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Léa Seydoux ganhou fama no filme “Azul É a Cor Mais Quente”. | Divulgação
Léa Seydoux ganhou fama no filme “Azul É a Cor Mais Quente”.| Foto: Divulgação

Os vestidos, os cenários e a recriação detalhista de época dão a primeira impressão de que “O Diário de uma Camareira” é mais um daqueles filmes históricos feitos para satisfazer o espectador com fascínio decorativo.

Dramas ambientados no passado são uma constante na obra do diretor francês Benoît Jacquot. Por isso, não surpreende o interesse do cineasta em filmar uma história já levada ao cinema antes por monstros sagrados do porte de Jean Renoir (numa adaptação satírica em 1946) e Luis Buñuel (numa apropriação fetichista em 1964) sem temer inevitáveis comparações.

Mas as qualidades desta terceira adaptação do romance de Octave Mirbeau, publicado em 1900, não se resumem à fidelidade maior ao texto original. Como se trata de uma releitura, seu interesse depende de como o cineasta revela aspectos subjacentes e projeta o livro no presente.

O tema social da exploração e da revolta, fundamento do livro do escritor e polemista francês, ressurge conectado a questões de fundo político não apenas francês.

O filme conta o percurso de Célestine (Léa Seydoux), jovem empregada que consegue um posto numa casa aburguesada. Lá, passa a ser submetida à mesquinhez da patroa e ao assédio do patrão, enquanto observa a revolta reprimida e a subserviência calada dos outros empregados.

História

Apesar de ambientado no início do século passado, “O Diário de uma Camareira” de fato ausculta um presente em que o cultivo do ódio volta à normalidade, como se a história não fosse mais que uma maldição pronta a se repetir.

O material original tinha como principal intenção denunciar a crueldade da luta de classes, enfatizando o poder escravizador da burguesia sobre seus domésticos.

Jacquot não descarta essa possibilidade, mas a trata de modo caricatural, mostrando a patroa tal como a rainha má da Branca de Neve.

O foco da releitura, no entanto, não se limita ao tema da opressão e se interessa também pelos efeitos distorcidos da repressão.

A servidão voluntária de Célestine emerge como um modo de compensar uma sexualidade insatisfeita, enquanto o antissemitismo de Joseph (Vincent Lindon) revela uma perturbação que se descarrega contra o primeiro alvo que lhe aparece.

Depois de mostrar a Revolução Francesa do ponto de vista de uma criada de Maria Antonieta no formidável “Adeus, Minha Rainha” (2012), não é por acaso que o cineasta escolheu a mesma atriz, Léa Seydoux, para o papel de camareira.

O intervalo de um século entre aquela história e esta reafirma a vigência da fórmula “algo deve mudar para que tudo continue como está”, célebre sentença de “O Leopardo”.

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