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Desde o início da crise, 2,8 mil perderam o emprego

Fernando Jasper e André Lückman

As cinco principais empresas da indústria automotiva paranaense demitiram cerca de 2,8 mil pessoas desde o último trimestre do ano passado, quando estourou a crise econômica internacional. Todas tiveram de fazer algum tipo de ajuste para adequar a produção à queda da demanda, recorrendo a folgas, férias coletivas, suspensões temporárias dos contratos de trabalho ou dispensas. Mas nenhuma foi tão drástica quanto a Bosch, que mesmo antes da decisão anunciada ontem já havia dispensado cerca de 700 funcionários em Curitiba.

A primeira a promover demissões em massa em razão da crise foi a Volvo, fabricante de ônibus e caminhões instalada em Curitiba. No início de dezembro, a empresa dispensou 430 funcionários. Desde então, a Case New Holland, que produz máquinas agrícolas na capital, promoveu dois cortes, de 350 trabalhadores cada. A Volkswagen, de São José dos Pinhais, mandou embora pelo menos 60 pessoas. A Renault, também de São José, chegou a suspender os contratos de quase mil empregados, mas aos poucos convocou todos eles para voltar ao trabalho. Durante o período, a Bosch chegou a ser acusada pelo SMC, em janeiro, de "implantar o terror" entre os funcionários, supostamente pressionando-os a aceitar reduções de jornada e salários.

Os problemas nas grandes fabricantes se espalharam por toda a cadeia. O Sindicato da Indústria Metal-Mecânica (Sindimetal-PR), que congrega vários fornecedores de montadoras e também da indústria de máquinas e equipamentos, estima que aproximadamente 6 mil empregados de seus filiados perderam o emprego por causa da crise.

Decepção

"Tinha muita gente chorando", disse à Gazeta do Povo um operador de produção demitido ontem pela Bosch. "É muita falta de consideração para quem sempre disse que priorizava a transparência e a comunicação", disse. De acordo com ele, ontem o dia de trabalho foi normal, mas quinze minutos antes do fim do expediente os funcionários foram chamados, em grupos, pelos gestores de cada área para receber a notícia. "Eu, sozinho, contei 25 colegas que conhecia e que foram despedidos comigo. Tinha gente lá com mais de 20 anos de casa. A coisa aconteceu tão rápido e tão de repente que não conseguimos nem nos despedir."

ATENÇÃO: Esta reportagem é de 2009. Clique aqui para ler informações atuais sobre a Bosch, que não tem planos de demissão para 2014 e 2015. A Bosch anunciou ontem a demissão de 900 funcionários da sua fábrica na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Além disso, a companhia decidiu manter os outros 3 mil colaboradores que trabalham na unidade em licença remunerada até o dia 28 de junho. Mesmo após o retorno dos trabalhadores afastados temporariamente, a empresa – produtora de sistemas e componentes tecnológicos para motores a diesel – estará diminuindo sua capacidade produtiva em aproximadamente 25%. A medida deve servir para adequar a produção da Bosch à menor demanda do mercado pelos equipamentos que ela produz. Em geral, os produtos que saem de suas linhas são voltados para veículos comerciais – caminhões e ônibus – que não reagiram à desoneração tributária que beneficiou outros segmentos da indústria automotiva. O fato de 60% de sua produção ser destinada ao mercado externo, travado desde o fim do ano passado, piorou ainda mais o cenário para a companhia. Com todos esses fatores, a Bosch vinha acumulando resultados negativos tanto no mercado interno quanto nas exportações desde o início da crise econômica mundial. De acordo com o vice-presidente de sistemas a diesel, Daniel Korioth, a maior parte da produção da fábrica de Curitiba tinha como destino a Europa e os Estados Unidos, regiões mais atingidas pela recessão global. "Nosso faturamento de 2008 até hoje caiu 40%", disse. As exportações caíram 55% nos primeiros cinco meses do ano, mas no mercado interno a perspectiva também é negativa – os números de produção e vendas de caminhões e ônibus estão 18% inferiores aos do ano passado. "Estamos trabalhando com o panorama de que no curto prazo – até 2010 – esse quadro não se recuperará. Por isso estamos readequando nossa produção às novas realidades do mercado", afirmou Korioth. A decisão de colocar todos os funcionários em licença remunerada até o fim do mês serve para baixar os estoques da fábrica e compensar a queda nos pedidos. O vice-presidente afirmou ainda que a empresa está sendo "enxugada" de forma proporcional, afetando inclusive os cargos executivos – dos quatro antigos diretores, a empresa passa a trabalhar apenas com três. Korioth faz questão de ressaltar que não faz parte dos planos da Bosch fechar as portas da fábrica de Curitiba, a única na América Latina a produzir equipamentos de alta tecnologia. O balanço de maio colocou a matriz alemã em seu pior momento desde a Segunda Guerra Mundial. Reação A notícia das demissões na Bosch pegou de surpresa o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC). O presidente Sérgio Butka afirmou que sempre houve consciência do número de horas ociosas dos funcionários na companhia, mas que a empresa havia se comprometido a não demitir antes de negociar. Segundo ele, o sindicato procurou a empresa no dia 12 de maio para cobrar uma posição a respeito da manutenção de empregos, e três dias depois a diretoria respondeu que não haveria cortes. "Os funcionários estavam desconfortáveis com a situação. Tentamos montar com a empresa um quadro de PDV [programa de demissão voluntária] ou banco de horas, e eles responderam que aguardariam mais sinais da economia internacional antes de tomar qualquer atitude", afirmou Butka. O SMC buscará se defender por dois caminhos – por meio do Ministério Público, para que interfira nos cortes, e também com o pedido de uma liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), tentando suspender judicialmente as demissões e abrir um canal de negociação com a empresa. Uma assembleia com os funcionários está marcada para o dia 29, quando está previsto o retorno das atividades da fábrica. Benefícios O vice-presidente da Bosch disse que não espera reações negativas na empresa, porque diz que desde o começo do ano a companhia era transparente quanto às dificuldades do mercado. Também confirmou que os funcionários demitidos receberão, além dos benefícios previstos em lei, seis meses adicionais de plano de saúde corporativo e o resgate integral dos planos de previdência privada (disponível para funcionários com mais de três anos de casa).

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