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Nem precisa calçadeira…
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Sapato e bolsa de Leticia Utime,inspiração nas flores do mar.

Dizem que o que vai, volta; que toda ação provoca uma reação; que na corrente sempre tem quem reme contra ela. Faz parte do ser humano – e talvez aí resida a semente de sua evolução – distinguir-se, diferenciar-se, não aceitar receitas prontas. Não é uma generalidade, mas os que optam por escapar das “massas obedientes” têm como recompensa maior tirar “o homem da caverna”, apresentando-lhe novas soluções de vida e refinando suas exigências.

Felizmente observa-se nos dias de hoje, quando a informação instantânea derruba barreiras e o principal risco é justamente a padronização que engole individualidades e identidades, uma reação contra os produtos “feitos em série”. O objetivo é conferir a estes produtos atributos próprios que se traduzem em personalidade e assinatura, valores, aliás, em alta no mercado atual cansado de ofertar fórmulas repetitivas.

A moda – vitrine de comportamentos e reflexo das exigências de consumo – está plena de exemplos dados por designers que mergulham no processo criativo para encontrar diferenciais às suas coleções. Roupas e acessórios, que podem custar um pouco mais caro, atraem um público com capacidade para reconhecer nestes produtos, graças à informação que absorve e gerencia, características que não se desgastam com o tempo. E mais: valorizam a imagem de quem os escolhe, ao destacá-la na multidão da mesmice.

Muitas vezes não é preciso se fechar num laboratório para pesquisar novas combinações químicas na “invenção” de tecidos inusitados e cores chocantes. Afinal, dizem, o que vai, volta. E nesta maré, que resiste às imposições da globalização, a individualidade do que se veste pode se originar em descobertas caseiras. Pode estar no quintal, guardado no fundo de uma gaveta, ou nas lembranças, que todos acondicionam em caixas ou dentro de si.

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Sapato Edith Olga, da designer Patrícia Bonat.

No desejo de atender justamente a este apelo emocional – tanto de quem produz como de quem vai consumir o produto – é que cresce o interesse por novidades como os sapatos artesanais. Mantendo fidelidade ao feito à mão, eles valorizam quem os desenha, quem os fabrica e quem os usa. O conforto dos calçados costurados um a um é uma obrigatoriedade, mas a beleza e o estilo que proporcionam também são experiências únicas.

CASA DA VOVÓ

A curitibana Patricia Bonat, que acabou de lançar a marca de sapatos artesanais Edith Olga, exemplifica bem o que é esta proposta que alia o afetivo da inspiração familiar às expectativas de um consumidor bem informado. A designer busca o oposto do que vivenciou trabalhando em indústrias de produção rápida: ela não tem pressa em criar modelos, escolher os materiais, os aviamentos e iniciar a fase de plotagem.

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Sapatilha de crochê, como nos tempos da vovó da Edith Olga.

Sua experiência no setor da moda também conta pontos: formada em Estilismo de Moda (Senac) e Design de Produto (PUC), dinamizou, de 2006 a 2010, com Caroline Pigel, a grife Cabeça de Gato, que já tinha um viés de exclusividade nos arremates.

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A naciez do couro natural no sapato feito à mão. Da Edith Olga.

O sonho de Cinderela – ter os seus próprios sapatos – começou a se concretizar quando conheceu, há dois anos, uma fábrica de calçados em São José dos Pinhais, que produzia em pequenas quantidades. Hoje é sua parceira nos lançamentos da Edith Olga. Outra parceira preciosa é uma artesã, que faz o crochê de um dos seus modelos mais apreciados, uma sapatilha.

Patrícia faz questão de investir na matéria-prima para personalizar seu produto: tapeçaria rústica, jacquard de veludo, couro natural, aviamentos como renda e cadarços de algodão e metais em dourado.

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O clássico Oxford na versão artesanal de Edith Olga.

Edith Olga é a personificação da figura da avó de Patrícia Bonat, de quem emprestou o nome e herdou a paixão pelos gatos, fios e agulhas, e em cuja casa passou a fase mais doce da vida: a infância. “ A cada coleção, eu contarei um pouco da nossa história, mergulhando fundo nas primaveras, verões, outonos e invernos que andamos juntas, eu e minha avó”, revela a designer.

ARTE NO COURO

O trabalho manual também faz parte do universo criativo de Leticia Utime, que desenha sapatos artesanais e outros acessórios pensando num produto de qualidade, único e especial. Formada em Design de Produto, pela Universidade Federal do Paraná em 2006, sentiu-se atraída pelas possibilidades de trabalhar com calçados.

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A delicadeza do trabalho do couro com delicados recortes. Leticia Utime.

Fisgada pela paixão, buscou aperfeiçoamento na escola de modelagem do Senai/ Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, uma referência em informações técnicas sobre todo o processo de fabricação de sapatos. Foi nesta fase que conheceu o atelier, que é o parceiro atual de suas produções. Ao retornar a Curitiba trabalhou na Canalli e na Ecofabrica, mas seu desejo de buscar uma base para a criação de acessórios a levou para a Itália.

Na Capital do Design cursou pós-graduação em Fashion Accessories no Istituto Marangoni Milano, , em 2010, quando percebeu “o verdadeiro valor do fatto a mano, extremamente meticuloso, que envolve carinho e dedicação ao passar técnicas ao longo de gerações, “ segundo define.

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Sapatilha de Leticia Utime, conforto com uma pincelada de arte.

A marca Leticia Utime nasceu em fevereiro de 2011 e foi impulsionada pelo reencontro com o profissional do atelier de Novo Hamburgo. Participante de feiras internacionais (seu trabalho já foi premiado em Paris), ele se destaca pelo apurado artesanato na manipulação de peles. Assim, técnica e design se complementam na elaboração de produtos que num futuro próximo, prevê a estilista, terão a cara das duas marcas: Berlonzi e Leticia Utime.

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Águas-vivas e anêmonas nos pés do verão de Leticia Utime.

A coleção mais recente da dupla é tematizada na aphotic – uma brincadeira da vida marinha, que inclui a delicadeza das águas-vivas e anêmonas, as flores do mar. Uma inspiração que extrapola o desenvolvimento de sapatos e bolsas e passa para bijuterias com pedras naturais e lenços. A linha aphotic destaca a pelica lisa com pequenos cortes delicados e manuais, que resultam em relevo de flores e as peles “in natura” e trabalhadas que apresentam cortes, tingimentos e envernizações manuais, sempre com o toque artístico do “único e especial.”

NA PONTA DOS PÉS

As sapatilhas têm no resgate da memória um vínculo afetivo que explica a sua continuidade “na moda” há muitas temporadas. Qual menina não se imaginou uma bailarina? Pois foi capturando este sonho onipresente no imaginário feminino que nasceu a Tutu, com a proposta de vender exclusivamente sapatilhas.

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A magia do mundo do balé na proposta da Tutu Ateliê de Sapatilhas.

A ideia surgiu quando a dupla Gustavo Krelling, figurinista e artista visual, e Fabiana Montalvão, designer de sapatos e artista plástica, descobriu que tinha objetivos em comum na área da confecção de acessórios. Com a decisão de comercializar apenas online, eles investiram num site que reflete todo o romantismo e o encantamento de um ambiente por onde circulam bailarinas – tudo é muito delicado e atemporal.

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Leveza do figurino da bailarina transferida para a sapatilha da Tutu.

Na “parede” do atelier uma pintura rococó de Fragonard e animações lúdicas convidam à dança, enquanto se escolhe o seu par. Aliás, tutu é o nome da saia de tule do figurino de balé. Não por acaso a marca foi batizada Tutu Ateliê de Sapatilhas – dele saem modelos, fabricados no Rio Grande do Sul, que primam pelo tratamento artesanal, a qualidade e a graciosidade.

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Poás conferem ainda mais delicadeza às sapatilhas.

INFORMAÇÕES EXTRAS

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Sapatilhas da Tutu já têm fãs na Internet.

O artesanato, que motiva e inspira a criação e a produção de Edith Olga, Leticia Utime e Tutu, as une na proposta de ir na contramão de uma indústria pasteurizada e massificada. Isso não significa deixar de lado o aspecto positivo da globalização: o seu contato direto e instantâneo com o consumidor através da comercialização online. Aliás, Gustavo e Fabiana comemoram os 1.600 acessos que o site da Tutu teve nos dois primeiros dias após o seu lançamento. E Patrícia Bonat comenta feliz o fechamento de sua primeira encomenda com um cliente do Rio de Janeiro através do site da Edith Olga.

As três marcas curitibanas podem ser contatadas através de sites e blogs:

Edith Olga – www.editholga.blogspot.com
editholga.bonat@gmail.com

Tutu – www.tutusapatilhas.com.br
contato@tutusapatilhas.com.br

Leticia Utime – leutime.blogspot.com
leticiautime@gmail.com

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