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O que aconteceu com esses atores?

O cineasta Luciano Vidigal tinha 20 anos quando foi contratado, em 2000, pela produção de Cidade de Deus para fazer um mapeamento das favelas do Rio de Janeiro, com a missão de ajudar a encontrar atores não profissionais para o filme de Fernando Meirelles.

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Filme virou referência no cinema internacional

Paulo Camargo

Não foi apenas no cinema brasileiro que Cidade de Deus teve impacto. Sua influência é visível em pelo menos dois filmes que tiveram grande repecussão internacional nos anos seguintes ao lançamento do longa de Fernando Meirelles.

O caso mais polêmico é o de Quem Quer Ser um Milionário? (2008), vencedor de oito Oscars, incluindo melhor filme e direção, concedido ao cineasta britânico Danny Boyle. Da narrativa fragmentada, não cronológica, ao próprio enredo, que conta a história de meninos de rua marginalizados em Bombaim, na Índia, há vários pontos em comum com Cidade de Deus.

Mas os dois longas também se aproximam pelo viés estético, no uso de movimentos de câmera vertiginosos, na alternância de tons saturados e cores mais frias, e até escuras, estabelecendo atmosferas distintas, e, também, na montagem que por vezes imprime um ritmo frenético à história contada por Boyle.

Não pode ser esquecido, tampouco, o uso de atores mirins não profissionais, opção também compartilhada pelo diretor de Gomorra (2008), o italiano Matteo Garrone, para quem Cidade de Deus é uma referência assumida. O filme, adaptação para a tela do polêmico livro homônimo de Roberto Saviano, entrecruza a história de cinco personagens, cujas vidas são profundamente afetadas pelas ações do crime organizado na região de Nápoles, dominado pela Comorra, a máfia local.

Consagração

Confira alguns dos prêmios e indicações a prêmios importantes que Cidade de Deus recebeu:

• Brasil

Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: Vencedor nas categorias de melhor filme, direção (Fernando Meirelles), fotografia (César Charlone), edição (Daniel Rezende), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani) e som.

Associação Paulista dos Críticos de Arte: Vencedor do Grande Prêmio da Crítica, concedido ao elenco do filme.

• Canadá

Associações de Críticos: O filme recebeu o prêmio de melhor filme estrangeiro das associações dos críticos de Toronto e Vancouver.

• Estados Unidos

Oscar: Indicações nas categorias de melhor direção (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e edição (Daniel Rezende).

Globo de Ouro: Indicado a melhor filme estrangeiro.

Associações de críticos: O filme recebeu o prêmio de melhor filme estrangeiro das associações dos críticos de Nova York, Ohio Central, Chicago, Dallas-Fort Worth, Las Vegas, National Board of Review (Top 5), Críticos On-line, Phoenix e do Sudoeste dos EUA.

• Reino Unido

Bafta: Vencedor do prêmio de melhor edição (Daniel Rezende) e indicado na categoria de melhor filme estrangeiro.

British Independent Film Awards: Vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro.

Sindicato dos Diretores da Grã-Bretanha: Indicado a melhor direção.

Fonte: Internet Movie Data Base (imdb.com)

Nenhum filme brasileiro causou um impacto tão profundo nos primeiros anos do século 21 quanto Cidade de Deus. Lançado nos cinemas em 30 de agosto de 2002, em poucas semanas o longa-metragem de Fernando Meirelles bateu o recorde de público da chamada "retomada" do nosso cinema, iniciada em meados dos anos 1990. Mais de 3,5 milhões de pessoas viram o filme na tela grande.

VÍDEO: Assista ao clipe promocional de Cidade de Deus – 10 Anos Depois

Mais até do que o êxito de bilheteria – superado desde então por meia dúzia de produções da Globo Filmes –, o que tornou Cidade de Deus um fenômeno único foi sua tremenda repercussão social, cultural e política.

A recepção da crítica foi dividida e acalorada. Criou-se quase um "fla-flu" em torno do caso. Para os entusiastas, era a primeira vez que se falava da violência na favela "a partir de dentro", uma vez que o autor do livro que inspirou o filme, Paulo Lins, tinha sido morador da Cidade de Deus e se baseara em personagens e situações reais. Além disso, a maior parte dos atores provinha da própria comunidade ou de outras semelhantes, graças a um trabalho de recrutamento e oficinas junto a grupos como o Nós do Morro.

Assim, o filme romperia com a tendência de retratar a favela de modo paternalista ou populista, a partir do ponto de vista da classe média branca intelectualizada.

Reação virulenta

Mas a reação contrária foi igualmente apaixonada e veemente. Para a crítica e professora de cinema Ivana Bentes, o filme se enquadrava no que ela chamou de "cosmética da fome", ao glamourizar a miséria e enquadrar sua abordagem nos parâmetros do cinema de ação hollywoodiano. Para a antropóloga Alba Zaluar (que servira de consultora para a escrita do romance de Lins), a proporção de negros e brancos na favela aparecia distorcida na tela, como se a Cidade de Deus fosse um gueto negro nos moldes dos norte-americanos.

O rapper e ativista MV Bill acusou o filme de trazer um estigma aos moradores do bairro, identificado como lugar de crime e gente violenta. Até as dificuldades de arranjar emprego teriam aumentado depois de Cidade de Deus.

Passados dez anos, assentada a poeira dos debates, o que ficou de Cidade de Deus? Qual foi seu efeito duradouro para o cinema, para a comunidade retratada, para o país?

Do ponto de vista cinematográfico, é inegável sua contribuição para a elevação da qualidade técnica, para o aprimoramento de uma dramaturgia realista e para o desenvolvimento, entre nós, de uma narrativa moderna de cinema de ação. Não foi por acaso que o filme foi indicado ao Oscar em quatro categorias (direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem) e abriu as portas de uma carreira internacional para Fernando Meirelles.

Influência e subprodutos

Na esteira do sucesso de Cidade de Deus vieram uma série de tevê e outro filme, ambos chamados Cidade dos Homens, sem contar os inúmeros curtas, longas e documentários sobre violência na favela influenciados direta ou indiretamente por ele.

O próprio fato de abrir, no habitualmente elitista meio cinematográfico, uma brecha para atores, consultores e técnicos da comunidade foi decisivo para que, anos depois, surgisse um filme como a produção coletiva 5x Favela – Agora por Nós Mesmos.

As circunstâncias de produção do filme de Meirelles e o destino posterior de vários de seus participantes são tema do documentário Cidade de Deus – 10 Anos Depois (leia mais na página 4), que está sendo finalizado pelo produtor Cavi Borges e pelo cineasta Luciano Vidigal, que dirigiu também um dos episódios de 5x Favela.

E para o bairro Cidade de Deus, afinal, houve mais benefícios ou danos? No entender do escritor Paulo Lins, que falou com exclusividade à Gazeta do Povo, "o filme só trouxe coisa boa". Ele elenca as conquistas: "Foram feitos vários investimentos na cultura, no esporte, no lazer. Apareceram novos artistas, a imprensa se voltou para os problemas que acontecem lá e, por último, a visita do presidente Obama trouxe mais visibilidade para o bairro".

Para o próprio Paulo Lins, como escritor e como indivíduo, Cidade de Deus também deixou sua marca. O sucesso do livro (150 mil exemplares vendidos, sem contar as traduções para uma porção de línguas), em grande parte alavancado pelo filme, desconcertou o autor ao ponto de lhe causar um grave bloqueio criativo, do qual ele só saiu agora, com a publicação de seu segundo romance, Desde Que o Samba É Samba (Editora Planeta).

O escritor considera o filme uma boa adaptação de seu livro, com um senão: "Só não gosto da construção do personagem Dadinho/Zé Pequeno, que é o vilão, o personagem do mal. É aquele sujeito que nasce ruim e vai se dar mal no final para o mocinho sair vitorioso, quando na verdade todos os personagens são vítimas de um país racista, desigual e corrupto".

Sua outra queixa é financeira: "Muita gente acha que eu fiquei rico com o filme, mas vendi os direitos por R$ 80 mil e tinha 5% do lucro da produção, mas até agora não vi a cor desse dinheiro".

CADERNO G | 8:21

Atores que participaram do filme contam o que aconteceu com eles depois do longa

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