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Coisas da casa-grande
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Sobre cubismo, muita gente pode falar de cátedra. E sobre os cubeiros, quem se habilita? Gilberto Freyre dedicou páginas e páginas de Casa Grande&Senzala à higiene doméstica e pública dos tempos coloniais. Uma cena comum era ver escravos carregando sobre a cabeça barris de excrementos, então conhecidos como tigres. E eles, os barris, fizeram parte do cotidiano por muito, muito tempo. Tanto que, no lugar dos escravos, entraram em cena os cubeiros, encarregando-se do nauseabundo serviço.

Na época, as casas não dispunham de fossas sépticas nem água encanada. Os dejetos eram descartados em rios. O cubeiro fazia a coleta. Só no final do século XIX a coleta e o destino dos dejetos começaram a ser modificados para entrar nos eixos.

“Estourando de cheios”

Conta Gilberto Freyre, à página 644, que os barris eram chamados de tigres. “Barris que nas casas-grandes das cidades ficavam longos dias dentro de casa, debaixo da escada ou num outro recanto acumulando matéria. Quando o escravo os levava é que já não comportavam mais nada. Iam estourando de cheios.”

Quanto à higiene pessoal, Freyre registra que, em 1850, os alunos de internatos nas capitais eram obrigados a banhar os pés nas quartas e sábados e a tomar banho geral uma vez por semana.

No momento inoportuno

Mesmo quem nasceu muitas décadas depois teve, no entanto, a chance de conhecer os cubeiros. Conta um amigo do professor Afronsius que, já 1950, ao morar em São Gabriel, Rio Grande do Sul, casas mais afastadas ainda dependiam dos cubeiros para despachar os dejetos. A propósito, conta um episódio:

– Na hora do almoço, família à mesa, eis que adentra ao recinto um cubeiro. Passa carregando um cubo vazio e sai com o outro, cheio – ou “estourando de cheio”. Diante da indignação do dono casa, ouve do cubeiro:

– Estão reclamando do quê? Isso é de vocês mesmos.

Em busca do vaso apropriado

Médico sanitarista e cientista, Antônio da Silva Mello publicou um estudo sobre “a atitude física da defecação” e, ato seguinte, inventou uma nova privada, “mais apropriada para os brasileiros”. Os vasos importados eram excessivamente altos, “considerada a estatura baixa da maioria da população”. A altura adequada do dito cujo deveria ser de 20 a 30 centímetros, defendia.

Providenciou o registro de patente da patente nos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, Portugal, Itália e Espanha, sem sucesso. Somente em 1964 o Ministério da Saúde liberou o uso do “artefato”, com a garantia de que não continha nenhum defeito técnico e apresentava vantagem entre as outras latrinas “por não permitir o respingo provocado pela queda das fezes na água”.

Quanto ao cubismo, que deixou Beronha boiando (ou à deriva), é outra história, bem mais apreciável e até fácil de deglutir.

ENQUANTO ISSO…

 

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