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 | Ilustração: Robson Vilalba
| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

Existem leitores que preferem não conhecer seus autores prediletos. A nova-iorquina Nicole Krauss, ela mesma romancista (A História do Amor), conta ter fugido uma vez da possibilidade de encontrar Isaac Bashevis Singer, autor de Sombras sobre o Rio Hudson. E ele é um herói para ela.

As habilidades sociais do escritor não têm nada a ver com o que ele escreve. Em eventos literários, você pode gostar de ouvir escritores que não gosta de ler e vice-versa. Às vezes acontece dos dois mundos se encontrarem, como em David Sedaris (De Veludo Cotelê e Jeans), um sujeito que muitos consideram tão cativante e engraçado ao vivo quanto no papel.

"Um escritor deve escrever o que tem a dizer e não falar", disse Ernest Hemingway na cerimônia do Prêmio Nobel de Literatura em 1954. Mais do que ouvir um escritor falando sobre um tema qualquer, gosto quando ele lê um de seus textos.

Por mais que um autor não leia bem em voz alta e em público (e isso é bem comum), ele ainda é capaz de demonstrar um senso de propriedade que ninguém mais vai ter lendo o mesmo texto. Acho que poderia haver eventos literários só de leituras e sem bate-papos.

Nesse aspecto, ouvir uma leitura de J. M. Coetzee, o prêmio Nobel de Literatura 2003 que estará em Curitiba no próximo dia 15, é uma das experiências de leitor mais marcantes que tive na vida. Na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2007, Coetzee subiu ao palco, deu boa noite, leu trechos do livro Diário de um Ano Ruim por 50 minutos e foi embora.

Não respondeu perguntas, não fez piadas nem malabarismos. Só leu.

Eu estava curioso para ver seu desempenho ao vivo, ainda mais por causa da fama de ser avesso à mídia – ele não aparece muito em eventos públicos e não responde entrevistas há décadas.

Mesmo sem ter sido "simpático" (uma reclamação que repercutiu no público daquela noite), o modo como leu – sua entonação, suas ênfases, o misto de tranquilidade e força que demonstrou com o texto – se tornou uma referência para mim.

Aqui, em Curitiba, Coetzee (diz-se "coutsia") fará uma conferência com tradução simultânea sobre censura, um dos temas que o interessam. Sendo sul-africano (hoje morando em Adelaide, na Austrália) e tendo testemunhado o apartheid, ele tem o que dizer sobre esse tipo de repreensão.

O ritual será, basicamente, o mesmo: ele subirá ao palco, lerá um texto (neste caso, sobre censura) e irá embora. Sem responder perguntas nem entreter a plateia. Mas ele não precisa. Você vai ver. No mundo literário, é o tipo de coisa que você poderá contar para os seus netos, se eles forem nerds livrescos.

Roteiro

Conferência de J. M. Coetzee, parte do programa Conversa entre Amigos. Dia 15, às 19h30 (antecedido por um bate-papo com a pesquisadora Kathrin Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Teatro Fernanda Montenegro (R. Cel. Dulcídio, 517 – Shopping Novo Batel). A entrada é gratuita, mas é preciso retirar os ingressos na bilheteria do teatro entre os dias 8 e 15, das 10 ao meio-dia e das 13 às 18 horas. Mais informações pelo telefone (41) 3023-6300 ou no site www.conversaentreamigos.com.br.

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