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Gravado em Los Angeles, no inverno de 1970, L.A. Woman foi o último registro do quarteto californiano em estúdio | Divulgação
Gravado em Los Angeles, no inverno de 1970, L.A. Woman foi o último registro do quarteto californiano em estúdio| Foto: Divulgação

Último álbum oficial dos Doors, L.A. Woman ainda es­­­­­tava no topo das paradas quando Jim Morrison morreu em uma banheira em Paris, em 3 de julho de 1971, em pleno verão francês. Morrison viraria um mito, seu túmulo no cemitério de Père Lachaise ficaria para sempre encharcado de conhaque e coberto de maços de Gauloises, ladeado por jovens com violões e rosas fazendo sua peregrinação por ali. Já o disco, este faria vibrar no coração da geração seguinte os versos libertários de "Riders on the Storm", a última faixa do álbum: "Tire umas longas férias/ Deixe suas crianças brincarem".

A canção-tema, a tal "Garota de Los Angeles", é vertiginosamente acelerada, como se estivesse sendo tocada num conversível a 200 quilômetros por hora no Santa Monica Boulevard, local onde ficava o estúdio doméstico dos Doors, em Hollywood, no qual o álbum foi gravado, no inverno de 1970, em Los Angeles.

Era o sexto álbum para a Elektra Records, e saía há exatamente 40 anos. Morrison, o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore compunham o núcleo central do grupo. No disco, houve a adição do baixista Jerry Schelf (emprestado da banda de Elvis Presley por recomendação do produtor) e de Marc Brenno (guitarra base).

Inédita

Há um atrativo extraordinário para os fãs no relançamento agora de L.A. Woman (Rhino/Warner Music): uma canção inédita do grupo, "She Smells So Nice". A faixa foi descoberta pelo produtor Bruce Botnick quando estava examinando os tapes da sessão de gravação do álbum.

Delicioso produto autêntico dos Doors, com os improvisos cíclicos de guitarra e teclado, "She Smells So Nice" parece uma daquelas músicas que não têm hora para acabar. O álbum lançado agora é duplo, o disco 2 traz todas as faixas originais em takes alternativos, com registros da presença da banda na captura de blues ori­­­ginais. As conversas dos integrantes dos Doors no estúdio dão o clima de chapação e delírio que completam o lançamento.

A batida da canção "The Changeling", que abre o disco, além da pulsão do tecla­­­do, já anuncia que vai ser uma viagem sem chão. Impressionante a energia, a cadência e o grau de envolvimento emocional de algumas canções, como "Lo­­ve Her Madly", e o cover de "Crawling King Snake", do lendário John Lee Hooker. Aqui, a visão de Morrison sobre o legado do blues tradicional abre um portal de possibilidades para o rock que viria.

Jim Morrison também comparece com seu integral sarcasmo na abertura de algumas canções (no disco alternativo), como antes da gravação de "Riders on the Storm". John Densmore conta que o agente Paul Rothchild, ao ouvir essa canção em novembro de 1970, desistiu de empresariar a banda e chamou a faixa de "jazz de coquetel". Havia descompromisso e respiravam um ar de liberdade e delírio naquele momento artístico. Ao final do disco 2, no finalzinho da faixa "Rock Me", Jim Morrison brinca com seu próprio verso da faixa-título, uma espécie de anagrama de seu nome, Mr. Mojo Risin.

Mas era também um momento de autodestruição para os Doors. Naquele ano, Jim Morrison estava profundamente caído, engolfado por uma espiral de abuso de drogas e álcool. Sabia, entretanto, o que não queria para sua vida. A bela faixa-título tinha a marca daquele som circular, quase orientalizado do grupo, com a guitarra falsamente despretensiosa de Krieger afiada como nunca.

Serviço: L.A. Woman – 40th Anniversary Edition. Warner Music. Preço médio: R$ 30,90. Blues.

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