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“O progresso até agora no combate à inflação precisa ser equilibrado diante de riscos mais recentes que ameaçam nosso objetivo central”, disse Luiz Awazu em discurso feito no Rio de Janeiro | Antonio Cruz/Agencia Brasil
“O progresso até agora no combate à inflação precisa ser equilibrado diante de riscos mais recentes que ameaçam nosso objetivo central”, disse Luiz Awazu em discurso feito no Rio de Janeiro| Foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil

Novos riscos inflacionários surgiram no Brasil e é primordial que o Banco Central continue vigilante para levar a inflação ao centro da meta no fim de 2016, afirmou nesta sexta-feira (24) o diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, sinalizando juros mais altos no momento em que os mercados temem enfraquecimento da austeridade fiscal.

“O progresso até agora no combate à inflação precisa ser equilibrado diante de riscos mais recentes que ameaçam nosso objetivo central”, disse ele em discurso feito no Rio de Janeiro e divulgado no site do BC. “Portanto, devemos permanecer cautelosos nessa conjuntura particular”.

Awazu afirmou ainda que é “primordial ser vigilante para garantir que a política monetária reflita o balanço de riscos do momento e permaneça adequadamente calibrada para atingir nossos objetivos”, em referência ao objetivo da autoridade monetária de ver a inflação no centro da meta de 4,5% ao fim do ano que vem.

As declarações do diretor foram dadas dois dias depois de o governo assustar os mercados com a dramática redução das metas de superávit primário para 2015, 2016 e 2017, diante da contínua queda das receitas.

Muitos observadores do mercado interpretaram os cortes das metas fiscais como uma admissão de que o governo não será capaz de ajudar o BC a aliviar as pressões inflacionárias à frente.

Awazu não especificou as novas variáveis em jogo, se limitando a assinalar que “desenvolvimentos recentes mostram que há novos riscos para o resultado da inflação para 2016 que podem afetar horizontes de mais longo prazo”.

Selic

Os contratos de juros futuros mais curtos ampliaram a alta após as declarações de Awazu, com operadores mudando as apostas e deixando de ver desaceleração no ritmo da alta da taxa básica de juros Selic na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom), passando a apostar majoritariamente em alta de 0,5 ponto porcentual.

Nelson Barbosa evita comentar declarações de diretor do BC

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, não quis comentar nesta sexta-feira o discurso do diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, afirmando que novos riscos inflacionários surgiram no Brasil e que é primordial que o Banco Central continue vigilante.

“A gente não comenta as declarações do Banco Central”, afirmou ele ao ser questionado sobre as declarações depois de participar de evento em São Paulo.

Barbosa afirmou nesta sexta-feira que a política fiscal continua neutra ou contracionista, mesmo após a redução das metas de superávit primário, mas reconheceu que, no curto prazo, ela pode pressionar a inflação e obrigar uma resposta de política monetária.

Em nota a clientes, o economista Bruno Rovai, do Barclays, apontou que o discurso do diretor do BC dá suporte a uma elevação de 0,5 ponto porcentual, num momento em que grande parte do mercado já apostava suas fichas numa alta mais branda, de 0,25 ponto porcentual, após o BC ter saudado publicamente o avanço da ancoragem das expectativas de inflação para 2016 e 2017.

“Não apenas ele retorna com o emprego da palavra vigilante, que os mercados consideram chave para manutenção do ritmo de aperto, como também dá ênfase adicional a isso ao usar ‘primordial’“, escreveu Rovai, acrescentando que os “recentes desenvolvimentos” mencionados por Awazu são, na visão do Barclays, a mudança nas metas fiscais.

Política fiscal

No último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em junho, o BC reiterou que não se podia descartar migração da política fiscal para a zona de contenção, indicando, na prática, que a geração de superávit primário pelo governo voltaria a ajudá-lo na tarefa de combater a inflação.

Até aí, entretanto, o BC ainda considerava as premissas fiscais antigas, de uma economia para pagamento de juros da dívida pública de R$ 66,3 bilhões em 2015, ou 1,1% do PIB, e de 2% do PIB em 2016 e 2017.

‘A redução da meta não é para se gastar mais’, diz Barbosa

Um dia depois do anúncio da revisão da meta fiscal que gerou dúvidas sobre divisão na equipe econômica, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que está unido com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em busca do reequilíbrio das contas públicas o mais rápido possível.

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Nesta semana, o governo alterou sensivelmente seus alvos para perseguir um superávit primário de 0,15% do PIB em 2015, deixando a porta aberta para um déficit no ano caso algumas receitas extras não sejam atingidas. Para 2016, a nova meta é de 0,7% do PIB, indo a 1,3% do PIB em 2017.

Diante da drástica redução, agentes do mercado já apontam que a menor consolidação fiscal dificulta a tarefa do BC de ancorar as expectativas de inflação para 2016 a despeito da galopante alta de preços neste ano, pressionando pela manutenção do ritmo de ajuste na Selic.

“Deve ser muito difícil para BC convencer alguém que a inflação convergirá para a meta sob uma política fiscal muito mais expansionista do que a contemplada no último Relatório de Inflação”, escreveu em nota o economista Alexandre Schwartsman, acrescentando que o discurso de Awazu nesta sexta-feira “na prática enterra as chances de uma alta de 0,25 ponto porcentual na próxima semana”.

Ele prevê alta de 0,5 ponto porcentual na Selic na próxima semana e uma elevação adicional de 0,25 ponto porcentual em setembro, quando projeta o fim do ciclo de aperto.

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