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Esta aqui vai para a série daquelas notícias de fazer o queixo cair. Esta semana soubemos que o governo do Equador está propondo instituir um teto para a remuneração do setor privado. Pela proposta, o “salário máximo” seria variável de empresa para empresa, e corresponderia a um múltiplo do menor salário pago aos profissionais de determinada companhia. A proposta ainda será debatida e precisa ser votada.

Pesquisa de lá e pesquisa de cá, descobre-se que a ideia não é nova. No ano passado, um projeto de lei semelhante circulou na Suíça, foi submetido a votação popular, e rejeitado.

Na proposta elaborada pelo Partido Socialista Suíço, o salário de um executivo poderia ser no máximo 12 vezes maior que o salário mais baixo pago por uma empresa. A ideia era que uma pessoa não poderia receber em um mês mais do que um empregado da mesma empresa recebe em um ano.

Já no projeto do Equador, a remuneração dos executivos não poderá ultrapassar 20 vezes o menor salário existente na companhia.

Vamos às contas: o salário mínimo do Equador é de US$ 340. Numa empresa que remunere apenas o salário mínimo a alguns de seus funcionários, o executivo mais bem pago não terá remuneração maior que US$ 6.800.

O racional por trás deste tipo de proposta é a diminuição da desigualdade social. Bonito na teoria, mas na prática é um tiro no pé.

Em primeiro lugar, nunca foi limitando os ganhos dos mais ricos que um país caminhou para a diminuição da desigualdade. Cabe aqui aquela famosa reflexão da então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, respondendo a um parlamentar da oposição e dizendo que, para ele e seu grupo político, importava mais era ver os ricos menos ricos, e não ver os pobres menos pobres. Uma proposta como essa não eleva o nível de remuneração dos que ganham menos.

A única maneira de isso ocorrer seria um raciocínio meio torto: se uma empresa precisa, por imposição do mercado e para conseguir atrair um alto executivo, pagar um salário condizente com sua posição, a remuneração dele vai puxar para cima o salário dos funcionários da base. Às contas novamente, com base na proposta do Equador: se a empresa só consegue atrair um bom CEO por, digamos, US$ 20.000 mensais, então o menor salário que ela poderá pagar para um funcionário será de US$ 1.000.

Novamente parece bonito, mas o que está em jogo ali é a sustentabilidade deste negócio no longo prazo. Sem ser sustentável, o negócio quebra, fecha, e os resultados disso já são conhecidos: desemprego, baixo investimento, queda de produção e diminuição da competitividade de um país. A consequência: aumento da pobreza e da desigualdade social – justamente o que se queria combater inicialmente.

Não podemos esquecer que, diminuindo a possibilidade de remuneração de seus executivos, empresas tornam-se pouco atraentes para profissionais de primeira linha, justamente aqueles que fazem grande diferença, que levam as companhias em que trabalham a projetos de crescimento, que consequentemente geram mais empregos e mais riqueza para um país.

E se a moda pega? Não foram poucas as vezes em que o Brasil importou algumas ideias mirabolantes de vizinhos latino-americanos.

 

# Falando em remuneração de executivos, acaba de sair do forno o 2014 AESC BlueSteps Executive Compensation Report, desenvolvido pela AESC – Association of Executive Search Consultants e seu serviço de carreiras, o BlueSteps. Falo dele no próximo post, mas se quiser já dar uma olhada, você encontra o relatório (em inglês) aqui.

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