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Na Era do Rádio – Um texto sobre o Operário de Ponta Grossa
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Lembro de ouvir pelo rádio partidas emocionantes do Operário lutando para voltar à primeira divisão na segunda metade dos anos 80. Os jogos jamais passavam na tv, ainda mais os da segunda divisão, então não me restava outra alternativa a não ser sintonizar a partida no velho rádio do meu avô e cruzar o máximo de dedos possíveis torcendo por dois preciosos pontos -naquele tempo as vitórias valiam dois pontos.

Meu avô havia sido um operário ferroviário de verdade e sentia um carinho especial pelo time. Ele dizia “para que torcer para time de fora? Temos que torcer pelo clube da cidade”. Foi o bastante para me convencer a torcer pelo Operário. E quando falo em torcer, não é simplesmente torcer para ele ganhar. É torcer para ele ter um time no ano seguinte, torcer para ele conseguir pagar a conta de água, luz e etc. Uma torcida afetuosa, acima de tudo.

Bem, por mais que o Fantasma não estivesse lá essas coisas em campo, aquela camisa de listras pretas e brancas fascinava os garotos da minha época. Todos os meus amigos torciam pelo Operário. Torciam, claro, para clubes do Rio ou São Paulo. No entanto, o Operário sempre teve um lugar de honra entre os átrios esquerdo e direito do pessoal do bairro.

Para nós era incrível ter um time de futebol da cidade. Soube inclusive que alguns colegas de infância no bairro Santa Paula chegaram a fundar torcidas organizadas, e viajam a todos os jogos do paranaense.

Os jogos da segunda divisão daquela época provavelmente não deviam ser lá essas coisas, mas a transmissão do radialista Osires Nadal deixava as partidas épicas e eletrizantes e eu ficava tenso com o ouvido colado no velho rádio do meu avô. Normalmente eram jogos duros que terminavam em 1 a 0 ou 1 a 1. Os principais rivais do Operário naquela luta –acho que isso foi em 87 ou 88- eram sempre a Platinense e o União Bandeirantes. Contra o Café, de Londrina, o Operário se dava bem. Mas Platinense e União era pedras no sapato.

Por falar em pedras, o principal jogador do time era um cara chamado Pedrada. Devia ser o camisa 8 ou 10, a bola sempre passava pelos seus pés, segundo a narração de Osires Nadal. Parecia que haviam uns 3 ou 4 Pedradas em campo. Lembro de outros jogadores dessa época: Charuto, Charrão e o atacante Dutra. Havia um zagueiro chamado Chicão que acho que jogou a carreira toda no Fantasma. O dono do gol era o mítico Pompéia, herdeiro do grande goleiro Dicar. Para mim, ele foi tão bom quanto o Jairo, do Coritiba.

O gol mais bonito da história do Fantasma, e que deve estar na mente de todos os torcedores, foi o gol espírita de Mica em cima do grande Cantarelli, do Flamengo. No final dos anos 80 os cariocas vieram disputar um amistoso em Ponta Grossa. Não trouxeram Zico, Bebeto e outros figuras. Mesmo assim foi 4 a 1 para o Mengo. Mas o gol do Mica…

Quase do meio campo, na lateral esquerda, Mica tentou levantar na área e a bola subiu, subiu, subiu e o vento mágico dos Campos Gerais a conduziu graciosamente para o fundo das redes, encobrindo o quase aposentado Cantarelli. Na Copa de 2002 quando Ronaldinho Gaúcho fez aquele golaço contra a Inglaterra, posso imaginar o Mica cochichando para os netos “ele quis fazer igual ao vovô”.

O bom de ser um torcedor de 13 anos e ouvir jogos no rádio é que, com os 22 jogadores, sua imaginação entra em campo junto e não importa se a partida é da primeira ou segunda divisão, se é campeonato paranaense ou a a Liga da Espanha. Os jogos são mágicos, podem ser o que sua imaginação quiser que seja. E pra mim, na distante Santa Paula da época, eram os jogos mais emocionantes do mundo.

Era para ter algo engraçado nesse texto. Bem, lá vai. Vocês sabiam que eu já fiz teste para ser jogador do Operário? Fui reprovado com quase tantos méritos quanto minhas reprovações em matemática na época. Para o bem do futebol e das canelas adversárias. Em 100 anos eu poderia ter sido o pior jogador da história do Operário, já pensou?

Benett, 30 de maio de 2012

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