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O lado oculto (e irreverente) da Suburbana
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Conheça sete personagens que ajudam a tornar o campeonato amador de Curitiba um prato cheio de histórias divertidas e curiosas

30/12/2013 | 00:03 | Maurício Kern, especial para a Gazeta do Povo

O gol de Marquinhos Lima no último minuto da prorrogação da terceira partida decisiva fechou em alto nível a edição 2013 daquele que é considerado o melhor futebol amador do Sul do país, a Suburbana de Curitiba. O fim dos sete anos de fila do Trieste – que bateu na final o Santa Quitéria, fora de casa – foi apenas uma das inúmeras histórias escritas dentro e fora de campo nesses cinco meses de disputa do torneio que envolveu 12 times, teve 101 jogos e 340 gols.

No campo esportivo, o Trieste, por exemplo, teve a volta de Ivo Petry, treina­­dor que estava na prancheta do time também em 2006, título anterior da equipe da colônia italiana.

A parceria entre Ivo Petry e o Trieste rendeu ainda atletas para equipes profissionais. Cinco jogadores do campeão do Amador local disputarão o próximo Campeonato Pa­­ra­­naense: o atacante Batata vai defender o Operário de Ponta Grossa; Marquinhos Cambalhota e Marquinhos Lima vão vestir a camisa do Cianorte; Pequi jogará no Grêmio Metropolitano; e Luciano, terá Prudentópolis como destino.

Repleta de coadjuvantes, calçando chuteira ou gritando forte na arquibancada, a competição é um prato cheio de histórias divertidas e curiosas. Confira sete per­­sona­­gens que ajudaram a dar vida à versão mais popular do esporte bretão na capital paranaense.

 

Vilson suburbana

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Taxista fecha a meta do Iguaçu

Vilson (foto), o goleiro do Iguaçu, que se tornou a estrela do duelo contra o Combate Barreirinha durante a fase final do torneio, jogou no extinto Colorado e passou pelas categorias de bases do Paraná Clube até se profissionalizar no Tricolor da Vila Capanema. O arqueiro de 41 anos defendeu o clube na década de 90, ao lado dos goleiros Régis e Neneca. Quando não está em ação na Suburbana, o goleiro do Iguaçu encara a boleia de um táxi nas ruas de Curitiba. Por coincidência, o presidente do Combate, Alvaro Cezar Winhaski, que também está na presidência da Rádio Táxi Capital, teve influência na decisão do goleiro de seguir na profissão de taxista. Vilson trabalha das 6 h da manhã até as 6 da tarde. Ele só folga aos sábados quando tem rodada no amador.

 

bombom suburbana

 

Doce camisa 10

Quem foi ao Estádio José Carlos Oliveira Sobrinho, no dia 3 de agosto, para ver a partida entre Capão Raso e Novo Mundo presenciou uma cena inusitada, porém costumeira na Suburbana. Sabonete, camisa 10 do Novo Mundo, aproveitava o tempo livre para vender bombons caseiros no estádio. Negociação que ocorre ali mesmo no alambrado. A bolsa recheada com os doces (foto) faz parte do kit básico do jogador – além de chuteira, camisa, meião e calção. A produção dos bombons caseiros é dividida com a esposa, Atie Naftati, diariamente. As vendas começaram na metalúrgica onde o jogador trabalha. Depois, os chocolates fizeram sucesso em um treino do Novo Mundo; rapidamente ganhando fama nos campos de várzea. Muitos dos clientes-torcedores aguardam o apito final do árbitro com o dinheiro na mão para não perder a sobremesa.

 

Peruquinha

 

Palhaço Peruquinha

Ex-goleiro do Vasquinho, time amador de Curitiba, o palhaço Peruquinha (foto) está há mais de 30 anos fazendo bicos de locutor e animando festas para crianças na capital. Em um sábado, no intervalo de uma partida da Suburbana, ele estava animando a criançada em um salão de festas que fica dentro do estádio do Trieste, em Santa Felicidade. Atividade que ele começou a praticar aos 16 anos, quando ensaiou as primeiras palhaçadas em um evento que tinha Rogério Ceni como principal convidado. O sucesso daquele dia serviu de incentivo para apostar na diversão como profissão. Assim, quando é dia de festa infantil no Trieste, o Palhaço Peruquinha sempre está presente, com um olho firme na criançada e outro, claro, no campo. Não é raro encontrar o palhaço em pé na arquibancada. Ali, porém, o protagonista se torna o respeitável público. Com orgulho.

 

cinegrafista da Suburbana

 

Coisa de cinema

Acostumado a filmar partidas de futebol, o cinegrafista da Suburbana gravou todos os lances da semifinal e a classificação suada do Trieste sobre o Combate Barreirinha, após 90 minutos de jogo, prorrogação e a decisão por pênaltis. Wasyl Stuparyk (foto), 66 anos, iniciou a carreira aos 12 anos, como operador de som de uma rádio. Ele trabalhava durante os jogos do Paranaense carregando fios, instalando maletas de transmissão, microfones, fones e linhas de som. Em 1994, trocou o trabalho com o som para se dedicar à imagem. Tornou-se cinegrafista e até hoje faz filmagens e edições de partidas de futebol amador e profissional.

Um fato curioso aconteceu na década de 90, em União da Vitória, quando filmava uma partida decisiva de um torneio da região. A equipe local havia agredido o árbitro. Wasyl, sempre atento, registrou tudo e após o duelo dois torcedores invadiram a cabine e o ameaçaram, exigindo a fita com as imagens da pancadaria. Entreguei a fita e os dois se acalmaram e foram embora rapidamente. Mas eles não imaginavam que eu havia retirado a fita original da câmera e colocado no bolso do meu colete após o final do jogo. Deixei uma fita virgem no lugar da original e eles caíram na minha arapuca, contou, aos risos.

 

coringa triestino

 

Coringa triestino

Marcos Antônio Anzolin (foto), 38 anos, além de fã do Trieste, é vice-presidente do clube. A relação deste torcedor com o time da colônia italiana de Santa Felicidade vem do berço. O pai Antônio (Russo), já falecido, levava Marcos, ainda criança de colo, para entrar com o time em campo, tornando-se assim o mascote do Trieste.

Marcos mora na rua do Estádio Francisco Muraro, o reduto triestino. Assim, cresceu (literalmente) dentro do clube, tanto que foi convidado a compor a diretoria, como vice-presidente. É um típico coringa: nos dias de jogo, cuida da recepção da arbitragem, segurança no estádio, imprensa, portaria e logística.

O fiel torcedor tem uma partida marcada na memória: a final da Taça Paraná, em 1985, entre Municipal de Jacarezinho e Trieste. Para aquela decisão, a delegação saiu de Kombi de Curitiba, num domingo pela manhã, chegando à tarde em Jacarezinho. O Trieste jogava por um empate, pois havia vencido em casa por 3 a 2. A partida estava empatada por 1 a 1 e, por pressão do time local, o árbitro arrastou o duelo até os 60 minutos da segunda etapa. Escureceu e terminou o jogo, o Trieste conquistou o título e precisamos sair de campo escoltados pela polícia, sem poder comemorar na casa do adversário, relatou.

 

tatuados do Pilarzinho

 

Tatuados

Os torcedores apaixonados costumam realizar promessas em prol de seus clubes. Foi o que levou os caseiros Paulo e Fabiane Mattes a desenhar na pele o símbolo do Operário Pilarzinho, em 2013. Eles cumpriam promessa pela conquista do título da Série B da Suburbana do ano anterior. A relação com o clube é tão estreita que os caseiros do Pilarzinho moram com as filhas Melany, 8 anos, e Danrhara, de 13 anos, dentro do Estádio Bôrtolo Gava, há nove meses. O amor pelo clube é acima da dor, comentou Fabiane, sobre a tatuagem (foto). A paixão pelo clube é tamanha que eles assistem a todos os jogos da equipe, dentro ou fora de casa. Cuidamos do Estádio Bôrtolo Gava com muito amor e carinho. Juntou a fome com a vontade de comer, pois não saímos do clube, contou Paulo.

 

Artilheiro Luizinho

 

Do apito à artilharia

O palco é o mesmo; a função é que mudou bastante. Acostumado a trajar as chuteiras como parte do uniforme de árbitro, Luizinho (foto), de 32 anos, decidiu aposentar o apito e mandar a bola na rede dos adversários.

Formado há 13 anos no quadro de árbitros da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Luizinho chegou a comandar uma partida profissional, alguns jogos no amador curitibano, mas não embalou na profissão. Meu hobby é jogar futebol amador, destacou Luiz Andreata Gandin, cuja missão, aos sábados, é balançar as redes dos rivais do Bangú. A escolha parece ter sido acertada. Neste ano, Luizinho recebeu o troféu de artilheiro da Série A na Suburbana, com 16 gols.

Fotos: Maurício Kern

 

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