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No papel de cronista, Eloi Zanetti olha para as modificações de Curitiba | Priscila Forone/Gazeta do Povo
No papel de cronista, Eloi Zanetti olha para as modificações de Curitiba| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Eloi Zanetti, aos 63 anos, depois de décadas tentando decifrar quem é o curitibano, desistiu da empreitada. Afinal, argumenta ele, talvez o que melhor explique os habitantes de Curitiba seja a falta de definição. O assunto se apresentou para ele na década de 1970, período no qual trabalhava no setor de comunicação do Banco Bamerindus (atual HSBC). Durante uma estada em Belo Horizonte, um mineiro comentou: "Vocês, paranaenses, podem ser o que quiserem. Nós, aqui, já nascemos falando 'uai'". Em Porto Alegre, um gaúcho falou, para Zanetti, praticamente as mesmas palavras que o interlocutor mineiro havia dito: "Vocês, paranaenses, podem tudo. Nós, não. Já nascemos de bombacha, tchê".

Essas observações, e outras tantas, foram fundamentais para que ele elaborasse o projeto Bicho do Paraná, campanha promovida pelo antigo banco, que, em alguma medida, tentou decifrar o mistério.

"Como o curitibano é misterioso, e se modifica continuamente, não vou mais escrever sobre isso", diz Zanetti. Mas, antes de abandonar o assunto, ele reuniu textos sobre a temática no livro Mudou Curitiba ou Mudei Eu?, que será lançado na próxima sexta-feira (25). Na ocasião, o autor também ministra a palestra "Curitibanos e Neocuritibanos".

Os textos, alguns escritos há mais de uma década, outros mais recentes, alguns deles publicados pela Gazeta do Povo, apresentam reflexões sobre a cidade, seja tratando de novos espaços de encontro, como o pátio do Museu Oscar Niemeyer (MON), até críticas ao formato dos prédios curitibanos, na opinião dele, "caixotes, construções pobres e sem criatividade".

Ao se questionar a respeito do que realmente faz sentido para nós, paranaenses, Zanetti chegou à constatação de que é o pinheiro, que seria, mais do que uma árvore, "o nosso totem". "Mas como nós paranaenses so­­mos, por formação, um povo de negociantes e não de guerreiros, fomos adorar outro símbolo: o vil metal. Em vez do pinheiro como força de união, passamos a adorar o bezerro de ouro da extração predatória e do comércio. Vendemos a primeira chance de identidade já no início de nossa organização social. O único símbolo paranaense embarcou nos navios de carga de Paranaguá e foi virar mesas e cadeiras em outros países", escreve, em uma das crônicas, para em seguida concluir: "É por não termos um mito inicial, que somos tão desarticulados como povo e tão desunidos politicamente".

Outros símbolos

Apesar das reflexões sobre a vida na aldeia, é em um outro capítulo do livro, dedicado aos fatos inesperados da existência, que Zanetti mostra os seus melhores textos. O ponto alto é a crônica "Polenta na Chapa", na qual ele conta que, após uma pescaria malsucedida, foi surpreendido por um encontro inesquecível: "A conversa continuou, causos foram relembrados. Lá fora a chuva caía fina, fria e intermitente. No rio, a água fluía limpando o descuido dos homens. O meu coração foi tomado de uma saudade imensa. Saudade de coisas que ainda viriam, porque aquilo não se repetiria mais, nunca mais".

O livro ainda abre espaço para breves perfis de pessoas que, a exemplo do próprio Zanetti, natural de Jacarezinho, ajudaram a compor esse mistério que são os curitibanos.

Serviço:

Eloi Zanetti autografa Mudou Curitiba ou Mudei Eu? Universidade Positivo – Pequeno Auditório – Pós-Graduação e Extensão (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300). Dia 25 de março, às 19 horas. Também haverá palestra. O livro custa R$ 40 e, posteriormente, será comercializado em livrarias. Entrada franca.

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