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O pesquisador se debruçou por um ano no que chama de “circuito da música italiana” na Região Metropolitana de Curitiba | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
O pesquisador se debruçou por um ano no que chama de “circuito da música italiana” na Região Metropolitana de Curitiba| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

"Você não chega e pergunta o que acha que é importante na sua vida. De forma indireta, por meio de manifestações é que você descobre o que é relevante para eles, o que eles valorizam."

Paulo Guérios, professor de antropologia da UFPR.

Canzoni

Confira as canções selecionadas para a versão final do projeto Sonoridades do Paraná – Temas Italianos:

"Merica Merica"

"La Bella Polenta (A Bela Polenta)"

"Me Compare Giacometto (Meu Compadre Giacometto)"

"La Verginella (A Virgenzinha)"

"Quel Mazzolin dei Fiori (Aquele Ramalhete de Flores)"

"Si Bella L’Itália (É Bela A Itália)"

"Valsugana"

"Luna Luna (Lua Lua)"

"Sei Pura, Sei Bella (És Pura, És Bela)"

"O Sanctissima (Oh, Santíssima)"

"Venite Fedeli (Vinde Fiéis)"

"Notte Di Natale (Noite de Natal)"

"Va Pensiero (Vá, Pensamento)"

"Firenza Sogna (Florença Sonha)"

"Funiculi Funicula"

"Torna a Sorriento (Volte a Sorrento)"

"Ti Voglio Tanto Bene (Te Quero Muito)"

"Tanti Auguri (Muitas Felicidades)"

Para ouvir

Ouça as gravações colhidas pelo pesquisador e todo o material do CD Sonoridades do Paraná – Temas Italianos em www.sonoridadesdoparana.com.br.

Depois de publicar um mapeamento da música que encontrou nas comunidades de descendência ucraniana no Paraná, em 2010, o professor do departamento de Antropologia da UFPR Paulo Guérios se voltou para a cultura italiana no segundo volume do projeto Sonoridades do Paraná, lançado no mês passado por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e disponível na íntegra no site www.sonoridadesdoparana.com.br. As gravações e conclusões foram publicadas em um "CD documentário", que não será comercializado.

O pesquisador se debruçou por um ano no que chama de "circuito da música italiana" na Região Metropolitana de Curitiba, que compreende eventos como a Festa do Frango, Polenta e Vinho de Santa Felicidade e as festas da uva em Colombo e Santa Felicidade, e mapeou seus principais gêneros e particularidades.

A ideia é, a partir da música, chegar a conclusões que vão além dela. "Você não chega para as pessoas e pergunta o que elas acham que é importante em suas vidas. É de forma indireta, por meio de manifestações, que você descobre o que é relevante para elas, o que valorizam", diz Guérios. "No fundo, a música é uma manifestação que fala de uma rede de sociabilidade, de um modo de estar no mundo e de se relacionar com o outro", explica.

Comida e igreja

Parte das conclusões vem da comparação entre as duas comunidades estudadas no projeto. No caso da música ucraniana, Guérios percebeu que, para chegar às pessoas que a tocam, bastava ir até as igrejas em Mallet, Prudentópolis e Rio Azul – exemplos de destinos que receberam os ucranianos no fim do século 19, quando a política de povoamento estabelecia colônias no interior. "No caso dos ucranianos, boa parte dos gêneros é relacionada de alguma forma à religião", conta Guérios. As colônias ucranianas também mantiveram um perfil mais camponês, o que imprime uma sonoridade mais ligada a este universo na música tocada por lá.

Já os italianos, vindos em uma leva migratória anterior e direcionada para os arredores dos grandes centros, fazem uma música com mais elementos urbanos. E essencialmente ligada à comida e à festa.

"Uma das conclusões da pesquisa foi a compreensão da relação da sonoridade que é produzida com a característica própria de funcionamento da cada rede social e o processo sócio histórico que deu origem a essa rede", explica Guérios.

Memória

Nas duas pesquisas o antropólogo não encontrou a música contemporânea. O repertório italiano incorpora, no máximo, até a música romântica dos anos 1980 (confira ao lado as canções reunidas no projeto) – as mais pedidas em restaurantes, conforme o pesquisador ouviu de um músico.

Um dos principais músicos de origem ucraniana entrevistados por Guérios, Samuel Semczyczyn – o Samuca, de Prudentópolis – disse que até tentou tocar rock ucraniano contemporâneo, mas que ninguém se identificou.

"Essas comunidades têm uma certa relação com essa origem ucraniana e italiana que remete ao passado, à memória, a nostalgia da infância", sugere o pesquisador. "A Ucrânia e a Itália que interessa para eles não é o país concreto que está no exterior contemporaneamente. O que interessa é essa imagem da origem, essa nostalgia da infância e da história. É com isso que eles operam."

Paraná múltiplo

Guérios se aproximou do projeto a partir de estudos anteriores sobre música – seu mestrado trata da trajetória de Heitor Villa-Lobos, e seu doutorado sobre a memória nas comunidades ucranianas do interior – e pretende continuar. A próxima pesquisa deve ser sobre a produção musical dos descendentes de japoneses no Paraná.

"O projeto é um testemunho da multiplicidade do que é a cultura paranaense", diz o professor.

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