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Entrevista – Mallu Magalhães: “estou mais para uma jovem senhora”
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Mallu Magalhães cresceu, mas ainda chora. Quem assistiu ao show da garota de 20 anos no Planeta Terra, no último final de semana, viu. “Houve problemas técnicos, as coisas não funcionaram direito e a gente tava com uma pressa danada. Enfim, aquela situação toda me deixou nervosa e acabei chorando um pouquinho”, conta Mallu, em entrevista por telefone em que revela um estranho sotaque nordestino.

A esposa de Marcelo Camelo se apresenta no Canal da Música, em Curitiba, neste sábado (27). Abaixo, a íntegra do bate-papo, que foi de Tom Zé a projeções futuras: “Acho totalmente provável que eu suma, vire selvagem e fique tocando com uma tribo louca no Havaí ou na Austrália.”

Por que você chorou durante o show no Planeta Terra?
Hihi. Na real, o que acontece no Festival é que a estrutura é muito grande, muito complexa. Eu fui a primeira artista a se apresentar no palco principal, que tem uma estrutura de filmagem ao vivo, e não sei o que lá. Então é natural que aconteçam alguns problemas técnicos. Eu tenho o ouvido muito sensível, e aí, como eu estava com o fone, senti os problemas na pele. Ficou aquele barulhão na orelha, as coisas não funcionando direito, a gente com uma pressa danada. Enfim, aquela situação toda me deixou um pouco nervosa e acabei chorando um pouquinho. Mas eu tenho honestamente a impressão de que é melhor ter a reação imediata, porque aí já resolve, sabe. Senão você fica uma pessoa amargurada, guardando dores de situações a vida inteira. Melhor é assim: doeu, chorou. Que nem criança. Foi isso. Passou. Olhei para o público, começou com 500 pessoas, terminou com mil. Eu tenho um público muito fiel e devo muito a ele.

Marcelo Camelo

Um público que cresceu com você.
Que cresceu comigo e estava lá e aplaudiu mesmo com os problemas técnicos. Em uma música até parei no meio porque não tava legal. Minha ideia é fazer uma música agradável. Se não tava agradável, tinha que fazer outra vez.

Sobre o show em Curitiba, ele é baseado no disco Pitanga?
Isso mesmo. Mas em um show só meu, possibilita mais tempo. Posso reunir outras canções de outros álbuns e até canções que não são de minha autoria, mas que gosto de cantar. Para o show de Curitiba, vou levar o Pitanga inteiro, toco todas. Vou tocar também quatro ou cinco músicas dos outros discos e a versão de “All of Me” [Billie Holiday] que eu gosto muito.

O Marcelo Camelo vai participar?
Não sei se ele vai. Depende muito. Às vezes o Marcelo tem alguns compromissos e não pode me acompanhar como marido [risos]. Mas como Marcelo Camelo músico não, não vai participar.

Que lembranças você tem de Curitiba e dos shows aqui?
Tenho uma boa memória. Gosto muito daí porque mesmo quando estava em meu momento mais instável, mais frágil e sem vontade, sem desejo, no momento mais crítico da minha carreira e da minha pessoa – “aborrescência” é fogo, pra todo mundo – mesmo no pior momento, o público curitibano foi muito fiel, atento e dedicado. Isso pra mim é gratificante. Tenho um carinho muito legal por Curitiba.

Marcelo Camelo

Você ainda se sente adolescente?
Estou mais para uma jovem senhora (risos). Estou em um momento de muita paz comigo mesmo, estranhamente. Talvez isso seja um indicador de maturidade.

E isso se reflete no seu trabalho também. Há uma evolução em relação aos outros dois discos, embora você não tenha perdido aquela ingenuidade que sempre te marcou. Isso tem a ver com sua relação com o Marcelo?
É claro que ele teve uma boa participação nisso. Pela nossa relação pessoal, íntima, e pela relação profissional. Ele contribuiu muito na produção do disco e tudo mais. Ele acompanhou meu amadurecimento e aquela fase em que nos perguntamos várias coisas que envolve tudo aquilo: começa a mudar o corpo, a gente fica alta etc… E isso tudo talvez acontecesse mesmo sem ele. Mas minha relação com o Camelo me trouxe uma segurança imensa. Tenho muita paz e também a inquietude do artista. Mas não preciso provar nada para ninguém porque quem me interessa já me ama.

O que te inspira hoje?
São as minhas questões. O cotidiano é sempre uma inspiração grande, mas o que conta mais são as questões existenciais, meu estado de espírito. Algumas músicas são o retrato disso. Às vezes é uma composição descritiva, algum fato que achei interessante. E às vezes é algum chilique poético.

Como você se vê na cena brasileira atual?
Hum… acho difícil me analisar nesse quesito. Acho que isso é mais autodeclaratório de como está minha autoestima do que um fato. Acho que um dia em que eu acordar feliz e bem vou falar que me igualo ao Chico Buarque. Um dia em que acordar meio mequetrefe vou dizer que não participo de nicho nenhum porque sou um lixo. Depende do dia. Mas pra fazer uma média, de como procuro me posicionar, digo que sou uma artista iniciante que vai fazer cinco anos de carreira. Ao mesmo tempo acredito que já consegui superar algumas questões básicas. Decidir que vou fazer música da minha vida e me atirar nisso completamente. E tenho uma dedicação muito grande. Acho que ao longo do tempo vou conquistar cada vez mais público. Consigo me identificar com vários artistas atuais. Gosto muito do Criolo, ele tem muita sinceridade. Foi o Marcelo que me apresentou, não conhecia. Gosto de toda essa cena paulista, das cantoras. Tulipa Ruiz, Céu. Além de fazerem um trabalho muito dedicado e caprichado, são pessoas muito legais, dóceis e amigas.

Marcelo Camelo

Recentemente você gravou com Tom Zé a música “O Motobói e Maria Clara.” Como foi?
Cara, o Tom Zé é um gênio. Ele consegue fazer o que eu tento fazer. Uma coisa pop, que comunica, que você ouve e gosta. A letra é forte a ponto de comunicar, mas causar algum impacto, alguma mudança. E além de tudo, os arranjos, uma atitude totalmente louca e artística. Fico mais que lisonjeada por poder não só acompanhar de perto, mas fazer parte do trabalho dele. Para mim foi muito importante. Tenho certeza que esse convite me fez mais forte.

Você nasceu em 1992. Década do grunge, da rabeira do britpop. Quando você começou a ouvir música, chegou a ser influenciada por esse som que vinha de fora ou ouvia mais música brasileira?
Sempre tive essa mania louca de achar que eu era especial. Sempre quis ser esquisita, diferente. Procurava escutar o que ninguém escutava, esse era o meu barato. Nessa procura encontrava as coisas que eu gostava. Meus pais não tinham o hábito de ouvir música em casa, mas minha mãe era muito fã do Rod Stewart. Cresci escutando muito Rod Stewart. Era a única coisa que escutava em casa. Meu pai sempre teve muito gosto pela música, mas só descobri isso depois, quando eu já estava com uns 14 anos. Ele tocava violão pra mim, mas eram músicas dele, meio de piada. Tinha uma assim: ‘quero salame, quero salame, quero salaaaaaaaaaaame’, era pra mim porque era meio draga. Comia muito salame. A gente cantava junto. O que tocava na minha época de criança, no rádio e na escola, era muito Simple Plan, Bonde do Tigrão, que acho legais pra caramba. Eu adoro funk. Escutava Eminem. Skank, a “Jogador de Futebol”. Eu curtia.

Você pesquisa muito, como as músicas chegam para você?
Muita coisa vem através do Marcelo. E nas conversas. Qualquer coisa que acontece ele fala ‘você já escutou não sei o que lá’? Eu conheço muita música assim. Conheço coisas novas também por conta própria, meio por instinto. Pesquisando sobre um integrante ou outro, descubro sobre trabalhos que ele já fez, e por aí vai.

Você passa muito tempo na internet?
Já fiquei mais. Hoje procuro evitar, não sou tão grudada. A internet é como uma droga. Lógico que é bom, mas você tem que tomar cuidado porque vicia. Procuro ter um certo cuidado.

Como você se imagina daqui a 20 anos?
Puxa, sempre me planejei muito, mirei muito. Mas 20 anos é muito tempo. Acho totalmente provável que eu suma, vire selvagem e fique tocando com uma tribo louca no Havaí ou na Austrália, e acho muito provável também que eu esteja fazendo uma música que se comunique com o mundo. Essa é a minha procura. Uma música com uma essência humana, e não o idioma, a estética. Uma coisa universal. Pretendo estar tocando pra caramba e ter muitos filhos.

Quantos?
Depende de quanto dinheiro eu tiver ganhando…

Filho é caro mesmo…
Pois é. Você tem filhos?

Não, não tenho.
Ah, Cristiano!

Calma, eu tenho os meus vinte e poucos também.
Tá certo, dá pra economizar um tantinho. Mas é isso. Quero ter muitos filhos, morar em um lugar legal e curtir a vida.

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