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“Mulher do Pai” se passa em uma pequena cidade próxima à fronteira Brasil-Uruguai | Divulgação/
“Mulher do Pai” se passa em uma pequena cidade próxima à fronteira Brasil-Uruguai| Foto: Divulgação/

“Mulher do Pai”, da diretora gaúcha Cristiane Oliveira, teve sua première internacional nesta 67ª edição do Festival de Berlim, na Mostra Generation, seção da Berlinale destinada aos jovens.

O filme tinha tido estreia nacional no Festival do Rio, onde ganhou o prêmio de direção, atriz coadjuvante para a uruguaia Verónica Perrotta (“Whisky”) e melhor fotografia para a curitibana Heloisa Passos. Residindo em São Paulo, ela tem no currículo prêmios em festivais importantes como Sundance, nos EUA, e Gramado.

A história – ambientada em uma pequena comunidade próxima à fronteira do Brasil com o Uruguai – mostra a transformação de uma complexa relação entre pai e filha.

Ele é Ruben (Marat Descartes), um homem de 40 anos que ficou cego ainda jovem. Ela é Nalu (Maria Galant), uma adolescente de 16 anos que está se tornando mulher. Eles precisarão aprender a se tratar como pai e filha depois da morte de Olga, mãe de Ruben, que os criou quase como irmãos. O afeto que surge entre ambos entra em conflito quando Rosario, uma atraente uruguaia, ganha espaço em suas vidas.

O drama do rito de passagem da jovem é abordado com cuidado por Cristiane em ritmo lento, intimidade respeitosa e sutil proximidade física.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Cristiane falou de sua expectativa sobre a seleção na Berlinale.

“Estrear na Generation possibilita ao filme se inserir numa discussão que me interessa sobre a juventude, não como algo homogêneo, mas com um olhar para sua diversidade”, afirmou a diretora que também está nesta edição do evento como um dos títulos selecionados para participar do Talents.

“Para mim, uma seleção dessas representa o reconhecimento de uma longa trajetória, não só minha, mas de diversos parceiros de trabalho meus. Trajetória que também foi coroada com a seleção para o Talents de Berlim, espaço de oficinas e networking do Festival”, diz.

De fato, a Berlinale já participava da carreira de sucesso do filme, desde o seu desenvolvimento quando “Mulher do Pai” ganhou o VFF Talent Highlight Pitch Award, no Talent Project Market do Festival, o que certamente ajudará também na sua comercialização.

“Berlim, além de uma vitrine importante para o cinema internacional, é um festival que tem um mercado forte, o que abre possibilidades para o trabalho de vendas do filme a outros territórios”, destaca Cristiane, que aposta na identificação do filme com o público jovem e engajado que caracteriza o perfil da Mostra.

“O peso de uma cultura patriarcal, a marginalização dos jovens que vivem no meio rural, a absorção da tecnologia no cotidiano, sexualidade e família são alguns dos temas levantados pelo filme e que espero poder debater com o público. De alguma forma, espero participar da formação de quem tomará as decisões no futuro, os jovens de hoje”, ressalta.

“Mulher do Pai” tem três sessões programadas no festival e concorre ao Urso de Cristal, cuja escolha é feita por um júri de adolescentes.

Chileno ovacionado

Com sua cinematografia cada vez mais constante nos festivais mundiais, o Chile marcou presença expressiva nesta 67ª edição do Festival de Berlim.

“Una Mujer Fantástica”, de Sebastian Lélio, era aguardado com expectativa e foi ovacionado, tanto na prévia para a imprensa quanto nas sessões de público.

Até agora, é um dos candidatos mais fortes para ganhar o Urso de Ouro e lidera a cotação da Screen, revista especializada em cinema, que dá uma prévia dos favoritos.

Lélio está de volta ao festival, onde teve sucesso em 2013 com “Glória”, que saiu de Berlim com vários prêmios: da Confederação das Artes, o Ecumênico e ainda com o Urso de Prata de melhor atriz para Paulina García, como a personagem título.

Seu novo filme é protagonizado por Daniela Vega como Marina, uma transexual que enfrenta o drama da morte do seu noivo, Orlando (Francisco Reyes). Para piorar, ela tem que suportar o repúdio da família de Orlando. Ninguém a quer por perto, mas Marina não tem intenções de sair de cena.

Toda a trama transcorre em quatro dias e também atuam no filme Aline Kuppenheim, Luis Gnecco e Amparo Noguera.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Lélio falou sobre seus personagens prediletos – as mulheres fortes, sempre presentes em seus filmes – sobre o elenco e novos projetos.

Qual a principal motivação para fazer novamente um filme sobre uma mulher forte como tinha sido “Glória” e agora “Una Mujer Fantástica”?

A personagem Marina e a atriz Daniela Vega foram uma inspiração. Marina e sua valentia empurram o filme até um ponto de ousadia que, talvez eu mesmo como cineasta, não teria podido chegar com um personagem mais convencional. O fato de ser uma mulher forte é produto principalmente de uma intuição e do desejo de falar de um personagem feminino central e não um produto de uma agenda temática premeditada; há um interesse de minha parte de falar do feminino, de explorá-lo, de retratá-lo, que vem de um lugar muito mais intuitivo do que intelectual.

Como definiria a personagem?

Marina Vidal é um personagem que oscila, que muda, que se nega a ser definida somente numa palavra. Nesse sentido, o filme ressoa com sua personagem porque a história e sua própria identidade também oscilam, mudam... O filme transita por gêneros distintos tal como o personagem que é muitas coisas de cada vez. Por fim, Marina batalhou para se transformar e conseguiu. E está completamente preparada para o mundo, o problema é que o mundo não está preparado para ela.

Por que a decisão de que a protagonista fosse de fato transexual, como é o caso da atriz Daniela Vega?

Se não fosse dessa forma, não sei se teria feito o filme. O fato de ser uma mulher trans faz com que nos esqueçamos de qualquer teoria sobre o assunto. Daniela não é uma atriz representando algo, simplesmente ela é. Por trás de toda a narrativa sofisticada que é o filme, há alguém real que cria uma tensão muito especial no contexto da história.

Seus filmes têm sempre uma identificação grande com os espectadores. Que respostas espera agora em Berlim?

É difícil prever o que pode ocorrer; quando alguém faz um filme está tão perto dele que paradoxalmente deixa de vê-lo. Mas tenho muita curiosidade e entusiasmo de ver como será recebido. Creio que a Berlinale é uma vitrine poderosíssima e é um privilégio que tanta gente assista ao filme no seu nascimento. Além disso, o fato de a Sony ter comprado o filme, o entusiasmo que o trailer tem despertado são alguns dos sinais do interesse que “Una Mujer Fantástica” pode gerar, mas o que predomina na equipe é a curiosidade de ver como ela é recebida e qual será seu caminho.

Tem novos projetos para um futuro próximo?

No momento, estou terminando de filmar um longa-metragem em Londres chamado “Desobediência” protagonizado por Rachel McAdams e Rachel Weisz.

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