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Alex Silva Sousa em sua pousada, agora vazia: esperança de novas obras na Repar | .Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Alex Silva Sousa em sua pousada, agora vazia: esperança de novas obras na Repar| Foto: .Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

PIB

Maior parte da riqueza não fica na cidade

Dona do maior PIB per capita (R$ 94.966) do estado e segunda colocada no PIB total, atrás de Curitiba, Araucária tem a economia alavancada pela Repar. De acordo com a Secretaria de Planejamento do município, a refinaria responde por 67% do valor adicionado da indústria do município. Esses recursos, no entanto, são repassados ao estado; apenas parte deles retorna ao município.

Por isso, grande parte da riqueza gerada pela refinaria não se traduz em investimentos e melhorias para a população. "É inegável que a Repar trouxe inúmeros benefícios para Araucária, mas é um empreendimento que traz mais retorno para a economia paranaense que para a economia do município, onde o efeito multiplicador dos lucros é dado mais pela injeção, no setor de comércio e serviços, dos rendimentos dos funcionários e pela movimentação da cadeia produtiva local", afirma Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Ipardes.

No âmbito estadual, a refinaria é responsável por um quarto do PIB industrial do Paraná e por 7% do PIB total do estado, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Aposta

Empresário espera por novas obras para recuperar investimento

De olho nas oportunidades de negócio trazidas pelas obras na Repar, iniciadas em 2007, Alex Silva de Sousa abandonou a estabilidade do emprego de funcionário público e investiu em uma pousada para alojar trabalhadores vindos de outras cidades. Com 105 dormitórios, o espaço foi inaugurado em 2009, depois de receber todas as adequações solicitadas pela Petrobras.

"No início de maio terminou o último contrato e, desde então, a pousada está vazia", diz. Apesar disso, Sousa acaba de inaugurar uma nova pousada, com capacidade para 44 pessoas. "Estou apostando em novas ampliações na planta da Repar para atender à demanda do pré-sal. Quero estar preparado e totalmente adequado quando novas obras vierem", diz ele sobre o investimento. Por enquanto, não há sinal de que a Petrobras voltará a investir tão cedo na Repar.

Sousa diz que até agora recuperou só 20% do investimento de R$ 500 mil que fez nos dois imóveis, mas acredita estar em vantagem diante de "aventureiros que investiram alto e não conseguiram o retorno esperado".

Após experimentar um período de grande crescimento, impulsionado pelo investimento de cerca de R$ 10 bilhões na ampliação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), Araucária vive agora um momento de desaceleração em alguns setores da economia com a proximidade do fim das obras.

Além do comércio e do setor de serviços, que se reestruturaram para receber milhares de trabalhadores vindos de outras cidades, o impacto do "esvaziamento" é sentido com mais força na arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS) e no emprego formal, cujo saldo entre contratações e demissões está negativo desde o ano passado.

No auge das obras, em 2010, a Repar mobilizou, simultaneamente, 22 mil trabalhadores. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o maior número de contratações em Araucária foi registrado justamente naquele ano, quando foram abertos 7.755 postos de trabalho, 4.778 só na construção civil. Em 2011, no entanto, Araucária fechou o ano com o saldo de contratações e demissões negativo, com 442 vagas fechadas, passando da posição da quarta cidade que mais contratou em 2010, para a terceira que mais demitiu.

Dados do Caged atualizados até maio deste ano mostram que o número de demissões continua superando as contratações – o mercado formal perdeu 1.196 postos em cinco meses –, principalmente em razão das demissões na construção civil e no setor de serviços, que refletem o fim das obras na refinaria.

Para Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a mão de obra local dispensada pela Repar deve ser absorvida por outras obras de infraestrutura no estado e pela própria construção civil. "O número de pessoas que ficarão desempregadas é pequeno, sobretudo porque o mercado de trabalho em Curitiba e na região metropolitana continua bastante aquecido", avalia.

Arrecadação cai

Segundo a Secretaria de Planejamento de Araucária, durante o auge das obras a arrecadação de ISS do município praticamente triplicou, atingindo a marca de R$ 100 milhões em 2010 e R$ 107 milhões em 2011. "Em 2012 devemos chegar a R$ 50 milhões, no máximo, e a tendência é que a arrecadação caia gradativamente para R$ 35 milhões, volume obtido no período anterior às obras", projeta Leonardo Brusamolin Junior, secretário de Planejamento do município.

Um dos setores que mais sofre com o fim das obras e a dispersão dos trabalhadores da Repar é o de serviços, especialmente pousadas e hotéis de pequeno porte. Segundo Arlindo, proprietário da Imobiliária Odppis, de Araucária, empreendimentos com esse perfil foram os mais procurados para alojar os trabalhadores que vieram de outras cidades, mas agora enfrentam o problema da falta de hóspedes.

Serviços de alimentação e o comércio em geral também registraram redução nas atividades. "Quem investiu tardiamente e sem nenhum planejamento, de olho apenas no contingente de trabalhadores das obras da Repar, agora terá dificuldades para viabilizar o negócio", afirma Brusamolin Junior.

Entre 2010 e 2011, o aluguel de um imóvel com potencial para virar pousada, por exemplo, saltou de R$ 1,5 mil para R$ 3 mil. "A supervalorização no preço dos imóveis maiores acabou elevando também o valor dos demais, mas a queda na demanda já provocou o recuo dos preços, que estão novamente compatíveis com o mercado do município", diz o secretário. O segmento de compra e venda de imóveis não sofreu influência das obras na refinaria.

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