorme e a melhor possível.

Blog Música Urbana: Obrigado pelo papo Rafael, e bom show em Curitiba!

Rafael Bittencourt: Obrigado, espero todos para uma grande noite.

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