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 | Ricardo Humberto/
| Foto: Ricardo Humberto/

Nos últimos dias devo ter chorado 127,3 litros; no mínimo. Feliz da vida. Tudo por ter descoberto uma cantora (elas têm essa capacidade de me fazer virar soro fisiológico…).

Engraçado é que eu estava ouvindo um disco, muito bom (“Samba de Chico”), e pensando o quanto o Hamilton de Holanda é brilhante. Estava ali matutando que ele é certamente o maior bandolinista da história do Brasil, até porque meio que reinventou a forma de tocar, e acabou mudando o próprio instrumento (colocando um par de cordas a mais).

Isso me levou a pensar em Chris Thile, que é provavelmente o maior bandolinista da história dos Estados Unidos (as tradições são diferentes, e até os instrumentos são um pouco diferentes…). E fiquei lembrando da minha felicidade quando descobri os dois, tanto o Hamilton de Holanda, há mais tempo, quanto o Thile, mais recentemente.

(Aliás, uma vez, numa viagem a Vitória a convite do SESC, eu dividi um voo e uma van com o Hamilton de Holanda, que eu tietei desabridamente, e fiquei torturando pra ver se ele grava um disco COM o Thile.)

E aí eu pensei, pô, esse disco é lindo, mas eu já sabia que ia ser. E fiquei burramente lamentando o tempo que fazia que eu não era tomado de surpresa pela beleza. Derrubado por uma música nova, vinda de um canto inesperado…

Isso até tem me acontecido, mas na música “clássica”. O cravista Mahan Esfahani, por exemplo, me deu um susto desses bem recentemente. Mas a coisa com música “popular” tende a ser mais visceral, né? Por falta de melhor palavra…

Duas músicas depois aparece uma convidada no tal disco. Silvia Péres Cruz. Espanhola, catalã, cantando em português brasileiro com estranhas tiradas lusitanas. E, crianças, meu mundinho caiu. E me contive pra não dar vexame na rua (estava andando com o cachorro).

Tecnicamente ela é um assombro. O controle de volume, a afinação, os ornamentos, a respiração… Musicalmente ela é espantosa: criativa, delicada… Mas tem ainda a tal coisa “visceral”. Ela junta flamenco, fado, cantos catalães, música brasileira, inflexões de tango e faz tudo isso parecer sair direto da mais funda e mais linda melancolia, e vir com uma mão morna segurar o teu rosto…

Vai lá ouvir. Eu te desafio. Vá ao mais óbvio. Tente “Cucurrucucu, Paloma” no Youtube.

Eu sempre tive essa queda pelas expressões mais arrasa-quarteirão de certa sentimentalidade latina. Flamenco, fado, mouros, ciganos e loucos… Eu brinco que quando improviso no violão sempre sai guarânia..

Mas essa menina (ela tem 33 anos) junta tudo.

É como se toda a história musical da Península Ibérica encontrasse, naquela voz, seu termo, sua resolução, sua felicidade mais escandalosamente triste.

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