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A taxinha e a meia entrada no Festival de Teatro
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Não é de hoje que a meia-entrada e taxas de conveniência para ingressos de espetáculos causam polêmica. Basta circular por sites especializados no mercado cultural que encontraremos várias opiniões sobre o assunto. Na maioria dos casos podemos resumir a três tipos de personagens.

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O primeiro é o detentor do direito adquirido. Falo daquele que por uma das legislações vigentes em todo o país pode usufruir o direito de pagar 50% menos que outros em eventos culturais. Não abre mão do direito e sob qualquer suspeita aciona o PROCON, sempre pronto para defendê-lo. Mas afinal somos ou não somos iguais perante a lei?

O segundo é o artista ou produtor que defende o lado mercadológico da arte questionando as leis aprovadas de forma populista. Este muitas vezes repassa o custo do subsídio aumentando o valor da inteira fazendo com que na prática todos paguem mais. Mas afinal o evento tem ou não tem subvenção pública?

O terceiro personagem, geralmente mais esquecido, é aquele que não tem nenhum tipo de desconto e paga a conta de quem sempre paga menos. Este está refém do sistema, pois não tem lei nenhuma a seu favor e tão pouco pode aumentar ou reduzir o valor daquilo que vai pagar pela sua entrada. E foi este personagem, que o Festival de Teatro quis “proteger” na questão da taxa de conveniência.

Ah, tem mais um personagem, aquele que NÃO paga: Jornalista, crítico, patrocinador, amigo do artista, amigo do amigo do artista, e tantos outros, que ajudam muito a encarecer o ingresso. Pra esse só mesmo usando a frase de Fernanda Montenegro: “não me peça para te dar a única coisa que tenho para te vender”.

Mas, voltando à taxa de conveniência do festival de Curitiba. Pela primeira vez o festival tem três bilheterias em três shoppings distintos tentando cobrir todo o território de Curitiba. O sistema de vendas on-line também foi trocado e parece ser muito mais prático, eficiente e agradável aos olhos. Tudo isso gera custos “não culturais” talvez nem mesmo cobertos por legislação de incentivo à cultura. O festival não quis repassar estes custos aos valores de ingresso. Então se optou por separar o serviço “venda de bilhete” do serviço “arte e cultura”. Ora se a lei da meia-entrada é para o evento artístico-cultural, porque a simples prestação de serviços de ticketagem deve ser reduzida também em 50%?

Vamos por um momento pensar na hipótese absurda. Para ir ao teatro você tem de pegar um ônibus. Este serviço é operado pelo dono do teatro, através de outra empresa. Então eu tenho direito a pagar 50% na passagem. Ou 50% no estacionamento, ou no cafezinho servido pela bombonière. Quando termina o serviço cultural e começa o serviço puro e simples?

A verdade é que o setor cultural, e agora o esportivo com a polêmica da copa do mundo, são os únicos obrigados por lei a darem descontos. Estudante precisa de livros baratos, internet barata, ônibus barato e de cultura barata. Sobrou pra cultura. Ninguém liga, ou ligava pra ela. Aliás, “ninguém” é o quinto personagem que nunca pensa de onde sai o dinheiro para subsidiar tal milagre. Ou alguém acredita ainda que o idoso não paga passagem urbana em Curitiba? E o carteiro? Quem paga por isso? Nós pagamos. Todos nós somos os terceiros personagens esquecidos desta novela mexicana chamada meia-entrada.

Com a polêmica gerada pela taxa de R$ 3,00, cobrada somente dos que pagam menos, Leandro Knopfholz, diretor do festival de Curitiba quis dar uma de Robin Hood ao contrário. Cobrou dos pobres e abonou os… Abonou aqueles que sempre pagam a conta pela irresponsabilidade dos legisladores brasileiros. Nós!

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