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O maestro Georges Pretre ensaia com a Orquestra Filarmônica de Viena | Herwig Prammer/ Reuters
O maestro Georges Pretre ensaia com a Orquestra Filarmônica de Viena| Foto: Herwig Prammer/ Reuters

O garoto com fones de ouvido

"Odeio ‘música clássica’: não o gênero, mas o nome. Ele captura uma primorosa forma de arte ainda viva e a transforma em um parque temático do passado. Ele aniquila quaisquer possibilidades de que a música nos moldes do que foi feito por um gênio como Beethoven ainda possa ser criada nos dias de hoje. Degreda o trabalho de milhares de compositores ativos que têm de explicar para pessoas outrora bem informadas como é exatamente que eles ganham a vida. O próprio termo em si já é uma pérola da propaganda negativa, um anti-hype. Quando as pessoas ouvem ‘clássica’, elas automaticamente pensam ‘morta’, assim como presume-se que seja seu público: um apanhado de brancos ricos, moribundos e entediados. Quisera eu que houvesse outro nome."

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O que define a música erudita

A música erudita, embora pareça distante da cultura popular, está por toda a parte. Trilhas sonoras de filmes famosos constantemente se valem de grandes composições para enriquecer a obra e até mesmo desenhos animados já utilizaram valsas e concertos como trilha de fundo. Mas será que tudo aquilo que é composto elaboradamente e executado por uma orquestra é música erudita?

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Para o maestro indiano, rap é "tocante"

A Orquestra Filarmônica de Israel, que se apresenta no Teatro Positivo no dia 17 de agosto, é reconhecida historicamente por abrigar alguns dos melhores músicos do mundo. Antes mesmo de ser fundada, em 1936, seus precursores precisaram de três anos para convencer os mais qualificados musicistas da Europa Ocidental e da Alemanha a emigrarem para Israel.

Confira a entrevista com o maestro Zubin Mehta

Deixa Stravinsky te levar

Existem mil e uma maneiras de você começar a ouvir música clássica. Pode ouvir dos mais antigos para os mais novos. Ou começar pelos contemporâneos (há quem diga que quem gosta de rock se sente mais à vontade ouvindo música moderna do que ouvindo barroco). Ou começar pelas óperas e depois partir para a música instrumental. Cada um tem suas preferências.

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Era uma apresentação de gala da Orquestra Sinfônica do Paraná. O Teatro Guaíra estava lotado. Ternos e vestidos desfilavam até encontrar sua poltrona.

Minutos depois, "Quebra Nozes", balé de Piotr Tchaikovsky (1840-1893), rompeu o silêncio. No decorrer da apresentação, reações diversas. Houve quem deixasse o teatro antes da apresentação do pianista Álvaro Siviero; houve quem aplaudisse entusiasticamente; houve quem bocejasse enquanto procurava uma posição melhor na cadeira.

Ame-a ou deixe-a. Parece ser essa a relação estabelecida com a música erudita. Sagrada, intocável, distante? Ou sublime, mas não valorizada? O Caderno G Ideias de hoje pretende apontar fatores que expliquem as nuances desse gênero, eternizado em nomes que hoje são facilmente identificáveis (pense em Bee­tho­ven ou Vivaldi), mas que ainda parece buscar meios e formas de se popularizar – por mais contraditório que possa parecer.

O maestro carioca Roberto de Regina, cofundador da Camerata Antiqua de Curitiba, trata logo de aparar algumas arestas. "Não é música clássica porque o classicismo é um período, que vai de 1750 ao começo do século 19. Mas também não gosto do termo música erudita, que é muito pretensioso. É como se quem ouvisse isso fossem só pessoas de erudição. E, historicamente, não é assim. Quando foram escritas, a maioria das sinfonias era voltada para o povo, e não para a elite", diz o maestro.

Em sua opinião – para evitar um pré-distanciamento ou discriminação –, o gênero deveria se chamar "a música".

E quem ouve "a música"? En­­gana-se quem pensa que música erudita é só para teatros com poltronas aveludadas e senhores grisalhos em sapatos lustrosos. Ministrando aulas de música a jovens de escolas públicas do Rio de Janeiro, De Regina se surpreende. "Eu faço concertos no cravo, que é um instrumento delicado e oposto a essa massa decibérica que os jovens estão acostumados a ouvir."A reação depois do silêncio respeitoso que dura en­­quanto o cravo vibra é "impressionante". Há perguntas, discussões e até pedidos de "mais um". "Isso prova que o que falta é oportunidade. Porque a boa música está aí", conta, lembrando que muitos jovens ouvem a música ao mesmo tempo que batem os pés para acompanhá-la.

Um pouco mais cético quanto à capacidade de disseminação da música erudita é o maestro e professor Osvaldo Colarusso. O gênero seria rebuscado demais para se compreender sem algum prelúdio – iniciação musical e certa pré-disposição do ouvinte. "Ela não é, a priori, fácil. Não adianta ouvir Beethoven enxugando louça, sem se concentrar. Ela requer uma doação do ouvinte, o exige. Música erudita não serve para música de fundo. É como um romance de Dostoiévski e um livro do Paulo Coelho. Este você pode ler no banheiro", argumenta.

"A música" do maestro carioca se transforma em "música de linguagem" para Colarusso. O termo foi cunhado pelo poeta paulista Décio Pignatari. E ela atrairia de igual forma ouvintes de diversas classes sociais. "Conheço pessoas que adquiriram o hábito de ouvir música clássica de forma espontânea. Apesar das aparências, um dado é: quem gosta não é necessariamente rico. Rico gasta em show de Chitãozinho e Xororó", dispara.

Os dois maestros defendem que há um relativo público interessado no gênero. Mas, para Colarusso, ao contrário da constante e profícua renovação dos músicos, os ouvintes não aumentam na mesma medida. "A música erudita tem uma relação muito próxima com a educação. Como a educação no Brasil é muito ruim, o público vai ser pouco. Moro perto de uma escola estadual de Curitiba e fiquei chocado quando passei pelo pátio e vi meninos dançando e cantando hip-hop em inglês na hora do recreio. Aquele som não tem nenhum sentido educativo", diz Colarusso, sem saber que o maestro Zubin Mehta ouve rap (leia entrevista na página 3). "Mesmo? Estou surpreso!", revela.

Dono de um acervo de cerca de 3 mil vinis e 5 mil CDs – metade de música erudita –, o musófilo Paulo José da Costa relembra a mensagem em cada peça musical. "Toda música é uma mensagem. Um cara lá no século 18 compôs tentando dizer algo. Então a música se basta. Ou ela te toca ou não te toca".

Dono do sebo Fígaro, em Curi­tiba, Costa descarta a iniciação musical prévia como necessidade para se aproximar da música erudita. E comprova quando fala de seus compradores. "Tenho clientes que são agricultores e ouvem música sertaneja. Às vezes, eles escolhem um disco de música clássica e me pedem conselhos sobre ele", diz.

Jovens roqueiros e cabeludos também são vistos vasculhando as prateleiras. "Alguns querem ouvir Wagner porque viram um filme".

O ponto de convergência dos maestros e do musófilo, apesar de diferentes visões sobre o tema, é nítido: em coro, todos dizem: "ouça isso".

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