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Elizaveta? Elizaveta Bam!
| Foto:
Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Eduardo Simões e Kelly Eshima, em Elizaveta Bam.

Conversei com o ator Eduardo Simões sobre a peça Elizaveta Bam, que estreou neste fim de semana no Teatro Novelas Curitibanas, com a Companhia Transitória e o Teatro de Breque (Veja os horários).

O texto é do dramaturgo russo Daniil Kharms (1905-142), célebre por ter antecipado estratégias que seriam levadas às últimas consequências pelos autores do chamado teatro do absurdo, como a falta de lógica e de linearidade temporal.

Na montagem que se espalha pelos cômodos do casarão na Rua Carlos Cavalcanti, o absurdo – conta Eduardo – se materializou nessa ocupação desregrada do espaço, conduzindo o público, feito de cúmplice, desde a varanda às salas internas e ao estacionamento. Tudo vale como experimentação.

Por que o interesse de montar esse texto, Elizaveta Bam?
A Transitória são quatro atores (Eduardo Simões, Kelly Eshima, Tiago Inácio e Flávia Sabina), que se formaram ano passado na FAP, com a Uyara Torrente. A gente fez um estudo desse texto como pesquisa de linguagem num exercício do quarto ano da faculdade e resolveu inscrever no edital no Novelas Curitibanas. Interessou pelas possibilidades que dá, por ser precursor do teatro do absurdo, influenciou o Ionesco. A gente queria investigar a exploração do espaço e a relação com o público.

Chegaram a encená-lo?
Fizemos uma apresentação com 23 atores, um exercício, com propostas cênicas muito diversas que surgiam de um grupo grande assim. O que a gente faz hoje é completamente diferente, tem essa relação com o espaço que propomos desde o início, mas com outras possibilidades porque o lugar é diferente.

O que se enxerga de afinidade com o teatro do absurdo nessa peça de 1929, anterior à produção de Beckett e Ionesco? Já traz um diálogo esvaziado de sentido?
Iniciamente o Daniil Kharms propõe as 19 cenas em gêneros distintos, comédia, realismo, ópera… e não é um texto linear, tem falas completamente calcadas mais no som do que no significado. Mas a gente teve que fazer algumas escolhas para montá-lo, a gente se posicionou em relação ao texto e construiu nosso subtexto. É mais um meio para contar uma história de relações familiares, pai e filha, mãe e filho. A gente já busca a forma do absurdo na exploração do espaço, mantê-la no diálogo seria redundante. Fizemos adaptações para manter nosso discurso.

Qual o viés desss relações familiares?
São relações muito polêmicas, uma família até incestuosa. A proteção da mãe em relaçaõ ao filho chega a ser duvidosa, a relação do pai com a filha é muito marcada pelo desejo sexual. Explora a questão do instinto assassino e do instinto sexual como preponderantes na personalidade desses personagens.

Hedeson Alves/Gazeta do Povo
o público é feito de cúmplice, acompanhando um percurso sugerido.

De que maneira vocês trabalham a exploração do espaço?
As janelas do teatro são meios de se comunicar. Tem diálogo na janela, para o estacionamento… São formas de cumplicidade. A Luciana Schwin, do Teatro da Vertigem) trabalhou com a gente. Achávamos que o público era testemunha, mas testemunha sugere passividade. O público como cúmplice quer dizer que também vai fazer escolhas, se posicionar em relação às cenas espacialmente e pessoalmente. Ficar longe de uma cena, de repente, para acompanhar outras ações acontecendo.

E as perdas implicadas por essas escolhas?
Trabalhamos com o coneito de que cada público vê aquilo que ele deve ver. Fizemos opções e sabemos que as pessoas vão ver coisas diferente.

Vocês se formaram há pouco tempo, mas já fizeram outros trabalhos juntos. Qual o histórico da companhia?
Fizmeos Okay no Coletivo Pequenos Conteúdos do ano passado, a peça viajou para Ponta Grossa e Araucária. E Eu Nunca, no Cleon Jacques. Todas surgiram de exercícios da faculdade. A gente busca sempre a linguaguem experimental, e agora resolveu radicalizar e se aprofundar nessa pesquisa.

Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Diego Duda, Uyara Torrente, Eduardo Simões e Kelly Eshima representam as relações familiares delicadas propostas no texto de Daniil Kharms.

O que pretendiam ao chamar parceiros tão diferentes em seus projetos artísticos, como a Luciana, o Edson Bueno e a Nadja Naira?
O princípio da companhia sempre foi trabalhar processos colaborativos. A gente não tem a figura do diretor assumindo a direção do espetáculo como um todo, tem colaboradores. A Luciana, no sentido de apropriação do espaço. A Nadja veio no início do estudo da dramaturgia do texto: como adaptar. E o Edson, no fim, na sala de ensaio, trabalhou na direção de elenco, em relação à interpretação e ajustes finais.

Para um grupo tão novo, o que significa vencer o edital do Novelas Curitibanas?
Está sendo um orgulho trabalhar podendo pagar todos os profissinais como devem ser pagos. Okay foi feito sem nenhum dinheiro.

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