• Carregando...
Versos de Drummond encenam as diferentes fases da vida em montagem que leva o nome do poeta. | Divulgação
Versos de Drummond encenam as diferentes fases da vida em montagem que leva o nome do poeta.| Foto: Divulgação

A tarefa difícil de levar a poesia ao palco resultou em dois espetáculos líricos presentes na grade do Festival de Teatro deste ano. Uma das montagens utiliza poemas de Carlos Drummond de Andrade para fazer um retrato das fases da vida humana. O outro parte da (breve) vida e da obra da portuguesa Florbela Espanca e cria uma narrativa ficcional a partir dela.

Drummond estreou há 20 anos como espetáculo de abertura do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro – surpreendentemente, mantém a maioria dos atores do início.

O realizador, o grupo Ponto de Partida, de Barbacena (MG), até hoje é sediado no interior mineiro, mas já excursionou com a peça pelo Brasil todo, países da África e da Alemanha.

A dramaturga Regina Bertola usou apenas a obra poética do conterrâneo, deixando de lado até mesmo crônicas interessantíssimas.

O POETA

Drummond

Teatro Bom Jesus (R. Vinte e Quatro de Maio, 135), (41) 2105-4000. Dias 28 às 21h e 29 às 19h. R$ 70 e R$ 35. Classificação indicativa: 10 anos.

O texto final não tem “nem uma vírgula” que não seja de Drummond. “Essa é uma característica minha: se estou usando a obra de alguém, uso apenas aquela obra. As pessoas vão beber o poeta”, diz.

Ao pinçar poemas em que ele fala da infância, adolescência e idade madura, Regina criou uma ode à “história de todos nós”, como define.

No lirismo resultante, porém, há espaço para o senso de humor do poeta. “Ele fala de lombriga e sentido da existência com a mesma competência”, brinca.

Se alguém pensar que teatro e poesia juntos terão um público interessado ínfimo, irá se surpreender ao saber que, após uma das apresentações de Desalinho, no Rio de Janeiro, um fã-clube subiu ao palco e entregou gérberas ao elenco, recitando versos de Florbela Espanca.

Marcia Zanelatto criou o espetáculo após ficar obcecada por um único poema da artista, morta aos 36 anos, pelo qual a dramaturga entendeu que o fio condutor da vida e da morte de Florbela foi a paixão pelo próprio irmão. “Ela se rasga em versos, com paixão e dor ao mesmo tempo. O poema me fez entender sua obra de outro jeito, porque o incesto é o maior tabu ligado ao sexo, nem é entendido como amor, e sim anomalia. E tudo que o teatro mais ama é o contraste”, diz Marcia.

A partir dessa tragédia que teria levado ao enlouquecimento e suicídio da poeta, Marcia criou a personagem Mariana, que está internada num hospício e conta a uma enfermeira suas alegrias passadas, vividas ou imaginadas.

A POETISA

Desalinho

Teatro do Paiol (Lgo. Guido Viaro, s/nº), (41) 3213-1340. Dias 30 e 31 de março às 21 horas. R$ 60 e R$ 30. Classificação indicativa: 14 anos.

A garota ama Florbela a ponto de misturar sua identidade com a da escritora.

O resultado final está longe de ser uma biografia da portuguesa – apesar de Marcia ter trabalhado com biografias em outras ocasiões.

O espetáculo tem muitos silêncios, ou “atmosfera”, nas palavras da dramaturga, e gestos coreografados que sugerem mais do que encenam.

A direção de Isaac Bernat coloca a peça numa semiarena, motivo pelo qual o trabalho será recebido pelo palco do Paiol.

“Trouxemos uma sintaxe totalmente diferente do que costuma estar nos teatros do Rio e do jeito carioca de ser”, explica.

Apesar da aposta pelo pouco popular, a peça teve entre os jovens seu público mais apaixonado. “Nunca imaginaria”, confessa Marcia, também ela uma apaixonada por teatro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]