• Carregando...
Cena de “Califórnia”, sobre jovens que vivem nos anos 1980. | Divulgação
Cena de “Califórnia”, sobre jovens que vivem nos anos 1980.| Foto: Divulgação

Antes do início da sessão, na noite desta segunda-feira (5), uma das produtoras de “Califórnia”, longa-metragem de ficção em competição na Première Brasil, fazia questão de dizer ao público do Cinépolis Lagoon que o filme não era paulista, e sim “um filme brasileiro feito em São Paulo”.

A ressalva fazia sentido, uma vez que a obra de Marina Person, que sucede o documentário “Person” (2007), propõe-se a abordar temas mais intimistas e comuns a adolescentes ao redor do mundo, em vez de sujeitar-se às influências de uma geografia em particular.

Ainda que o escopo temporal seja outro: ambientado no fim dos anos 1980, no processo de redemocratização, “Califórnia” é contado inteiramente do ponto de vista da jovem Estela (Clara Gallo, numa atuação low profile e crível).

As referências à cultura pop daquela década – e são muitas – vão de David Bowie a The Cure, passando por New Order e Joy Division. É possível que os espectadores mais maduros aproveitem a trilha sonora com mais facilidade.

Mas, ainda assim, o filme dialoga com a audiência jovem contemporânea por mostrar as incertezas e conflitos que comumente a afligem: a primeira paixonite, a desilusão amorosa, o clássico embate com os pais, o desinteresse pela escola e a tentativa de se ajustar numa sociedade em que muitas pessoas não são o que parecem.

Tudo é mostrado de forma leve e cômica, até tudo mudar com a chegada do tio de Estela, o jornalista cultural Carlos (Caio Blat). É aí que a narrativa sofre uma guinada dramática: ele vem da Califórnia, onde a sobrinha sonhava passar as férias um dia (ela, inclusive, abre mão da festa de 15 anos para viabilizar o desejo), bastante magro e doente.

A palavra “Aids” não é mencionada até o último ato se aproximar (embora a alusão à doença seja clara demais para ser considerada uma revelação ou um spoiler), e mesmo assim direcionada a outra pessoa: Estela pergunta para um amigo, um sujeito novo na escola e considerado “estranho” pelas colegas de classe, se ele é gay. “Se você for, vai pegar Aids. É o que todo mundo está falando”, desabafa ela, numa inocência compreensível para aqueles tempos. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, elucida o prafrentex JM (Caio Horowicz), para quem nada nesse mundo precisa ser “preto ou branco”.

À excessão dos pais de Estela, vividos por Paulo Miklos e Virginia Cavendish, Marina Person volta a sua câmera, na maior parte do tempo, para o elenco jovem. A diretora de 46 anos imprimiu em “Califórnia” elementos autobiográficos.

*
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]