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A violinista Chee-Yun  com seu violino de supostamente três séculos de vida | Divulgação
A violinista Chee-Yun com seu violino de supostamente três séculos de vida| Foto: Divulgação

É material para histórias e lendas musicais: o violino enterrado, escavado e trazido a cantar novamente. No filme “O Violino Vermelho”, o instrumento título é a certo momento enterrado com um jovem e talentoso músico, então escavado por ciganos ladrões de túmulos que o tocam por algumas gerações.

Mas a violinista Chee-Yun não esperava ter um na vida real.

Em 1991, no começo de sua carreira, a violinista nascida na Coreia começou a procurar um novo instrumento, encontrou um que amou e o levou a Dario D’Attili, um lendário avaliador de violinos, para que o examinasse.

“Em minha carreira”, D’Attili disse, de acordo com Chee-Yun, “nunca vi um instrumento com aparência de tão novo. Tem mais de 300 anos, definitivamente um Ruggieri, provavelmente um dos melhores. Nenhum sinal de uso; é incrível. Esse é um belo investimento para você.”

Chee-Yun, hoje com 46 anos, não se importou com o investimento. Ela tinha se apaixonado pelo som do instrumento. E, graças a um empréstimo de um patrocinador privado, ela foi capaz de comprá-lo.

Só anos mais tarde ela viria a se deparar com uma possível explicação para a condição incomumente boa do instrumento. Depois de uma apresentação em Israel, um membro do público lhe perguntou sobre seu Ruggieri. “Meu pai frequentemente pensava a respeito desse violino”, ela diz que ele contou a ela. “A razão é porque ele tinha ouvido que o violino tinha sido enterrado com um de seus donos.”

De repente, a excelente condição do instrumento foi – possivelmente – explicada. E o “violino enterrado” de Chee-Yun se tornou uma espécie de cartão de visitas – causando sensação em alguns relatos, o que sugere que permaneceu escondido pela maior parte de sua existência.

Violino mais caro do mundo

Ela, contudo, não tem nenhuma prova. E esse é o problema com histórias sobre instrumentos enterrados. Há muitas histórias sobre pessoas que amavam tanto seus violinos que queriam ser enterradas com eles – tais como o compositor Henri Vieuxtemps, cujo Guarnieri foi carregado atrás dele em seu cortejo fúnebre. (O violino atualmente é tocado por Anne Akiko Meyers e famoso por ser o instrumento mais caro do mundo.) Mas é difícil confirmar os fatos.

“Pessoalmente não conheço nenhum instrumento que tenha realmente sido enterrado e trazido de volta”, diz Dalton Potter, um experiente avaliador e restaurador de instrumentos em Takoma Park, Maryland. Contudo, “é verdade que às vezes instrumentos são guardados em cofres ou locais seguros. Tivemos instrumentos que estiveram em recipientes selados por 50 a 100 anos, por gerações.”

Enterrar efetivamente um violino em um caixão no solo coloca riscos significativos. “Não sou um especialista em caixões”, diz Potter. “Pelo que já vi, alguns deles são realmente selados. Se deixarmos de lado a asquerosa ideia de haver um corpo apodrecendo ao seu lado – isso seria ruim.” Mas “enterrá-lo em um caixão de madeira no solo – isso seria uma sentença de morte para um instrumento.”

Violinos zumbis

Houve casos documentados em que violinos enterrados voltaram à vida – no início da Segunda Guerra Mundial, quando famílias fugindo dos nazistas às vezes enterravam suas propriedades valiosas antes de irem embora e então voltavam para reivindicá-las. Em “The Violin” (o violino, sem tradução para o português), publicado em 2007 como parte de uma série de memórias de sobreviventes do holocausto organizada pela Fundação Azrieli, Rachel Shtibel conta sobre o estado de um violino Steiner enterrado na Polônia e escavado em 1946, depois de apenas um par de anos na terra. “A caixa e o arco estavam quase podres”, escreve, “mas o violino estava danificado apenas em um minúsculo ponto.” (Ela continuou a tocar o violino por anos.)

Outro instrumento desse tipo encontrou seu caminho para as mãos de Katrin Stamatis, que quando criança herdou o violino de 200 anos de seu avô, um Klingethaler, depois de ele ter sido enterrado no jardim da família em Haia, então escavado e levado para os Estados Unidos depois da guerra. Entrevistada pelo New York Times em 1996, quando estava no ensino médio, Stamatis, hoje uma violinista profissional, disse que seu avô ficou tão extasiado de ver o instrumento novamente que ele o pegou e tocou os hinos dos Estados Unidos e de Israel – fazendo-o se desmontar. “Depois de restaurado”, disse, “o valor caiu completamente porque ele não tem mais o valor de uma antiguidade.”

Stamatis abriu seu caminho até uma carreira de musicista profissional. Hoje a principal segunda violinista da Filarmônica de Oklahoma City e uma violinista da Orquestra de Câmara Brightmusic, ela conta que o violino ainda está na sua família.

Tuberculose e depressão

Nenhum desses instrumentos enterrados era um instrumento de concerto – mas o Guadagnini de Lara St. John indisputavelmente é. “Esse foi definitivamente colocado em uma tumba”, diz a violinista. Nos anos 1920, pertenceu a um jovem violinista chamado Harry Ben Gronsky, que estudou com Efrem Zimbalist e uma vez tocou o concerto de Bruch no Hollywood Bowl. “Ele contraiu tuberculose e morreu”, continua, “e seu pai ficou tão devastado que pôs o filho no jazigo da família com o Guadagnini e um par de arcos.”

Depois que St. John disponibilizou uma versão da história em seu site na internet, um descendente da família entrou em contato com ela para informá-la de que o violino tinha ficado enterrado por poucos anos. “Por causa da depressão”, diz St. John, “a família teve de retirá-lo e vendê-lo.”

Amadurecimento

Chee-Yun não tem nenhuma prova desse tipo – além da avaliação entusiástica de D’Attili e o fato de que a pessoa que lhe vendeu o violino não soube dar um histórico exato. Um pesquisador do Museu Smithsonian opinou que, se ele realmente tivesse sido enterrado, “deveria haver grandes danos às superfícies de madeira não protegidas, e provavelmente um zilhão de buracos de cupins.”

“Parece forçado”, Chee-Yun concede. Mas ela observa que o Ruggieri “evoluiu ao longo dos anos. Frequentemente, acontece de eu tocar com a mesma orquestra com que toquei há 10 anos e os violinistas virem até mim e dizerem: com o que você está tocando agora? Parece um instrumento diferente.”

Poderia se dizer que, tendo acordado, o violino amadureceu. No mínimo, é uma boa história.

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