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A vida é um tour
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Diante do inevitável, a morte, cada um pipoca a sua maneira. Há, inclusive, quem recorra à tanatologia. Mas, sem nenhuma confirmação vinda do além, parece que o melhor caminho é se socorrer no bom humor. Caso de um curitibano que quase bateu com as 10 devido a um problema cardíaco.

Superado o obstáculo, ao reencontrar os amigos, aflitos em saber o que tinha ocorrido, ele abria um sorriso e respondia, candidamente:

– Ora, apenas fiz um tour pelas UTIs de Curitiba.

A caminho do centro cirúrgico

Já um outro cabôco, amigo do Beronha, ao ser removido do quarto do hospital para a sala de cirurgia, aproveitou os últimos segundos de lucidez antes do efeito nocauteante da anestesia: acenava para as pessoas que estavam ou percorriam o corredor, profetizando:

– Adeus, adeus! Foi um prazer conhecê-los! A gente se reencontra lá, do outro lado!

Horas depois, acordou no leito do hospital. A primeira coisa que viu foi o dedo indicador da patroa, que disparava impropérios numa tremenda bronca:

– Seu palhaço! Tinha que fazer aquilo? Assustou pacientes, médicos e visitantes!

O insuperável humor bíblico de Lauand

Mas, e se ainda é preciso sair em defesa do bom humor, poder-se-ia citar um livro, O Bom Humor na Bíblia, do professor Luiz Jean Lauand.  Ensina ele:

– Na Bíblia, o bom humor de Deus se expressa inspirando ao hagiógrafo certos relatos e formulações divertidas que, pela acuidade, tornam-se mais sugestiva e facilmente recordáveis.

Em seus provérbios, comparações e nessa oriental arte de associação de realidades, o humor bíblico é insuperável. Alguns exemplos: “Goteira pingando sem parar em dia de chuva e a mulher briguenta são semelhantes!” (Pro 27, 15); “O preguiçoso põe a mão no prato: levá-la à boca é muita fadiga”.

Mais:

– Ao indicar, por exemplo, que é necessário prudência na escolha do conselheiro, o Eclesiástico (37, 11 e ss.) ensina – de modo vivo e concreto – que não se deve pedir conselho: “à mulher sobre a rival; ao medroso, sobre se é o caso de fazer guerra; ao negociante, sobre a mercadoria; ao comprador, sobre venda; ao invejoso, sobre gratidão; ao egoísta, sobre generosidade; ao preguiçoso, sobre qualquer trabalho; ao empreiteiro, sobre o acabamento de uma tarefa; ao servo indolente, sobre um trabalho”.

E o Quincas morreu sorrindo

Para encerrar, temos A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado, 1959. Joaquim Soares da Cunha, “respeitável cidadão casado e com filhos, que leva uma vida pacata de funcionário público”, decide viver como um vagabundo, “entregando-se aos vícios mundanos, especialmente a bebida, quando recebe o apelido de Quincas Berro D’água”. Recebe o apelido de Berro D’água “por um dia estar em um boteco, a Venda do López, e quando vai beber algo que pensa ser cachaça, assusta-se e berra para o Mercado todo ouvir, dizendo em alto e bom tom Ááááááguuuua! As pessoas junto dele em um primeiro momento assustam-se, mas depois caem na gargalhada e passam a chamá-lo não apenas de Quincas, mas sim, Quincas Berro D’água”.

Quanto à morte e a segunda morte de Quincas, restou a controvérsia: para a família, morrera de causas naturais; para os amigos, tirou a própria vida ao atirar-se nas águas do mar, pois temia ser enterrado num caixão. Rumo à cova, exibia um sorriso.

É preciso mais?

ENQUANTO ISSO…

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