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Time de primeira: o roteiro teve a mão de Marcos Bernstein, que tem entre seus trabalhos “Central do Brasil”, de Walter Salles. A responsável pela direção de arte é a alemã Brigitte Broch, que já tem um Oscar na estante por “Moulin Rouge”. | /Divulgação
Time de primeira: o roteiro teve a mão de Marcos Bernstein, que tem entre seus trabalhos “Central do Brasil”, de Walter Salles. A responsável pela direção de arte é a alemã Brigitte Broch, que já tem um Oscar na estante por “Moulin Rouge”.| Foto: /Divulgação

São tempos estranhos esses que estamos vivendo no Brasil. Tudo parece descambar para a divisão política, por mais inofensivo que pareça ser. Com o cinema não seria diferente. De repente, a escolha do filme indicado para representar o país na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, para a qual poucos davam bola, se tornou uma guerra. Quando “Aquarius”, filme de Kléber Mendonça Filho que se tornou símbolo da contestação ao impeachment, foi preterido por um tal “Pequeno Segredo”, sobrou para o vencedor. Poucos tinham visto o filme, mas muitos se apressaram em atacá-lo.

As críticas ao filme de David Schurmann apontavam em todas as direções possíveis. Não era uma história que representava o momento conturbado que vivia (e ainda vive) o país. Não era um filme político, questionador. Ninguém tinha visto. Nem lançado nos cinemas foi. Passada a tormenta e com os ânimos acalmados, “Pequeno Segredo” enfim chega ao público nesta quinta-feira (10). E aí será possível reconhecer: justiça foi feita. É, sim, o filme que merece representar o Brasil na corrida pelo Oscar.

Como, desde o início, as discussões enveredaram para a comparação com “Aquarius”, é preciso ressaltar: são dois filmes com propostas distintas, cada um com suas virtudes e defeitos. De fato, “Pequeno Segredo” é um drama sem ambições políticas, que se dispõe a narrar uma história de família. No caso, a família do próprio diretor, famosa por viajar o mundo a bordo de um veleiro. David conta a trajetória da irmã adotiva, Kat, que morreu aos 13 anos, devido a complicações decorrentes do vírus HIV.

“Quando meus pais adotaram a Kat eu já tinha a ideia de fazer um filme sobre isso, porque era uma história incrível”, contou David em entrevista à Gazeta do Povo. O projeto começou a sair do papel em meados de 2008, dois anos depois da morte de Kat. “Desde os 13 anos eu sonhava fazer um filme de ficção. E, para mim, a estreia tinha que ser forte”, diz o cineasta, que até então tinha no currículo documentários sobre a família Schurmann e “Desaparecidos”, um curta-metragem de terror.

A narrativa de “Pequeno Segredo” se divide, de início, em três núcleos. O primeiro, do casal Heloísa (Júlia Lemmertz, em grande atuação) e Vilfredo (Marcello Antony) com Kat (a estreante Mariana Oliveira) já no início da adolescência em Florianópolis. O segundo, em Belém, onde o neozelandês Robert (Erroll Shand) conhece a cabocla Jeanne (Maria Flor). E, por fim, na Nova Zelândia, onde vive Barbara (Fionnula Flanagan), uma senhora que cuida do marido doente. Três pontas da história que vão se interligando.

A disposição de Schurmann em chegar ao tapete vermelho não é à toa. Para conceber seu projeto de vida, o cineasta se cercou de um time de primeira. O roteiro teve a mão de Marcos Bernstein, que tem entre seus trabalhos “Central do Brasil”, de Walter Salles. A responsável pela direção de arte é a alemã Brigitte Broch, que já tem um Oscar na estante por “Moulin Rouge”.

“Cara de Oscar”

David Schurmann conta que uma das primeiras exibições do filme foi no Festival de Cannes, coincidentemente, onde “Aquarius” foi ovacionado na mostra competitiva. “Pequeno Segredo” teve uma exibição secreta para membros da indústria cinematográfica, que deram a dica ao diretor. “Várias pessoas vieram me dizer que aquele era um filme com cara de Oscar. Foi ali decidimos que iríamos inscrevê-lo para tentar uma vaga”, revela.

O longa reúne uma série de atributos que costuma fazer sucesso entre os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Além de ser baseado em uma história real, o filme tem toques de melodrama, daqueles capazes de levar grande parte da plateia às lágrimas. A protagonista é uma criança, outro fator que sensibiliza Hollywood. E como tem uma trama universal, com diálogos em inglês, o acesso ao público no exterior pode ser ainda mais facilitado.

Perguntado sobre toda a celeuma que envolveu a indicação ao Oscar, Schurmann diz que os primeiros dias de repercussão foram difíceis.

“Já sabia que, se ‘Aquarius’ não fosse o escolhido, haveria uma repercussão forte. Mas fiquei chocado com amigos cineastas que se mostraram reacionários, atacando o filme sem nem ter visto. Foi algo pesado, até cruel e covarde”, afirma o cineasta, que diz ter aplaudido de pé “Aquarius” em Cannes.

Hoje, passada a repercussão negativa, Schurmann acredita que o episódio serviu para dar ainda mais força a “Pequeno Segredo”. “Para cada mensagem me batendo eu recebia cem de apoio. E as pessoas começaram a querer ver o filme. Na verdade, tenho de agradecer muito ao Kléber [Mendonça, diretor de ‘Aquarius’]”, brinca o diretor, que após a entrevista, embarcaria para os EUA começar a campanha para o Oscar. “Sabemos que a competição é forte, mas estamos bem otimistas. Será uma campanha certeira”, garante.

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