• Carregando...

Lá pelo século 18, os estudiosos da Economia a viam muito mais como uma ciência moral do que como algo exato. Hoje, quando se entra nesse assunto geralmente esperam-se cifrões e porcentuais. Os tempos passam, as definições científicas mudam, os costumes se transformam. O ser humano é que continua o mesmo, para o bem ou para o mal.

Há quatro anos, em 8 de dezembro de 2009, publiquei neste mesmo espaço uma coluna com o título "A economia e o Couto". À época, escrevi sob o impacto da pancadaria generalizada que se seguiu ao rebaixamento do Coritiba no Campeonato Brasileiro. Lamento ter de voltar ao tema agora.

À época, observei que, para muitos economistas, o que impede ou enseja a realização de um crime é uma relação risco/retorno: a possibilidade de ser punido versus a satisfação que o criminoso poderia obter de seu ato. A escolha não se dá sempre no nível do pensamento consciente, mas é, certamente, influenciada por um sistema de incentivos. Esse sistema esteve em ação na Arena Joinville.

Podemos ter leis que impeçam entrar nos estádios com garrafas de vidro, fogos de artifício ou outras coisas que podem se transformar em armas – essas são barreiras ao comportamento violento nos estádios. Mas elas parecem ser insuficientes para anular um poderoso incentivo ao hooliganismo: a impunidade. No Brasil, sua presença é transversal: vai dos crimes cometidos por deputados bêbados ao volante à falta de investigação para os homicídios da periferia, conforme relatou a série de reportagens "Crime sem castigo", publicada aqui na Gazeta há alguns meses.

Há 250 anos, o italiano Cesare Beccaria já escrevia que "a certeza de uma punição pequena causará impressão mais forte do que o medo de uma mais severa, se acompanhado da esperança de escapar; porque é da natureza humana aterrorizar-se com a proximidade de um mal inevitável, enquanto que a esperança – o melhor presente dos céus – tem o poder de dissipar a apreensão por um mal maior, especialmente se apoiada por exemplos de impunidade". Barbaridades como as do domingo só ocorrem quando há a certeza de que não haverá consequência.

Subir o preço do ingresso não é garantia alguma de segurança nos estádios. Segundo o IBGE, entre janeiro de 2007 e dezembro de 2011 o preço dos ingressos para jogos subiu 250% em Curitiba – quase quatro vezes a média nacional, que foi de 66,9%, e seis vezes a inflação no período, medida pelo IPCA (a partir de 2012, o IBGE deixou de acompanhar o preço dos ingressos na capital paranaense). O efeito sobre a violência foi nulo.

Incentivos podem ser econômicos, sociais ou morais. Por enquanto, o único incentivo em ação é negativo: gente boa, que não quer saber de briga, está deixando de ir aos estádios. Muitos não querem nem saber de futebol. Quem poderá condená-los?

Arenas?

Até este fim de semana eu não entendia muito bem a moda de rebatizar estádios de "arenas". Dos 12 locais de jogos da Copa do Mundo do ano que vem, por exemplo, seis são "arenas" – a Baixada; a Arena Pantanal, de Cuiabá; a Arena Amazônia, de Manaus; a Arena Pernambuco, de Recife; a Arena Fonte Nova, de Salvador; e a Arena de São Paulo, nome "padrão Fifa" do Itaquerão, de São Paulo. Segundo os dicionários, arenas são locais de contenda, lutas ou discussão. O nome, aliás, vem dos antigos circos romanos, onde se davam os combates de gladiadores. Era hábito espalhar areia (em latim, arena) no chão, para absorver o sangue derramado.

Escreva!

Mande seu comentário ou dúvida para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]