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Hector Babenco, o argentino que retratou o Brasil como poucos

Diretor de “Pixote” e “Carandiru” morreu nesta quarta-feira (13), aos 70 anos

Hector Babenco dirigiu 12 longas-metragens | Carlos Cecconello/Folhapress
Hector Babenco dirigiu 12 longas-metragens (Foto: Carlos Cecconello/Folhapress)

Hector nos deixa de súbito, mas sua obra, não! Plena de indagações e angústias, sim, ela vai permanecer

Sylvio Backcineasta

Por razões históricas e especialmente futebolísticas, criou-se no Brasil uma rivalidade com os argentinos. Para muitos, falar mal dos vizinhos e tirar sarro a cada derrota da seleção deles é quase uma obrigação. Logo, não deixa de ser irônico que um dos maiores cineastas da história do Brasil, um dos que levaram mais longe o nome do país, seja...argentino. E acaba de nos deixar. Aos 70 anos, Hector Babenco morreu na noite desta quarta-feira (13).

Olhando a carreira do cineasta, é de surpreender que tenha feito somente 12 longas em mais de 40 anos. Quando se pensa no nome Hector Babenco, a imagem que vem à mente é de alguém que fez história no cinema nacional. Pode não ter sido tão profícuo, mas cada obra deixou uma marca definitiva.

5 filmes essenciais na obra de Hector Babenco

Nascido em Mar del Plata, um dos principais destinos turísticos do litoral argentino, resolveu correr a Europa e se instalou no Brasil aos 19 anos. Começou como fotógrafo e fez seu primeiro documentário em 1972, sobre o Museu de Arte de São Paulo (Masp). No ano seguinte retratou o piloto Emerson Fittipaldi em “O Fabuloso Fittipaldi”, e partiu para a ficção com “O Rei da Noite” (1975).

Realidade e ficção se cruzariam naquilo que seria o início da consagração. “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1977) reconstituía a trajetória de uns dos maiores criminosos da história do país e já revelava o olhar aguçado do argentino sobre a realidade local. Talento evidenciado de vez quatro anos depois, com “Pixote - A Lei do Mais Fraco”, um poderoso retrato daquele que até hoje é um dos nossos maiores problemas sociais: a criminalidade infantil.

Veja a repercussão da morte do diretor

“Pixote” foi indicado ao Globo de Ouro, reverenciado por críticos estrangeiros e abriu as portas de Hollywood ao argentino-brasileiro. Em 1985, dirigiu William Hurt, Raul Julia e Sonia Braga em “O Beijo da Mulher Aranha”, drama político que rendeu a Babenco uma indicação ao Oscar e deu a estatueta a William Hurt. Em seguida vieram “Ironweed” (1987), estrelado por Jack Nicholson e Meryl Streep, e “Brincando nos Campos do Senhor” (1991), com Tom Berenger e Daryl Hannah.

Como em Hollywood o que conta é bilheteria, Babenco teve de dar as costas aos EUA e retornar às origens. Isso em meio à descoberta de um câncer, contra o qual lutou durante oito anos. Surgia então uma nova faceta do cineasta, mais intimista e sem pudor em transpor seus dramas pessoais para a tela. “Coração Iluminado” (1998) retrata, com tintas autobiográficas, um homem que retorna à Argentina para reencontrar o pai.

O retorno ao Brasil das mazelas aconteceu com “Carandiru” (2003), superprodução que, apesar das irregularidades, resgatou o cineasta que soube, como poucos, tratar de criminalidade sem descambar para o maniqueísmo. Quatro anos depois, um novo reencontro com a Argentina em “O Passado”, drama sobre relacionamentos adaptado da obra do escritor Alan Pauls.

Nenhuma obra, porém, foi tão autobiográfica quanto seu último filme, “Meu Amigo Hindu”, lançado no ano passado. Willem Dafoe vivia o alter ego do cineasta durante sua batalha contra o câncer. Durante a divulgação do filme, em outubro, o diretor exibia uma aparência abatida, mas continuava falando de forma apaixonada sobre fazer cinema.

Em uma dessas entrevistas, Babenco abordou a morte e o legado de quem se vai. “Não vejo a morte como a ausência definitiva de alguém. As coisas boas que ele deixou, ficaram. A morte não faz a roda do mundo girar”, disse.

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