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Como um cartum salvou o meu dia
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Domingo foi um dia de sol e friozinho convidativo para uma caminhada pela manhã até a banca de jornais, depois almoço em algum lugar com árvores e gramado ao redor e um passeio à tarde em qualquer lugar onde tivessem pessoas bonitas com sorrisos no rosto, certo?

Sim, mas por algum motivo entre os últimos minutos de sono e os primeiros até a pia do banheiro para lavar o rosto, um mau humor monstruoso tomou conta do meu ser, como o demônio possuindo o corpo de Regan, em O Exorcista. Só que pior.

Foi difícil domar a criatura. Domingos de sol e friozinho convidativos não significam absolutamente nada para o Drácula. Para mim o tempo se fechou e tudo eram árvores secas, relâmpagos e noite sem lua. Eu era uma criatura das trevas amaldiçoando até o reflexo no espelho que espertamente desapareceu para não ter que aturar a encheção de saco.

Até que comecei a ler os jornais na esperança de o dia passar mais rápido. Fui amaciado por algumas tiras em quadrinhos, depois uma charge e por fim… uma gargalhada inesperada emergiu com vigor das profundezas da minha faringe surpreendeu todo mundo, mais ou menos como se eu tivesse acordado de um coma induzido.


Um cartum de Christopher Weyant perdido no canto inferior da página foi responsável por extirpar o edema que se apossou do meu bom humor. Ele existe, eu sabia disso. Mas meus olhos estavam cegos e meu corpo esmaecido, como aquele rei persuadido por Saruman em Senhor do Anéis.

Não sei o que tem de especial nesse cartum. É só um cachorro numa palestra -provavelmente para outros cães – dizendo “em off: miau”. Em um episódio de Seinfeld, quando Elaine Benes resolve se tornar cartunista porque não acha a mínima graça nos cartuns da revista The New Yorker, o editor da publicação diz que “cartuns são como teias de aranha, não podem ser dissecados”. E tentar explicar um cartum é tão de mau gosto quanto colocar os joelhos em cima da mesa durante as refeições.

O fato é que esse desenho desligou uma chavinha que estava marcando “ódio” e mudou para “diversão”. Foi como mágica, parece que uma sombra pesada escorreu para uma fenda no solo e eu me tornei uma pessoa quase tão feliz quanto a de uma propaganda de absorventes. Os raios de sol voltaram a iluminar o domingo e eu ouvi uma musiquinha ao longe “o bem vence o mal, espanta o temporal”.

No Curitiba Social Media um cara citou Millôr Fernandes que dizia “Só existem dois tipos de humor, o que é engraçado e o que não é engraçado”. Eu discordo. Acho que existe humor. Ponto. Quem acha ou não graça nele é o leitor. Eu achei esse cartum genial, sensacional e recortei para guardar afetivamente nas páginas de algum livro. Outros provavelmente não acharão a mínima nesse desenho porque se divertem mais com o Bolinha dando uma ripada nas costas do Bola com um pedaço de madeira com um prego atravessado na ponta. O humor causa reações diferentes em cada pessoa e elas procuram aquele que se ajusta melhor a sua expectativa.

As vezes acho que o humor, em especial o cartum, é como maconha. Ele tem efeitos diferentes para cada organismo. Alguns morrem de rir, outros olham, olham, olham… e esquecem porque tavam olhando mesmo.

Os cartuns estão minguando das publicações impressas, seu habitat natural, e encontrar um assim no jornal, para mim, é como um biólogo quando acha por acaso filhotes de urso polar brincando despreocupadamente longe da mãe. Eu pergunto o que você está fazendo aí e então torço para que ele sobreviva, se reproduza e volte a povoar o planeta.

Acredito que, ao contrário das teorias mais pessimistas, o cartum não vai desaparecer de todo. Não enquanto caras como Christopher Weyant estiverem por aí. Thanx, Weyant. Você salvou meu dia e de ao menos mais duas pessoas que não foram massacradas por Cthulhu em pessoa.

(Benett)

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