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Quando lesões no cérebro criam molestadores sexuais
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A mãe de Diego Ferreira de Novais, o homem que ejaculou numa passageira no ônibus em São Paulo, disse que o filho era uma pessoa normal até sofrer um acidente de carro, em 2006. Após duas cirurgias na cabeça e duas semanas em coma, ele passou a constranger a família e abusar de mulheres na rua.

Talvez a mãe esteja certa quanto à causa dos problemas do filho. Desde os anos 1960 médicos estudam a relação entre lesões do cérebro e o “ISB”, sigla em inglês para “comportamento sexual inapropriado”. Há muitos relatos de homens que depois de fraturarem o crânio perderam a inibição e os freios sociais. Passaram a se masturbar em público e a abusar, molestar e estuprar mulheres e crianças.

Um estudo de 2006 analisou 476 homens que foram presos por diversos crimes sexuais e atentados ao pudor e passaram por uma avaliação forense. A conclusão: 49% deles tinham lesões no cérebro – a maioria causada por acidentes de carro, como a de Diego Novais.

O comportamento inapropriado é um entre tantos transtornos sexuais causados por traumas no cérebro ou lesões resultantes da demência. Médicos já diagnosticaram casos de obsessões, impotência, ejaculação precoce ou retardada, aumento e perda de desejo sexual e parafilia (o interesse sexual por pessoas dormindo ou inconscientes). Entre os relatos, há o de um homem que depois de sofrer um ferimento fronto-parietal adquiriu um impulso incontrolável de acariciar as mãos de mulheres enquanto elas dormiam.

“Na psiquiatria forense, os inquéritos realizados em populações de criminosos sexuais, mostraram a possível relação direta de lesão cerebral traumática prévia e crimes sexuais”, dizem os médicos Carlos Souto dos Santos Filho e Giancarlo Spizzirri numa revisão de 39 artigos sobre o tema.

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Deve-se a Phineas Cage, um operário de ferrovias dos Estados Unidos, a descoberta de que lesões no cérebro são capazes de mudar a personalidade e o comportamento. Em 1848, durante a explosão de pedras que atrapalhavam o caminho de uma ferrovia no estado de Vermont, Phineas foi atingido por uma barra de ferro na cabeça. O objeto atravessou do lado esquerdo ao topo do crânio, mas Phineas conseguiu sobreviver.

Só que com uma sequela considerável: ele virou outra pessoa. Antes um homem simpático e amigável, se tornou solitário, arrogante e mal-educado. Foi demitido do emprego por mau comportamento e nunca mais conseguiu se relacionar normalmente. Estudos posteriores explicaram que a barra de ferro afetou a área do cérebro responsável por processar emoções.

Como na história de Phineas Cage, talvez ferimentos no cérebro expliquem por que Diego Ferreira de Novais não se abala após ter sido preso tantas vezes por molestar e constranger mulheres nos ônibus e metrôs de São Paulo.

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