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Números e posições nos rankings |
Números e posições nos rankings| Foto:

Bradesco e BB devem ir às compras para seguir no jogo

O surpreendente anúncio da fusão de Itaú e Unibanco foi um golpe para o Bradesco, que até então sustentava, com folga, o título de maior banco privado do país. Agora, com um valor de ativos R$ 112 bilhões menor em comparação com a nova holding financeira, a instituição terá de acelerar um programa de aquisições para não ficar para trás, afirmam especialistas do setor bancário.

Há inclusive uma lista de possíveis bancos que poderiam ser comprados pelo Bradesco. Um deles é o Banco Votorantim (BV), forte na concessão de crédito consignado e financiamento de veículos, destaca o analista da Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu.

Já o Banco do Brasil (BB) deve acelerar a compra da Nossa Caixa, Banco de Brasília (BRB) e Banco do Estado do Piauí (BEP) com a fusão do Itaú e Unibanco.

Governo

De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a fusão entre Itaú e Unibanco deve fortalecer o sistema financeiro nacional e evitar problemas na liberação de crédito no país. Após participar de reunião do Palácio do Planalto, o ministro comentou o negócio que formará o maior banco do país. "É importante, pois solidifica os dois bancos. É normal que, em um momento de turbulência, de problemas internacionais do setor financeiro, você tenha um movimento de fusões. São dois bancos tradicionais, dois bancos sólidos, que têm uma atuação importante para a atividade econômica’’, afirmou Mantega.

Agência Estado

A fusão do Itaú com o Unibanco, anunciada ontem, tem um objetivo bastante claro: o agora maior banco do Hemisfério Sul e nono maior das Américas quer ultrapassar os limites do território brasileiro para ganhar projeção internacional. Segundo o presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, a primeira meta definida entre os dois grupos quando começaram as negociações para a operação, em agosto do ano passado, foi que a nova instituição possa ser considerada um competidor global no mercado financeiro. A previsão é que o novo grupo possa se tornar multinacional em um prazo de cinco anos.

No entendimento de analistas, ao se transformar no maior banco do Hemisfério Sul – com ativos de R$ 575,1 bilhões – o novo grupo passa a ter tamanho suficiente para expandir suas operações também para fora do Brasil. "O Itaú ganha massa crítica para apostar em aquisições fora do país", diz Jason Freitas, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica. De acordo com ele, os ativos, principalmente nos Estados Unidos, estão baratos por conta da crise financeira, o que pode ser uma oportunidade para compras.

A única questão, ressalta, é que no momento há um risco alto em se comprar ativos nos EUA, porque não se sabe até onde vão os estragos provocados pela explosão da bolha imobiliária. "Um indicativo de que os ativos podem não ser tão atrativos como parecem é que não houve nenhum movimento de compra por parte de grupos japoneses, chineses e árabes nos EUA. Será preciso olhar com cuidado para as ofertas", afirma.

No mercado brasileiro, a fusão foi recebida como uma prova da solidez do sistema bancário nacional. Ambos os bancos anteciparam a divulgação dos seus resultados do terceiro trimestre para evitar que pairassem dúvidas sobre a saúde financeira das instituições. "Caso contrário, o mercado poderia entender que o negócio foi realizado porque algum dos dois estava em dificuldades em função da crise", diz Freitas. As conversas entre as duas instituições, que duraram 15 meses, foram iniciadas antes da piora do cenário mundial, mas para a maior parte dos analistas as turbulências internacionais anteciparam o fechamento do negócio. "Sem dúvida, os bancos devem ter adiantado a conclusão", diz Freitas.

Para o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcio Cruz, a fusão fortalece os dois bancos, que ganham em escala e redução de custos. A concentração de mercado, no entanto, nem sempre é um bom negócio para o cliente. Quanto mais concentrado é o mercado, mais altas são as taxas e os spreads (lucros) dos bancos. Mas Cruz ressalta que esse cenário vai depender também da reação dos concorrentes. "Para manter ou ganhar mercado, os demais bancos podem buscar estratégias mais agressivas, como redução de taxas. No longo prazo, no entanto, a concentração tende a resultar em maior dificuldade para baixar juros" diz.

A fusão deve fazer com que outras instituições que operam no país, principalmente o Bradesco, corram atrás de novas aquisições para se equipararem à nova instituição. Nos últimos anos, o Bradesco vem acompanhando as incorporações do rival e agora não deve ser diferente. O banco paulista passa a ficar em uma posição vulnerável não apenas em função da distância em relação ao Itaú, mas também pela ameaça do espanhol Santander, que comprou o Real e tem planos de crescimento para o Brasil. "A situação do Bradesco é a mais complexa, porque não há mais no mercado tantas oportunidades que possam criar uma fusão de impacto no setor como a que vimos hoje (ontem)", afirma Freitas.

O banco resultante da fusão entre o Itaú e o Unibanco dispara em primeiro lugar no ranking das instituições financeiras privadas, conforme levantamento da Austin Ratings. O Bradesco fica em segundo lugar, com ativos totais de R$ 422,7 bilhões, o que significa uma diferença de R$ 152,4 bilhões para o novo líder. O terceiro colocado, com R$ 301,7 bilhões é o Santander, já incorporando o Real. Juntas, as três instituições somam ativos consolidados de R$ 1,299 trilhão.

Para o presidente do Itaú, Roberto Setubal, uma nova onda de aquisições é um movimento natural dentro do processo de consolidação vivido pelo setor financeiro. De acordo com o executivo, futuramente o Brasil terá apenas cinco ou seis bancos muito fortes disputando o mercado.

Ele e Moreira Salles, do Unibanco, também frisaram que, por ora, nada muda para correntistas e funcionários. "Não haverá planos de demissão", disse Setubal. A primeira alteração, para os clientes, deve ser a integração da rede de caixas eletrônicos, que não tem data para começar.

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