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Dane DeHaan é o jovem que vai a um spa misterioso tentar descobrir o que aconteceu com seu superior | Twentieth Century Fox/Divulgação
Dane DeHaan é o jovem que vai a um spa misterioso tentar descobrir o que aconteceu com seu superior| Foto: Twentieth Century Fox/Divulgação

Com quase duas horas e meia de duração, “A Cura” pode se qualificar como o suspense mais longo e agonizante do mundo. Belamente perturbador, o novo filme de Gore Verbinski se recusa a mostrar seus segredos por boa parte de sua duração, o que cria uma aura de mistério tão insanamente impenetrável que é impressionante que as pessoas não saiam do cinema antes do clímax. O fato de que a maioria não sai se deve, provavelmente, à maestria de Verbinski, que cria um híbrido entre thriller psicológico e horror corporal.

Quando a represa de sentimentos provocados pelo filme finalmente se rompe, um último jorro de esquisitice e transgressão acontece tão rápido que é difícil de processar (como uma fervura inchada que expele seu conteúdo - surpreendentemente bagunçado e doloroso, mas também um grande alívio).

O fato de que apenas parte disso faz sentido não prejudica o que é, pelo menos em termos de construção, um belo filme. O cinegrafista Bojan Bazelli, que já tinha trabalhado com Verbinski em “O Chamado” (2002) e “O Cavaleiro Solitário”, usa uma paleta de brancos porcelana e azuis frios que ajuda a criar uma onírica sensação de receio e irrealidade que penetra a maior parte do conto gótico.

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O filme se passa em um afastado sanatório suíço, onde um poderoso financista americano (Harry Groener) permanece no spa mais do que as duas semanas de férias, fazendo com que um de seus subordinados (Dane DeHaan) seja enviado de Nova York para recuperá-lo. A partir de então, o enredo (de Justin Haythe) apresenta enigmas não respondíveis pela maior parte do tempo. Quando o subalterno, chamado Lockhart, chega, ele descobre que o local é gerido por autômatos alpinos. (A central de seleção de elenco de Zurique deve ter mandado para Verbinski todos os figurantes que encontraram com “habilidade de encarar de forma ameaçadora”).

Os planos de Lockhart de buscar seu chefe e voltar para casa dão errado quando ele quebra uma perna, o que o força a convalescer no que parece uma mistura entre uma enfermaria do começo do século 20 e o castelo do Drácula. Todos os pacientes estão perturbados, andando letargicamente pelos cantos em longos roupões brancos ou se ocupando de jogos entre os tratamentos não especificados em uma ala privada.

A única pessoa mais nova que Lockhart é Hannah (Mia Goth), aparentemente uma adolescente descrita pelo sinistro diretor (Jason Isaacs) como um caso especial. Hannah carrega consigo um frasco de extrato de vitamina que, quando Lockhart prova, descreve como um “peixe suado”.

Essa descrição vai voltar para assustá-lo - e te assustar - mais tarde. Mas até lá, Lockhart sofre com alucinações (ou não) envolvendo Hannah, enguias do aquífero da montanha e saunas sem portas.

Em determinado momento, ele e Hannah saem para tomar uma cerveja no vilarejo vizinho. Curiosamente, o lugar parece inabitado, exceto por uma gangue de punks ameaçadores, um oficial militar misterioso com uma coleção de capacetes da Primeira Guerra Mundial e - apesar da aparente ausência de fazendeiros - um veterinário. O encontro entre esse personagem e Lockhart inclui uma cena gratuitamente nojenta, uma das várias do filme.

O que está acontecendo?

Apesar do tratamento consistir em aparentemente nada mais do que água mineral, Lockhart penetra numa neblina de atordoamento, chegando até a dizer, como os outros pacientes da clínica, que nunca se sentiu melhor em sua vida. Em um ponto mais avançado do filme, no momento em que outros thrillers já começaram a parcelar algumas das respostas, você vai começar a coçar a cabeça e se perguntar o que está acontecendo.

Manter a tensão por tanto tempo é uma ordem de cima. E Verbinski quase tem sucesso. O problema com “A Cura” não é a tentação de largar tudo antes do fim, nem mesmo o fim. Quando o clímax finalmente chega, ele vem com um estimulante rajada de um absurdo extravagante, exibicionista e depravado que brilha com um tipo de genialidade perversa.

Mas a maneira com que o fim se configura não tem lógica, que é o oxigênio vital do filme. Como Lockhart, você pode cambalear para fora do cinema se sentindo revigorado e um pouco confuso ao mesmo tempo.

Tradução: Gisele Eberspächer
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