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Choir of Gonville & Caius College Cambridge trabalhou com o Departamento de Música da USP para selecionar obras para “Romaria”. | Divulgação
Choir of Gonville & Caius College Cambridge trabalhou com o Departamento de Música da USP para selecionar obras para “Romaria”.| Foto: Divulgação

O selo inglês Delphian acaba de lançar um CD com o título de “Romaria: Choral Music from Brazil”.

Nele, um dos melhores corais da Inglaterra, Choir of Gonville & Caius College Cambridge, interpreta um repertório que abrange muitas das inúmeras influências que formam nosso patrimônio cultural.

O excelente coro e seu maestro, Geoffrey Webber, receberam comentários muito elogiosos da crítica especializada (revistas “Gramophone” e “BBC Music”, entre outras), tanto pela escolha original do repertório como pela admirável qualidade técnica da realização. As obras escolhidas são em geral complicadíssimas e, infelizmente, desconhecidas por aqui.

Projeto recriou “fita” de Henrique de Curitiba

A gravação da peça “Metáforas”, de Henrique Morozowicz (conhecido como Henrique de Curitiba, 1934-2008), exigiu a recriação de uma parte eletrônica idealizada pelo compositor paranaense para a obra

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O projeto só foi possível com o envolvimento do Departamento de música da USP, que junto ao pessoal de Cambridge, resgatou partituras raras e muitas vezes não editadas.

O repertório inclui obras de Henrique de Curitiba, Osvaldo Lacerda, Claudio Santoro, Villa-Lobos e outros,

As mais impressionantes são as menos conhecidas. Uma delas é “Metáforas”, de Henrique de Curitiba, a primeira faixa do álbum.

Música escrita em 1973, junta um pequeno coro com sons eletrônicos que evocam a floresta amazônica. O coro se utiliza de um trecho de uma missa de compositor espanhol Tomás Luis de Victoria (1558-1611) e sobre ele mescla a polifonia renascentista com os sons da natureza. A parte de primeiro soprano escrita num registro hiperagudo e alguns cachos de notas vão fazendo uma simbiose mágica. A soprano Billie Robson surpreende por sua técnica e extensão.

Outra composição instigante e pouco conhecida é a “Ave Maria” de Claudio Santoro. Utilizando o texto em português Santoro se utiliza de harmonias atonais num complexo e belo tecido musical. Esta mesma complexidade, com recursos altamente sofisticados, se encontra na lindíssima obra de Almeida Prado “Oráculo”.

“Romaria: Choral Music from Brazil”

Geoffrey Webber & Choir of Gonville & Caius College Cambridge.

Delphian Records.

US$ 9,99, na iTunes Store (R$ 31, em média)

US$ 17,50 mais custos de envio, na Presto Classical (R$ 54, em média)

Mas além destas obras vanguardistas o CD apresenta composições de cunho bem nacionalista. Duas obras se destacam neste aspecto: “Romaria” (o título do CD) de Osvaldo Lacerda e a “Missa breve sobre ritmos populares brasileiros” de Aylton Escobar. A peça de Osvaldo Lacerda se utiliza de uma bela poesia de Carlos Drummond de Andrade, valorizando-a na alternância de um narrador (Marco Antônio da Silva Ramos, felizmente com sotaque bem brasileiro) e dos sons que circundam um ato de fé de pessoas humildes realizados pelo coro.

Minha única ressalva ao excelente trabalho do coro inglês é a falta de gingado nos quatro momentos de “Carimbó”, melodias paraenses arranjadas por Ernst Mahle. Tirando isso raríssimos seriam os coros brasileiros que poderiam dar conta de tantas dificuldades técnicas deste repertório. Vale a pena ressaltar que no CD estão duas obras primas de nosso maior compositor, Heitor Villa-Lobos: Cor Dulce, cor amabile (numa nova revisão da partitura) e o Magnificat, em sua versão para coro, meio soprano e órgão.

Na web

O maestro Osvaldo Colarusso escreve o blog Falando de Música.

Para brasileiro ver

Tanta música brasileira boa e desconhecida por um coro inglês. Confesso que um lançamento discográfico como esse me força a uma série de reflexões. A mais séria delas é a ausência completa de reconhecimento de nossos autores de música clássica. A maior parte destes compositores conheci pessoalmente e, com exceção de Almeida Prado, dentre eles não tinha a menor notícia destas composições. Muito frequentemente usa-se a expressão “para inglês ver”. Neste caso o certo, sem o sentido pejorativo, seria “para brasileiro ver”. Muito obrigado Choir of Gonville & Caius College Cambridge e seu maestro Geoffrey Webber. Através desta execução impecável, também em termo de pronúncia, nós brasileiros tomamos conhecimento da alta qualidade de parte de nosso patrimônio musical. Este CD pode ser baixado no iTunes store e na Presto Classical.

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