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Eleições nos EUA

Após ter ignorado Trump e errado feio, mercado pena para absorver consequências da eleição

 | DANIEL LEAL-OLIVAS/AFP

O mercado financeiro mundial acordou de ressaca nesta quarta-feira (9) com a vitória do republicano Donald Trump nas eleições americanas. À medida que a ascensão de Trump à presidência dos Estados Unidos foi se confirmando, já na madrugada, as bolsas mundiais despencaram antes mesmo do início dos pregões. Nesta manhã, o cenário é de extrema volatilidade, com o dólar disparando.

Segundo Adeodato Volpi Netto, analista de economia e mercado de capitais da Eleven Financial, será preciso esperar pelo menos mais uma semana, até a poeira baixar, para ter uma noção real do comportamento do mercado em relação à nova realidade. O tom mais ameno e conciliador do discurso de Trump após a confirmação da vitória é um sinal de que tê-lo na presidência pode não ser o desastre que o mercado previa, contudo, ainda é muito cedo e incerto para falar – e o mercado odeia incertezas.

“A imprevisibilidade de Trump assusta o mercado financeiro. O personagem que ele criou era tão extremo e tão inviável que o mercado o tratou como uma probabilidade totalmente irreal. Agora, terá de lidar com o Trump presidente do maior PIB do mundo”, afirma Volpi Netto.

Nos últimos meses, o mercado financeiro não levou Trump a sério e ignorou qualquer chance, por menor que fosse, de ele comandar a Casa Branca. A vitória de Hillary Clinton já havia sido precificada e era dada como certa até a semana passada, quando as pesquisas indicaram um avanço de Trump, levando pânico às bolsas. Agora, diante da vitória do republicano, bolsas e investidores de todo o mundo estão em polvorosa, sem saber ao certo como agir e o que esperar.

O fantasma do protecionismo

Embora tenha sido eleito pelo partido Republicano, que ideologicamente defende o livre comércio e se opõe fortemente a medidas protecionistas, Trump fez propostas amplas, agressivas e até populistas durante sua campanha.

Ele chegou a sugerir que poderia renegociar tratados de comércio exterior firmados pelos EUA para preservar empregos e reduzir o déficit de transações do país. O mercado não vê com bons olhos essas medidas porque entende que elas poderiam levar o país a uma nova recessão.

Na prática, contudo, “Trump está para os EUA em 2016, como Lula estava para o Brasil em 2002. Apesar do medo do mercado, Palocci assumiu falando em responsabilidade fiscal e superávit nominal”, lembra Volpi Netto.

De acordo com analista da Eleven Financial, o mercado tem voz política a partir dos seus movimentos de fluxo de recursos. Neste caso, em específico, ele deu o seu recado, deixando claro que preferia a previsibilidade da agenda econômica de Hillary, mas errou feio.

Esse, aliás, foi um dos três momentos em que os mercados mundiais fizeram análises equivocadas em 2016, relembra Volpi Netto. O primeiro caso foi no início deste ano, quando acharam que a China fosse quebrar, e depois, com o Brexit, quando apostaram na permanência do Reino Unido na União Europeia.

Dia seguinte

De agora em diante, alguns analistas acreditam que vai haver a desconstrução do personagem de campanha encenado por Trump e isso tende a acomodar o mercado com o passar dos dias. Até lá, deve predominar um cenário de grande incerteza no curto prazo marcado por grande volatilidade nos mercados financeiros, com a fuga de investimentos para ativos mais seguros, como o dólar, avaliam especialistas.

“Mas é fundamental que se compreenda que o que for registrado nas bolsas hoje, amanhã e depois não deve ser considerado uma tendência de mercado por conta do Trump. Os maiores investidores e alocadores de recursos ganham dinheiro justamente em cenários como esse, de extrema volatilidade. Passado esse momento de comoção, as coisas tendem a se acalmar dentro da nova realidade e o mercado vai aprender muito rapidamente como ganhar dinheiro nesse novo cenário, pode apostar”, diz o analista da Eleven Financial.

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