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| Foto: ETHAN MILLERAFP

O filme "The Day the Clown Cried" é considerado o Santo Graal dos cinéfilos, uma lenda que poucos viram e muitos tentam encontrar sem sucesso. O projeto protagonizado, escrito, dirigido e, involuntariamente, produzido por Jerry Lewis, em 1972, foi colocado na geladeira pelo próprio comediante. "Tenho vergonha desse trabalho. É pobre", disse Lewis, durante um evento, em 2013, no Silent Movie Theatre, em Los Angeles, quando questionado sobre as razões de ter cancelado o lançamento do longa.

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O roteiro escrito originalmente por Joan O'Brien e Charles Denton foi oferecido para Lewis em 1971 pelo produtor Nat Wachsberger, que bancaria o projeto inteiramente. A ideia era que o comediante dirigisse e protagonizasse a trama passada durante a Segunda Guerra Mundial sobre um palhaço famoso que é enviado para um campo de concentração ao ser flagrado ridicularizando Adolf Hitler. Em Auschwitz, ele nota a tristeza das crianças judias e termina -depois de ser ameaçado pelos nazistas- fazendo números cômicos ao acompanhá-las para a câmara de gás.

Lewis, inicialmente, rejeitou o filme, como revelou em sua autobiografia de 1983. "Por que o senhor não tenta contratar Sir Laurence Olivier", disse o comediante. Ele mudou de opinião depois de reler o roteiro, acreditando que poderia -como um artista judeu- melhorar uma ideia que parecia de extremo mau gosto. Reescreveu a trama para deixar o palhaço mais palatável, visitou as instalações de campos de concentração na Europa e emagreceu 15 quilos para viver Helmut Doork.

Antes mesmo das filmagens iniciarem, o produtor perdeu os direitos sobre o roteiro ao não enviar para O'Brien a segunda parcela do pagamento. Com uma briga de bastidores, Jerry Lewis acabou pagando do próprio bolso um valor em torno de US$ 2 milhões para finalizar as filmagens na Suécia e terminou levando uma cópia dos negativos que estava em posse do Europa Studios.

Apesar de ter dito que o longa veria distribuição nos Estados Unidos e uma première no festival de Cannes, em 1973, Lewis nunca finalizou "The Day the Clown Cried" e disse que "ninguém nunca veria o filme". O comediante podia ter vários defeitos (egocentrismo e grosseria sendo os mais famosos), mas passava longe de ser burro. Notou que havia feito um filme que seria massacrado por propor a redenção de um Flautista de Hamelin que leva crianças para a morte.

O projeto foi engavetado e só voltou a ser comentado em 1992, quando a revista "Spy" publicou um artigo sobre o projeto com aspas do também comediante Harry Shearer ("Isto é Spinal Tap"). "É como uma pintura utilizando a tela negra de Auschwitz", confessou Shearer.

"O filme é tão drasticamente errado, suas intenções e sua comédia são insanamente deslocadas."

Com o sucesso de "A Vida é Bela" (1998), que rendeu o Oscar de melhor ator a Roberto Benigni e possui uma trama semelhante ao projeto de Lewis, "The Day the Clown Cried" voltou às conversas. "Jerry Lewis chegou antes", escreveu Owen Gleiberman, crítico-chefe da revista "Variety". "Ele inventou o que acontece quando você funde Hollywood com Holocausto -e cria o Hollycausto."

Trechos do longa caíram na Internet, ano passado, e uma antiga entrevista de Lewis para uma TV alemã também reapareceu. Mas a vergonha do autor do seu filme proibido continuou forte. "Vocês nunca assistirão a esse filme. É um trabalho ruim", confirmou Jerry Lewis, durante uma coletiva no Festival de Cannes de 2013.

Com a morte de Lewis, "The Day the Clown Cried" talvez deixe de ser uma lenda cinéfila. Mas deve demorar. O primeiro passo foi dado em 2014, quando o comediante doou uma cópia para a Biblioteca do Congresso Americano. Sua única exigência? Que o acesso do público só fosse liberado em 2024.

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