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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Por mais primitivos e arcaicos que pareçam os reality shows, não se iluda: nada indica que eles estão com seus dias contados. Uma onda de novas temporadas e novos formatos – reforçada por estudos sociais e antropológicos sobre o tema – aponta que esse tipo de programa, que completa 15 anos no Brasil, está mais forte que nunca.

A previsão apocalíptica para o fim dos programas não é de hoje. Dois ou três anos depois de a novidade chegar à televisão brasileira, muitos, já fartos do exibicionismo programado, viam o fim próximo.

De julho de 2000, quando foi lançado o primeiro programa no formato (No Limite), até agora, foram ao ar no Brasil pelo menos 90 produções sobre a vida como ela mais ou menos é, entre edições posteriores e séries importadas ou adaptadas de outros países, a exemplo de The Voice, The Ultimate Fighter, Brazil’s Next Top Model e Master Chef.

BBB perde a majestade

Programas nos moldes de confinamento em casas não são mais as principais atrações do gênero

Os reality shows, assim como toda a televisão brasileira, estão sempre se renovando, numa postura que vai de encontro à própria demanda do público. Por isso, além de produções já consolidadas, como o Big Brother Brasil (BBB), diversos outros pipocam constantemente. “Programas nos moldes do BBB não são mais as principais atrações do gênero já há algum tempo. A cada nova temporada temos um novo sucesso. Ontem foi um reality musical e amanhã pode ser um de culinária e assim por diante”, diz o professor Luiz Belmiro Teixeira. Por isso, mais do que se adequar a determinadas vertentes em destaque na sociedade, os reality shows também tornam-se colaboradores de modismos instantâneos, em um processo analisado pela pesquisadora em comunicação Simone Tuzzo como “adaptação do formato”.

E para reforçar ainda mais a tese: somente no período desses quatro meses de 2015, ao menos seis novas atrações do gênero foram lançadas. Duas delas, inclusive (Preta Vai Casar e Spider Life Show,sobre a vida de Anderson Silva), fogem de um denominador comum para explicar parte do sucesso das produções, que é o foco na vida dos anônimos. Outro motivo para acreditar que esses programas ainda estão em pleno crescimento.

“É um novo formato que a sociedade não conhecia, mas que conheceu, gostou e que vai ficar”, afirma Simone Tuzzo, pesquisadora do Centro de Investigação Mídia e Jornalismo (CIMJ). Para ela, os reality shows, além de ganharem pontos por serem divulgados insistentemente pelas emissoras em que são veiculados, continuam a dominar audiências com a ajuda de outro artifício que funciona muito bem: formar celebridades.

“Antes, uma pessoa era célebre porque sabia fazer alguma coisa e ia para a mídia por isso; era preciso um conteúdo. E hoje inverteu. Com a ascensão da internet, e os reality shows chegam ao mesmo momento, as pessoas descobrem que qualquer um pode ser celebridade. Nessa construção, a sociedade aprendeu que para ser celebridade só é preciso se expor”, diz.

Embora sejam um formato de programa relativamente recente na história da televisão brasileira, os reality shows carregam outros elementos já velhos conhecidos do público para sustentar seus “fascínios”. E um deles é a adaptação do formato ao estilo das telenovelas, o que, para muitos que acompanham os “shows da vida real” pode parecer não tão óbvio assim.

Segundo explica o cientista social especializado em sociologia da cultura Luiz Belmiro Teixeira, professor da UFPR, o uso da narrativa com a qual o público brasileiro está mais acostumado e a apresentação dos participantes como personagens de tramas folhetinescas ajudam a estabelecer clichês (a mulher sensual, o “pegador”, a dona de casa, etc.) que empolgam e conduzem o público para dentro das tramas criadas.

“As histórias mais cotidianas dessas pessoas no confinamento ganharam outros significados, com intrigas, traições e romances tal qual uma história que poderia ir ao ar no horário nobre”, diz Teixeira. “Aqueles que se candidatam atualmente a participar do programa sabem disso, e ao entrar na casa procuram desempenhar uma performance nesse sentido, assumindo algum papel pré-estabelecido.”

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