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Dá para esquecer?
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A propósito do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, vale a pena ler (ou reler) Operação Condor – O Sequestro dos Uruguaios, livro do jornalista Luiz Cláudio Cunha, 2008. E, talvez, pinçar breve episódio. A contribuição de um jornal paranaense para dar rosto a um dos agentes da Operação Condor.

Graças à coragem do então repórter Luiz Cláudio e do fotógrafo João Baptista Scalco foi possível impedir o sumiço (é, naquela época muitas pessoas simplesmente sumiam) de Lílian Celiberti e seus filhos, Camila e Francesca. Universindo Díaz já tinha sido levado, mas a operação deixara de ser secreta.

Tempos bicudos – e de pedaladas

Porto Alegre, 1978. Luiz Cláudio e Scalco trabalhavam da sucursal da Veja. Veja de melhores tempos. Um telefonema anônimo levou a dupla ao apartamento do casal uruguaio, onde topou com homens armados. O encontro frustrou a investida da repressão.

Apesar da censura e das forças ocultas, a imprensa nacional, depois da Veja, entrou em campo. Na reconstituição para continuar no caso, a partir da identificação dos policiais brasileiros envolvidos na etapa crítica da operação, marcou presença igualmente o vibrante CooJornal, editado pela Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre. E, em menor escala, mas não menos importante, um jornal paranaense, O Estado do Paraná.

Certo dia, um jornalista liga de Porto Alegre para Curitiba. Está à procura de foto de Orandir Ortassi Lucas.

– Quem?

– O ex-jogador do Atlético Paranaense.

– Quem? Orandir Ortassi Lucas?

Identificando o personagem

Graças ao então chamado setorista – repórter que cobria determinado clube diariamente – foi fácil matar a charada.

– É o Didi Pedalada.

O arquivo era um dos pilares do jornal, rico em fotos e textos – graças à iniciativa do jornalista Mussa José Assis, diretor de redação, um ex-Última Hora.

Havia muitas e variadas fotos de Didi. Em 1973/74, no Atlético, ele tinha sido titular e ganhou fama pelas pedaladas sobre a bola antes de dar o drible rumo ao gol. Jogavam na época Sicupira, Buião, Júlio, Torino, Alfredo, Neuri, Madureira e Sérgio Lopes. Uma das fotos era das mais apropriadas, quase 3×4. Aquela mesma, de registros oficiais.

O pedido foi prontamente atendido. A foto, batida bem de perto, quase fechada no rosto, a tal 3×4, foi feita ao ar livre, Didi à beira do campo, durante um treinamento no velho Joaquim Américo. Foi passada às pressas para Porto Alegre, sem pedir, é claro, o devido crédito – foto de fulano de tal.

Um dos envolvidos no sequestro já estava devidamente escrachado. Para o mundo, para quem quisesse ver.

Desfecho. Desfecho?

Além do então delegado Pedro Seelig, do DOPS, foram denunciados, entre outros, os policiais Orandir, o Didi, e João Augusto da Rosa, o Irno. Em 1980, Orandir e João Augusto foram a julgamento.

Mas o caso de Universindo Díaz e Lílian Celiberti, no entanto, ainda não está definitivamente encerrado.

A Operação Condor, também conhecida como Carcará, no Brasil, era uma  aliança político-militar entre ditaduras civis militares da América do Sul – Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai.

Devidamente instrumentalizada pela CIA e irrigada a mister dólar. Objetivo: coordenar a repressão e eliminar opositores nos países do Cone Sul.

ENQUANTO ISSO…

15 dezembro (1)

 

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