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O passado condena
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Texto publicado originalmente na edição deste sábado (26) do Caderno Verão da Gazeta do Povo.


A rapaziada há de se identificar com o que vou dizer agora. Porque férias na praia com a velha turma de amigos é mesmo uma coisa pra se guardar na memória. Mesmo que o cabra não se lembre de nada diante do excesso de água que tubarão não nada consumida.

Férias com a moçada é isso aí: aquele clima de camaradagem marota dos tempos da escola, em que todo mundo se apega à linguagem corporal e se comunica por meio de petelecos, safanões e chutes na bunda. Uma legítima aula de etiqueta e bons modos da vida adulta masculina. Sem se esquecer, é claro, da decoração arrojada e contemporânea de fundo para o enredo: cômodos que de tão organizados lembram vilarejos arrasados por bombardeios na Segunda Guerra Mundial. Com a diferença de que as vilas bombardeadas eram muito mais apresentáveis, é óbvio.

Pressionando um pouco o botão FF deste bate-papo, chegamos à conclusão inexorável que nos trouxe até aqui: a de que o império dos ogros é uma casa de praia repleta de homens solteiros.

Sim, um sujeito sozinho solto entre seus semelhantes no litoral é, sem dúvida, uma mostra viva da insensatez. Torna-se praticamente um náufrago, não de um navio que afundou, mas de sua própria reputação, que pode chegar facinho, facinho ao fundo do poço. Ou vai dizer que você nunca notou a quantidade de marmanjo cometendo barbaridades na praia num desses feriados bombados de ano-novo ou carnaval?

Nêgo não quer nem saber: veste sunga, touca e óculos de natação e mergulha de ponta na gasosa que passarinho não bebe. Aí fala bobagem, toma coragem pra dizer o que sente por aquela mocinha bonita e recatada, fica dando catiripapo de brincadeira, mas doídos, em tudo quanto é parceiro e, não raro, inventa de querer brigar, mesmo que o desafio seja diante daquele bombadão de praia que pode esmagá-lo num estalar de dedos.

De consolo, sobra a sorte das moças que não tiveram a infelicidade de cair na tentação de um desses sujeitos desgarrados da vida civilizada. Ou das que ainda não descobriram o passado de seus respectivos no verão de alguns anos atrás.

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