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O bom moço foi dominado

Correndo o risco de ser envelopado em fios de teias para ser digerido pelos fãs do personagem, venho aqui a público dizer que não vi, não gostei e não gosto do homem-aranha. A terceira versão cinematográfica do fenômeno aracnídeo, estréia nesta sexta-feira (04/5) nos cinemas brazucas com estardalhaço. Não o aprecio nos quadrinhos e tampouco nos cinemas. Para mim, é um herói menor em vários sentidos do termo, mas, principalmente, o de ser um herói adolescente demais para o meu gosto. É como se o Robin surrupiasse de Batman o posto de personagem principal.

Tem outros super-heróis que eu não gosto, como o super-homem, ou aqueles símbolos da guerra (ou da guerra-fria), como o Capitão América, a Mulher-Maravilha, entre outros, mas isso não vem ao caso. Deixe eu tentar explicar por que não simpatizo com o homem-aranha.

Os heróis de quadrinhos que eu aprecio são aqueles com personalidades mais próximas do mundo real. Que perambulam por um tom cinza no conflito entre o bem e o mal. Têm crises existenciais por conta disso. Sabem que fazem um trabalho sujo, têm consciência de que na busca pela justiça viram justiceiros carniceiros, sempre com um pé na marginalidade da qual não conseguem fugir. São marginalizados e sofrem com a incompreensão e o preconceito por causa disso. Eles fazem uma diferenciação entre o que é justo e o que é a Justiça e, assim como muitas vezes na vida real, não conseguem conciliar as duas coisas.

São, ao mesmo tempo, deuses, humanos e diabos, como todos nós.

Vivem um dilema humano, ético e político. São exemplos de inadequação e constrangimento em um mundo sangrado pela corrupção e o descaso. Apesar de não serem apenas humanos, ou totalmente humanos, sabem que a desumanidade vive também, e muito, lá fora deles. O inferno são os outros, no amplo sentido da reflexão sartriana.

O homem-aranha tem uma única crise, a de querer e não poder ser ao mesmo tempo o humano e o herói. É uma crise adolescente, de construção da personalidade. Mas é sempre muito certinho, um bom moço que pode andar pelas paredes e lançar teias. A crise é apenas porque ele não consegue ficar junto da garota, uma viúva-negra às avessas. Para que o homem-aranha tenha um pé na marginalidade é preciso que algo sobrenatural aconteça, como se vê neste terceiro filme. É tudo previsível demais.

Quando este H-A 3 passar na televisão e eu não tiver nada melhor para fazer, então talvez eu veja.

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