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A luta pelo espaço
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Cada um na sua. Do dito guardador de carro ao catador de papel, passando pelo revendedor de folhas do EstaR e o cambista de moedas, é preciso madrugar e defender com unhas e dentes o seu pedaço. E alguns trocados. Como tudo é reflexo da sociedade, há quem fature mais explorando o trabalho alheio.

Assim, do gato que arrebanhava trabalhadores no campo, os chamados boias-frias, chegamos, inevitável, ao gato urbano.

Privatizando a via pública

Um desses boias-frias do asfalto mora no Boqueirão, mas trabalha no Juvevê, nas ruas próximas a um hospital. Virou guardador de carros. Isso em ponto privilegiado pelo movimento de veículos. Para não perder o espaço, disputadíssimo pelos colegas, é obrigado a amanhecer no pedaço. Assim, quem o traz (ou arregimenta) numa velha Kombi é o malandro federal, gato moderno. Que não traz só ele. Outros guardadores credenciados vão descendo em locais de propriedade exclusiva. Bobeou, dançou, perdeu o ponto.

– Pode deixar, eu cuido do carro, doutor! Tudo limpo!

Do talão que não vale 1 milhão

Já o revendedor de EstaR é explorado por quem adquire em quantidade os talões de estacionamento e repassa os ditos cujos para venda, ou revenda, folha por folha, acima do preço. No fim da jornada, presta contas. O grosso do faturamento fica com o patrão; sobram alguns trocados para o empregado sem vínculo.

Em algumas estações tubo, fim do expediente parte, das moedas é substituída por dinheiro papel. As moedas vão socorrer o pequeno comércio, onde ajudam a resolver o problema da falta de troco. O cambista é ressarcido, mas há, evidentemente, uma especie de bônus. Nos bares, ou em alguns bares, um aperitivo e um salgadinho. Na faixa, por supuesto.

O catador de papel, puxando carrinho ou não, também é obrigado a defender seu território. Principalmente de concorrentes que, ao menor descuido, atacam seu depósito, geralmente reduzido a um cantinho sob a marquise de um prédio.

– Ei, brother, isso tem dono!

“Atire uma moeda”

A propósito de sobrevivência, professor Afronsius citou um documentário de 1960: Tire Dié, “atire uma moeda”, de Fernando Birri. Apontado como o criador do Cinema Novo argentino, Birri mostra o drama de moradores da periferia de Santa Fé, nos anos 1950, quando a Província atraía o grande capital em investimentos industriais. De uma vila campesina muito pobre saem crianças para, junto aos trilhos, acenar aos passageiros do trem e pedir que joguem alguma moeda.

“Sem nada em suas mãos para trocar pelo dinheiro, correm apenas com um grito na goela sedenta, pedindo para que os passageiros lancem uma moeda”, como bem destacou um crítico de cinema.

ENQUANTO ISSO…

31 agosto (2)

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