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Aos 90 anos, a artista plástica curitibana Ida Hannemann Campos, que aprendeu o ofício com Guido Viaro, continua produzindo | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Aos 90 anos, a artista plástica curitibana Ida Hannemann Campos, que aprendeu o ofício com Guido Viaro, continua produzindo| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Exposição

Ida Hannemann de Campos – 90 Anos de Vida e 70 Anos de Pintura

Museu Guido Viaro (R. XV de Novembro, 1.348 – Centro), (41) 3018-6194.

Hoje, às 19 horas, para convidados. Visitação a partir de quarta-feira, às 14 horas. De terça a sexta-feira, das 14 às 18 horas. Até 14 de setembro.

Assim como crianças que tiveram a sorte de desenhar uma amarelinha, aquele jogo antigo em que o participante tem de pisar no quadrado riscado no chão, a artista plástica curitibana Ida Hannemann de Campos percebeu que gostava de desenhar quando fez a figura de um homem baixinho e barrigudo na calçada, enquanto brincava. Aos 90 anos – 70 de produção artística – ela conta a história com tamanha precisão, que o episódio parece ter ocorrido no dia anterior. Dona de um estilo tão original quanto diverso, Ida, que foi aluna do pintor Guido Viaro, inaugura hoje, para convidados, no museu homônimo de seu mestre, a mostra Ida Hannemann de Campos – 90 Anos de Vida e 70 Anos de Pintura.

A exposição (que abre amanhã para a visitação do público em geral) traz cerca de 50 obras que fazem um apanhado da carreira da artista, cujas influências passaram pelo cubismo e o expressionismo, e que têm vigor principalmente no paisagismo. Quem vê a senhora de hábitos simples, que mora na mesma rua onde nasceu, em uma casa repleta de objetos antigos, flores e um quintal com laranjeiras, não mensura o seu poder imaginativo, que é transposto nas obras.

Início

Ida nunca planejou uma carreira de artista. As coisas foram acontecendo: uma freira alemã do colégio onde estudava (o Divina Providência) ensinou os primeiros passos. "Pintava gatinhos, santinhos (risos). Fazia para a minha mãe dar para as amigas", relembra. A mãe, Luiza Balin Hannemann, percebeu o gosto da filha e achou que ela precisava tomar aulas com um professor. Amigo da família, o pintor Theodoro de Bona indicou o nome de Viaro, com quem ela teve aulas de 1941 a 1943.

O que a artista – que também foi professora no Centro Paranaense Feminino de Cultura e no Solar do Rosário – mais guardou do aprendizado com o pintor foi se livrar da ideia de que era necessário fazer tudo "bonitinho". Dia desses, Ida encontrou no ateliê que mantém em sua casa um bilhete de Viaro com a seguinte observação sobre uma tela: "precisa de fermento." "Isso nunca ficou esquecido, ele sempre dizia que não era para fazer as coisas tão reais, que tinha de ter criatividade. Aquilo me ajudou muito."

No ano seguinte ao término das aulas, ela ganhou medalha de bronze na 1.ª edição do Salão Paranaense, realizado em 1944, com a tela Bêbado, cujo retratado era funcionário de seu pai (Henrique Hannemann). Sobre o quadro premiado, Ida o define como perfeito. "Nem sei como ficou tão bom." Entretanto, quando não gosta de uma obra, queima o trabalho sem dó. O pai, quando viu tanta tela desperdiçada, aproveitou os desenhos para o fundo de cadeiras, que fabricava para escolas.

Apesar de ter telas no Museu Oscar Niemeyer, no Museu Paranaense e em galerias da França, Alemanha, China, Estados Unidos e Espanha, a artista nunca teve como foco a venda de obras. "Sempre produzi muito, mas não tem quem compre tudo isso. Então, a gente vai encostando." Mas ocorreram algumas aquisições curiosas, como a de um alemão, que comprou um quadro com o desenho de um pinheiro. "Ele me perguntou se a­­quilo existia e eu respondi que sim. Ele me fez tirar um retrato ao lado do pinheiro, que ficava na Marechal Hermes."

Inspirações

A mudança de cores de uma bolha de sabão, a fresta de luz que entra pelo buraco do ateliê, um livro (é fã de Dante Alighieri) ou um dente-de-leão que a encantou em uma viagem que fez para a Grécia são acontecimentos que serviram como inspiração e renderam séries de obras. Ida também gosta de pintar fora de casa. Quando os três filhos eram pequenos (entre eles Heloísa, responsável pela organização da obra da mãe), Ida levava seus materiais ao bosque atrás de casa, onde as crianças costumavam brincar, ou ia ao bosque Zaninelli, um de seus lugares preferidos em Curitiba. Fatos como a internação do marido André Campos (já falecido) em São Paulo, há cerca de 20 anos, também inspiraram os desenhos de São Paulo em Dia de Chuva.

Carreira

Sobre a trajetória artística, Ida se arrepende de não ter passado um período fora do país. "Se fosse hoje, eu iria. Mas agora, com a minha idade, não." Por ora, a artista continua produzindo em seu ritmo, no minuciosamente organizado ateliê, cuidando de suas plantas e esperando o joão-de-barro que entra na sua sala todas as manhãs para filar migalhas de queijo. "Queria que você visse o Joãozinho, ele é muito querido."

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