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Holcombe Waller canta em discurso-monólogo. | Divulgação/
Holcombe Waller canta em discurso-monólogo.| Foto: Divulgação/

Um manifesto musical de 40 minutos foi capaz de causar reflexão instantânea em quem estava na plateia do Guairinha na noite da última terça-feira (31). O multiartista norte-americano Holcombe Waller utilizou projeções visuais, música ao vivo, intervenções multimidiáticas e arremedo de dança para tratar de preconceito cultural, as diferentes faces da história e a crise da sociedade contemporânea. Pode ter sido um risco, mas acredite: Surfacing – que tem mais uma exibição nesta quarta-feira, também no Guairinha – é tecnicamente perfeito e sua proposta, inicialmente exagerada, se desenrola com frieza e naturalidade.

Não há um fio condutor definido, mas sim recortes narrativos: cantando o tempo todo (a voz de Waller lembra um Surfjan Stevens depois de uns uísques), o artista discorre sobre a definição de cultura antes de nos contar a história sobre sua avó, Judith, uma judia anarquista.

Na sequência, a figura da ativista Dorothy Day (1897-1980) surge em uma projeção, em meio ao palco, enquanto Waller canta rapidamente sobre as consequências da fé incondicional (a aceitação da verdade estabelecida, os prejuízos da ausência da dúvida). A ironia é que Dorothy foi uma jornalista norte-americana que fundou o movimento anarquista católico, em 1933, e também o jornal Trabalhador Católico. O objetivo era estabelecer uma ideologia sociopolítica através da fé.

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A peça é toda em inglês. Há dois painéis com legendas no alto do palco. E certa confusão se estabelece quando o eterno discurso-canção de Waller se sobrepõe a um monólogo (numa projeção) que exemplifica a crise da sociedade ocidental contemporânea. “Quando roubarem seu casaco, pergunte se não querem também os sapatos”, ouvimos, em meio à música minimalista. “A sociedade morreu. Ou suicidou-se.”

Surfacing é intenso e não dá brechas. É como uma boa anestesia, apesar dos temas variados e até cíclicos. Ao fim da peça, Waller parece descrente com sua própria jornada ideológica. “Serei só eu a pensar assim?”, pergunta, sempre cantando. Um espetáculo atual, cuja proposta alia beleza musical à seriedade temática.

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