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 | Rosano Mauro Jr./Divulgação
| Foto: Rosano Mauro Jr./Divulgação

15 das 21 formigas gigantes da exposição sofreram desmembramentos. Seis delas foram completamente destruídas.

Exposições

Veja esta e outras mostras no Guia Gazeta do Povo

  • Mesmo destruídas, as peças continuam expostas no Jardim Botânico
  • O arquiteto Guilherme Sant’Ana (à esq.), idealizador do Giant, e Thiago Daher, produtor do projeto: surpresa com a velocidade da degradação

O público que for à exposição Giant III, que fica no Jardim Botânico até o dia 30 deste mês, vai encontrar uma obra bastante diferente da que foi montada no dia 30 de agosto, no gramado do parque (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). A intervenção urbana, que consistia em 21 formigas gigantes enfileiradas próximas à estufa, ganhou ares de escavação de fósseis depois de ser parcialmente destruída pelos visitantes ao longo do último fim de semana. Resistentes à ação do tempo, mas não ao peso de visitantes que se sentaram sobre elas (entre outras ações), seis peças foram totalmente destruídas e quinze sofreram algum tipo de desmembramento.

O cenário é valioso para os idealizadores da obra, já que uma de suas propostas é questionar a relação entre o público e as obras de arte. Um vídeo com o registro dessa interação, dirigido por João Marcelo Gomes, deverá ser publicado na internet em novembro. A rapidez com que a obra se deteriorou, no entanto, surpreendeu negativamente seus criadores. "A expectativa era de que as pessoas vissem, tirassem fotos, postassem nas redes sociais, fizessem piqueniques – enfim, usufruíssem de uma peça de arte fora do museu", diz o arquiteto Guilherme Sant’Ana, idealizador do projeto.

A destruição motivou uma espécie de manifesto, divulgado pelos criadores da obra para a imprensa, que questiona o comportamento do público curitibano. "Uma depreciação até prevista para ocorrer naturalmente ao longo de 30 dias de exposição aconteceu em menos de 30 horas, isso tudo numa cidade onde supostamente ‘não se pisa na grama’", diz o texto, que também identifica sarcasmo e ignorância na interação do público com as obras de arte.

"Existe um amargor, claro. É difícil, é nosso trabalho, criamos isso aqui. Mas achamos bom aproveitar para passar a questão para frente. O que os curitibanos acham disso?", explica o produtor da Giant III, Thiago Daher.

Perguntas

Procurada pela reportagem para analisar o comportamento do público da exposição, a artista Deborah Bruel, professora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, afirma que a questão vai além da interação das pessoas com a obra de arte. "É uma discussão complexa, de ordem social, sobre como experimentamos a cidade", afirma, em entrevista por telefone. "Sem a chancela de uma instituição que a resguarda como trabalho de arte, a obra está sujeita a sofrer como sofre o mobiliário urbano. Talvez seja uma demonstração de como o público se relaciona com as coisas: ‘não é meu, está aqui, e posso fazer o que eu quiser’", analisa.

Novo significado

De acordo com Daher e Sant’Ana – que fez outras duas mostras da série Giant em 2009 e 2010 – a ideia da obra nunca foi testar o público. Mas eles reconhecem que a destruição deu um novo significado e valor estético ao trabalho. "O único problema de uma deterioração tão veloz é que está privando outras pessoas de verem a obra", diz Sant’Ana. "Mas, sem dúvida, ela faz parte da obra de rua, que lida com a realidade. Esse todo se transforma na obra. É uma performance coletiva."

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