• Carregando...
Catálogo da exposição de Walker Evans no MoMA, de Nova York, mostrou caminhos possíveis. | Reprodução
Catálogo da exposição de Walker Evans no MoMA, de Nova York, mostrou caminhos possíveis.| Foto: Reprodução

Um ensaio de 26 páginas sobre a importância dos fotolivros é um dos pontos altos da revista Zum de número 8, editada pelo Instituto Moreira Salles. Escrito por Gerry Badger, organizador de uma coleção sobre a história dos fotolivros, publicada nos EUA pela Phaidon Press, o texto faz uma proposta fascinante: a de que a fotografia tem mais a ver com a literatura e o cinema, e menos com a pintura.

A ideia não é nova – o próprio Badger diz que fotolivros surgiram quase junto com a fotografia, na primeira metade do século 19 –, mas parece que nunca foi abordada de frente.

Sumário

Veja outros destaques da Zum número 8:

Lee Miller

A jornalista Dorrit Harazim escreve sobre a modelo “mais retratada de sua época”, Lee Miller, que foi aprendiz do fotógrafo Man Ray (e objeto de várias fotos dele). Depois ela mesma se tornou uma fotógrafa respeitada.

Nan Goldin

A revista publica entrevista com a americana e mostra várias de suas imagens (algumas delas bem barra-pesada).

Eustáquio Neves

Fotógrafo cria imagens novas, a pedido da Zum, para uma série sobre futebol. O resultado é surpreendentemente sombrio.

Sebastião Salgado

O jornalista Francisco Quinteiro Pires escreve sobre o fotógrafo brasileiro que é considerado um “explorador que estetiza o sofrimento” e também “um romântico em sua visão de mundo”.

Diz o ditado que uma imagem vale mil palavras (“Mas tente dizer isso com uma imagem”, rebatia Millôr Fernandes) e uma única foto é capaz, sim, de contar uma história. Mas Badger argumenta que a busca por uma “imagem perfeita”, a foto certa, impactante, revela muito pouco do potencial da fotografia.

“Fotografa-se de modo restrito, mas com alto impacto gráfico. Depois, amplia-se em formato grande, e pronto: temos arte fotográfica instantânea e um artista fotográfico comercializável”, escreve.

Ele admite que alguns profissionais conseguem fazer isso com talento, coerência e resultados respeitáveis – cita o alemão Thomas Struth e o canadense Jeff Wall –, mas o alvo dele é algo que se vê com frequência: “fotografias superampliadas, pretensiosas, sem nada de notável, acompanhadas, é claro, de uma ladainha teórica ilegível, que visa ganhar o mundo para sua mediocridade”.

Zum

Número oito da revista publicada pelo Instituto Moreira Salles tem 184 páginas e custa R$ 52,50 (à venda em livraria e no site do instituto).

Suíço Robert Frank mostrou a América de um jeito completamente novo, no livro de 1958.Reprodução

Os fotolivros não excluem as imagens individuais impactantes – acredito que elas são uma parte importante da fotografia –, assim como, na literatura, um gênero não desmerece outro. Diz Badger: “Não seria a fotografia, em essência, uma arte literária, uma arte em que o fotógrafo não é propriamente um manipulador de formas no interior da moldura fotográfica, mas antes um narrador que se vale de imagens em vez de palavras, alguém que conta uma história?”.

Pense em Walker Evans e no ensaio com a família pobre de agricultores do Alabama que acompanha o texto de James Agee no livro Elogiemos os Homens Ilustres. O fotógrafo faz o mesmo que o escritor, mas com imagens: fala sobre o cotidiano da família, descreve a casa, observa detalhes e apresenta os personagens.

O ensaio de Badger é ilustrado com imagens de fotolivros que carregam marcas do tempo - manchas amarelas e pequenos rasgos. Uma das obras mais importante que ele cita é a de Robert Frank, um clássico chamado The Americans. O suíço viajou pelos EUA fotografando pessoas e jukeboxes. E mostrou a América para os americanos de um jeito completamente novo na época (o livro é de 1958).

De Walker Evans, Badger cita American Photographs, o catálogo que o Museu de Arte Moderna, o MoMa, de Nova York, publicou em 1938 para acompanhar a primeira exposição individual de um fotógrafo organizada no espaço. Na época, Evans tinha 35 anos.

Para o ensaísta, o catálogo com a obra de Evans pode ser considerado o mais importante de todos os fotolivros. “Ele não só deu uma ideia do que um fotolivro era capaz de fazer, mas também do que a própria fotografia podia ser – um meio que não era apenas um método de documentação ou um acessório à arte ‘de verdade’, e sim, ele próprio, uma arte dotada de estrutura intricada e de coerência intelectual”.

Outros exemplos surgem ao longo do texto e Badger cita Paranoia, do poeta Roberto Piva e com imagens de Wesley Duke Lee (1931-2010), publicado em 1963, com um dos grandes fotolivros brasileiros de todos os tempos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]